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Sem dividendos da Petrobras (PETR4), vale investir nas concorrentes?

Analistas até recomendam compra para outras petroleiras, mas o propósito é outro

Sem dividendos da Petrobras (PETR4), vale investir nas concorrentes?
Foto: Wilton Junior/Estadão
O que este conteúdo fez por você?
  • A Petrobras decepcionou o mercado após não fazer o pagamento de dividendos extraordinários
  • A petroleira deixou de ser a preferida de analistas para lucrar com dividendos após essa modificação
  • Outras empresas do setor petroleiro são queridas pelos analistas, mas para crescimento do valor da ação e não para dividendos

A Petrobras (PETR4) divulgou o balanço do seu quarto trimestre de 2023 com um lucro líquido de R$ 31,04 bilhões, uma queda de 28,4% na comparação com o mesmo período de 2022. Mas as atenções do mercado estavam mais voltadas para os dividendos que a empresa iria pagar aos acionistas. A estatal já havia chamado a atenção do mercado na semana passada após o CEO da companhia, Jean Paul Prates, afirmar que “seria necessário a Petrobras ser cautelosa com dividendos extraordinários”. Ele disse ainda que “os acionistas vão entender”.

As falas repercutiram negativamente entre os investidores, com as ações da empresa recuando 5,16% no dia 28 de fevereiro. Mesmo com os sinais do CEO de que os dividendos não seriam tão polpudos, os analistas da XP esperavam um pagamento de US$ 3,9 bilhões em dividendos mínimos, mais um depósito de US$ 5,5 bilhões em dividendos extraordinários, totalizando US$ 9,4 bilhões em proventos.

No entanto, não foi isso que aconteceu. A Petrobras anunciou o pagamento de US$ 2,9 bilhões, cerca de 2,7% de yield. Em reais, a quantia aprovada foi de R$ 14,2 bilhões. O montante representa o pagamento mínimo de dividendos estipulados pela empresa. Em comunicado enviado ao mercado, a companhia disse que a distribuição está alinhada à Política de Remuneração aos Acionistas, aprovada em 28 de julho de 2023. “Em caso de endividamento bruto igual ou inferior a US$ 65 bilhões, a Petrobras deverá distribuir aos seus acionistas 45% do fluxo de caixa livre”, informou. A decisão final sobre os valores será tomada durante a próxima Assembleia Geral Ordinária (AGO) com todos os acionista da empresa, prevista para ocorrer em 25 de abril. Vale lembrar que o governo Lula detém a maioria das ações votantes.

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A notícia foi muito mal recebida no mercado financeiro. As ações da Petrobras cotadas em Nova York, conhecidas como American Depositary Deceipt (ADR), recuavam 11,69% na pré-abertura desta sexta-feira (8). Os ativos eram negociados a US$ 16,68.

Para a XP Investimentos, a reação negativa é natural, visto que os investidores estão repensando a visão sobre investir na companhia em busca de dividendos por causa dos riscos que a Petrobras passou a apresentar. Por isso, o investidor deve avaliar se há outras oportunidades dentro do setor para quem busca bons dividendos. A resposta não é simples e, segundo analistas, o investidor precisa olhar para o balanço de outras duas empresas petroleiras, como a PetroReconcavo (RECV3) e a 3R Petroleum (RRRP3). Os números dessas duas companhias também saíram nesta semana.

PetroReconcavo pode ser uma alternativa?

O balanço da PetroReconcavo (RECV3) foi divulgado na última quarta-feira (6). A petroleira reportou um lucro líquido de R$ 186,7 milhões no quarto trimestre de 2023, queda de 54% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Para os analistas do Santander, a empresa entregou um resultado fraco e impactado por um Ebitda de R$ 247 milhões no período de outubro a dezembro de 2023, um número 35% abaixo das expectativas do banco.

Para o banco espanhol, os números não foram bons por causa das restrições no campo Potiguar, que fizeram a produção da empresa ter uma queda de 9% na comparação entre o quarto com o terceiro trimestre. “Isso fez a empresa ter uma elevação de custos em US$ 14 por barril equivalente de petróleo (boe) em sua produção, além de um aumento de despesas relacionadas a venda de petróleo, que também pesou”, afirmaram Rodrigo Almeida e Eduardo Muniz, que assinam o relatório.

Ainda que o resultado não tenha sido tão atrativo, o Santander comenta que o investidor deve ficar atento com a empresa, principalmente por causa da possiblidade de fusão entre a PetroReconcavo e a 3R Petroleum. “A potencial formalização de uma proposta de fusão de ativos entre a 3R Petroleum e a PetroReconcavo pode ser um fator positivo para os acionistas de ambas as empresas, visto que ela pode gerar melhorias operacionais e financeiras ao longo de 2024”, comentaram os analistas do Santander.

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Já os analistas da XP afirmaram que a PetroReconcavo teve outro trimestre difícil com os números abaixo do esperado. Todavia, os especialistas da corretora ainda viram pontos positivos na empresa. “Olhando de um ponto de vista normalizado, considerando que por volta de R$ 170 milhões de Ebitda potencial foram perdidos, e se 100% disso fosse convertido em fluxo de caixa livre, teríamos um rendimento anualizado de fluxo de caixa livre de cerca de 10%, o que é muito bom para o investidor”, detalharam André Vidal, Vladimir Pinto e Helena Kelm, que assinam o relatório da XP.

De modo geral, o consenso dos analistas é que a PetroReconcavo reportou um resultado ruim, mas que isso aconteceu em função das restrições no Rio Grande do Norte. No entanto, quando isso se normalizar a ação pode subir, o que torna o ativo interessante para quem busca lucrar com a valorização do ativo.

