O relatório, obtido pelo E-Investidor com exclusividade, leva em conta variáveis econômicas como Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e Produto Interno Bruto (PIB), mas também balança comercial e resultado primário das contas públicas. E uma premissa: nos últimos anos, as projeções de mercado reunidas pelo Boletim Focus erraram a maior parte dos indicadores.
O ano passado ilustra bem este cenário. O primeiro boletim de 2024 projetava IPCA de 3,90%, mas a inflação terminou em 4,91%. A estimativa de dólar era de R$ 5, no entanto, a moeda americana encerrou o ano a R$ 6,19. A Selic chegou a 12,25% ao ano, também acima dos 9% inicialmente esperados.
Os erros das previsões passadas
As três previsões econômicas para 2025 traçadas por Conde são baseadas nas estimativas do Focus, nas projeções do próprio analista e em uma extrapolação para um cenário de crise, situação em que o governo perderia o controle dos gastos públicos:
A diferença entre os cenários possíveis para 2025, na visão de Conde, começa na projeção de inflação. Ele explica que a disparada do dólar na reta final de 2024 ainda não foi repassada nos preços dos produtos, um movimento que deve começar a acontecer neste início de ano, pressionando o IPCA. “A indústria ainda está seguindo esses repasses na inflação que, historicamente, vão de 8% a 10% da variação cambial.”
Se a disparada do dólar em 2025 realmente bater na inflação, o Banco Central (BC) seria obrigado a ir além do patamar já contratado de 14,25% ao ano na Selic para fazer o IPCA convergir à meta – de 3%, com intervalo de tolerância que vai de 1,5% a 4,5%; por isso, a projeção de juros de 16% para 2025. “Os títulos prefixados já estão perto desse patamar”, diz o head da Levante.
A Selic em alta penaliza os resultados das empresas enquanto também elevam o rendimento da renda fixa, fazendo o fluxo de investidores migrar da Bolsa de Valores e o Ibovespa cair.
Dólar a R$ 7: o impacto do problema fiscal do País
O risco fiscal que levou o dólar à máxima histórica em 2024 permanece no radar. Sem um ajuste mais relevante que limite o crescimento dos gastos públicos, os resultados primários prometidos previstos no arcabouço fiscal podem não ser cumpridos. A piora do humor de investidores em 2024 começou quando o Executivo revisou a meta de déficit zero para 0,5% para este ano; e a projeção do Focus vê um resultado negativo em 0,6% do PIB.
O relatório da Levante destaca que os déficits primário e nominal no País aumentaram a dívida bruta do governo de 53,7% para 74,5% do PIB entre 2012 e 2023. E isso pode continuar a crescer nos próximos anos. A projeção para 2025 da Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão vinculado ao Senado Federal, é de que a dívida/PIB alcance 81% já em 2025, podendo ultrapassar 90% em 2027. “Historicamente, as agências de rating de crédito revisam a classificação de países emergentes quando o nível da dívida ultrapassa os 80%. Tudo isso faz pressão no dólar, que sobe pelo risco da dívida”, destaca Conde, que acha que a cotação pode chegar a R$ 7 este ano.
Nesse cenário, a piora da economia aconteceria em efeito cascata. “O dólar elevado puxa tudo para pior; mais inflação, juros para cima, a Bolsa para baixo”, explica o head da Levante. “Toda a discussão de 2025 deve ser em cima do endividamento do País.”
Ibovespa a 100 mil pontos? Entenda para se preparar
As projeções feitas para a Bolsa brasileira ainda indicam certa recuperação. Como mostramos aqui, corretoras veem o Ibovespa superando os 140 mil pontos este ano, apesar dos desafios. Isso significaria uma valorização de pelo menos 16% – muito além dos cenários traçados pela Levante. Mesmo na projeção mais otimista feita pela casa, que leva em conta as expectativas mais atuais do Focus, o IBOV não iria muito além dos atuais 120 mil pontos. Nas mais pessimistas, a Bolsa teria um ano de perdas significativas, abaixo dos 100 mil pontos.
Esse descasamento entre os cenários econômicos brasileiros traçados por Flávio Conde e as projeções que vêm sendo divulgadas ao mercado se deve, segundo ele, a dois fatores principais. Ele argumenta que é raro ver uma corretora cravar uma desvalorização; até mesmo, contraproducente, uma vez que poderia desestimular o aporte de investidores e impactar os negócios. “Gestoras costumam fazer projeções mais realistas, só que não publicam”, afirma.
Mas há um outro ponto: a dominância macro. Um argumento muito comum no mercado é que as ações brasileiras estão baratas, com múltiplos muito descontados para resultados trimestrais que ainda estão fortes. “Se fosse apenas por causa dos resultados das empresas, a Bolsa tinha que estar hoje em 140 mil pontos”, diz Conde. “Na minha opinião, as projeções estão falhando em considerar o impacto que a piora do macro trará. Não adianta falar que o P/L (preço sobre lucro) está baixo, se esse lucro provavelmente não vai ser igual.”
Para além dos desafios fiscais no Brasil, a volta de Donald Trump nos Estados Unidos promete agravar a volatilidade global em um contexto que já conta com conflitos geopolíticos pelo planeta, e desaceleração da economia na China e na Europa. “A boa notícia que poderia acontecer em 2025 é Trump não aumentar o imposto de importação, como prometido. Isso não causaria mais inflação e o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) poderia continuar a cortar os juros por lá”, diz Conde.
Para não depender tanto dos humores do mercado internacional e reverter as projeções negativas para 2025, o Brasil teria uma única saída: fazer o dever de casa em relação ao fiscal, aumentando os esforços no Executivo e no Legislativo para reduzir o ritmo do crescimento de gastos e controlar a trajetória da dívida. E, assim, reconquistar a confiança de investidores. “A chance é essa. Mas eu não vejo tal disposição”, pontua o head da Levante.
Como proteger os investimentos no cenário pessimista de 2025
Desde 2024, o investimento em ações ou em outras classes de ativos da renda variável ganhou um concorrente forte com a volta do 1% ao mês na renda fixa. Com altos retornos em ativos de risco mais baixo, o fluxo de investidores na Bolsa minguou. Afinal, por que apostar no Ibovespa, se as perspectivas ainda estão negativas?
Para Conde, o investimento em ações deve ser feito de forma constante, visando o longo prazo. Por causa disso, ainda que os cenários traçados estejam corretos e a Bolsa brasileira caia mesmo em 2025, o investidor não deve abandonar o ritmo de aportes. “Historicamente, é melhor estar comprado todo mês ao longo de 30 anos do que passar um ano muito comprado, outro, fora. É aí que o investidor acaba perdendo as oportunidades”, diz.
O caminho para 2025, portanto, é escolher ativos defensivos que consigam entregar performances menos negativas no curto prazo e que ainda apresentem boas janelas de ganho no longo prazo. Em um cenário de Ibovespa a 100 mil pontos este ano, o analista montou uma carteira com 12 papéis que seriam mais resilientes devido às características do negócio e saúde da empresa.
São exportadoras, que ganham com a alta do dólar, como BRF (BRFS3) e JBS (JBSS3) entre os frigoríficos; SLC Agrícola (SLCE3), Kleper Weber (KPLE3), BrasilAgro (AGRO3) e 3Tentos (TTEN3) no agronegócio; e Weg (WEGE3), Suzano (SUZB3), Embraer (EMBR3) e Gerdau (GOAU4) no setor industrial. E seguradoras, que se beneficiam dos juros altos, como BB Seguridade (BBSE3) e Caixa Seguridade (CXSE3).