A ação da PetroReconcavo tem recomendação de compra pelo BTG, XP e Santander. O BTG tem preço-alvo de R$ 39 para a companhia, uma alta potencial de 88,22% na comparação com o fechamento de quinta-feira (7).

Já a XP calcula que a ação da PetroReconcavo pode encerrar o ano cotada a R$ 26,50, uma alta de 27,9% na comparação com o fechamento de quinta-feira (7). Por fim, o Santander estima que o papel pode chegar R$ 26, crescimento de 25,5%.

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Para quem busca ganhar com dividendos, o papel pode até ser interessante. Segundo o BTG Pactual, a companhia deve pagar cerca de 8% do valor da ação em dividendos ao longo de 2024. Ou seja, se a ação está valendo R$ 20,72, ela deve pagar R$ 1,65 em dividendos nos próximos 12 meses, com base nas estimativas de 8% de DY do BTG.

3R Petroleum pode começar a pagar dividendos

Segundo o CFO da 3R Petroleum (RRRP3), a empresa está querendo distribuir dividendos. O pagamento do valor sobre o lucro ainda é tímido em comparação com a Petrobras. A 3R quer pagar os 25% mínimos exigidos pela legislação. Enquanto isso, a Petrobras paga cerca de 45% do seu lucro em dividendos, um valor muito mais expressivo.

Por isso, a 3R Petroleum é recomendada em caso de ganhos com a ação, visto que em relação aos dividendos a companhia não tem uma grande expressividade ainda. Além disso, os analistas relataram que ganhos com a valorização da ação podem ser bem realistas, principalmente após o resultado da empresa.

Segundo a XP, já era esperado que a empresa tivesse um trimestre fraco por causa da paralisação no Polo Potiguar. Ainda assim, a empresa consegui reverter o prejuízo de R$ 39 milhões do quarto trimestre de 2022 para ter lucro de R$ 407,2 milhões no quarto trimestre de 2023. Essa virada de mesa deixou os analistas da XP animados, os quais comentaram que novas emissões de dívida proporcionaram um alívio para os investidores preocupados com a liquidez da empresa, eliminando uma sobrecarga para as ações.

“Recebemos com satisfação a aceleração do Capex e exploraremos com a empresa quando, visto que isso deverá se traduzir em um aumento da produção e do fluxo de caixa livre”, argumentaram os analistas.

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Mesmo que a empresa não pague dividendos, todas as casas consultadas pela reportagem recomendam compra para o ativo (BTG, XP Santander). A XP calcula um preço-alvo de R$ 56,50 para a 3R Petroleum, uma potencial alta de 108% na comparação com o fechamento de quinta-feira (7), quando o papel encerrou o pregão a R$ 27,10.

Já o Santander estima um preço-alvo de R$ 34, um crescimento de 25,5% em relação ao fechamento de quinta. Enquanto isso, o BTG calcula um preço-alvo de R$ 52, crescimento de 91,9%.

Petrobras é a melhor para dividendos?

Ainda que as duas petroleiras apresentem uma boa margem de crescimento para a ação, a Petrobras ainda é a maior pagadora de dividendos no setor de petróleo. “A Petrobras está muito mais distante em termo de desenvolvimento em relação as demais por já ser uma empresa madura e consolidada”, diz Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital.

Ou seja, manter na Petrobras agora em busca de dividendos vai depender muito do perfil do investidor. “Se a pessoa for vender suas ações em um prazo de 12 meses, o ideal é evitar o risco e as tensões no mercado. Já se o investidor for carregar o papel no prazo de 20 anos esse investimento pode ser atrativo”, afirma.

A XP Investimentos viu outras duas possibilidades. A primeira é se Petrobras decidir fazer uma grande aquisição no curto prazo. “Se isso acontecer, as ações provavelmente cairão ainda mais, devido a uma combinação de má alocação de capital com dividendos mais baixos, já que a fórmula mínima leva em conta a aquisição como Capex”, comentaram André Vidal e Helena Kelm.

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Todavia, na hipótese de que o governo tenha reduzido o pagamento de dividendos com o objetivo de manter um “plano de reserva” para o caso de uma deterioração das contas fiscais, esse dinheiro deve ser distribuído em dividendos em breve. “Esse dinheiro estocado acabará sendo pago de volta aos investidores e as ações poderão apresentar um bom desempenho de retorno total no futuro”, argumentaram Vidal e Kelm.

Por outro lado, Flávio Conde, analista da Levante, reforça que mudança realmente foi um choque e que os analistas estão revendo as suas estimativas após a redução dos dividendos. “A ação perde toda a atratividade que tinha, pois os investidores estavam nela em busca de dividendos”, diz. No entanto, ele não enxerga que 3R Petroleum e PetroReconcavo possam ser substitutas para a Petrobras. “Elas não são alternativas, visto que são empresas juniores, o que o investidor pode esperar delas é crescimento e grandes saltos nas ações, mas dividendos não”, comentou Conde.

Neste momento, a recomendação dos analistas é que o investidor que busca dividendos procure diversificar a carteira com outros setores. Conde sugere migrar para empresas como a Vale e bancos. “Essas empresas também pagam bons dividendos e não apresentam o risco que a Petrobras tem. E vejo os bancos como os mais seguros, visto que eles não enfrentam forte volatilidade mostra pelas empresas de commodities, como a Vale”, diz.

* A matéria foi atualizada com uma correção: Os dividendos aprovados pela Petrobras foram de R$ 14,2 bilhões, e não R$ 14,5 bilhões, como constava anteriormente.

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