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Depois de um ano difícil, a indústria petrolífera enfrenta futuro complicado

A pandemia arrasou a demanda de combustível no mundo. As companhias de petróleo não são mais tão grandes. O que esperar?

Depois de um ano difícil, a indústria petrolífera enfrenta futuro complicado
(Argus Mordant/ Reuters)
  • Na terça-feira, a Exxon informou a perda de US $ 22,4 bilhões em 2020, em comparação com um lucro de US $ 14,3 bilhões em 2019
  • A BP informou que no ano passado perdeu US $ 5,7 bilhões – seu primeiro prejuízo em dez anos
  • A Conoco Phillips, a maior produtora americana independente, perdeu US $ 2,7 bilhões para o ano
  • Após perderem dezenas de bilhões de dólares, qual o futuro das petrolíferas?

(Clifford Krauss/The New York Times) – As grandes companhias de petróleo não são mais tão grandes. No ano passado, Exxon Mobil, BP e outras grandes companhias perderam ao todo dezenas de bilhões de dólares e postaram o seu pior desempenho dos últimos anos; no caso de algumas delas, das últimas décadas.

A principal culpada é a pandemia. Ela arrasou a demanda de gasolina, diesel e combustível para jatos, enquanto países e estados fechavam e as pessoas ficavam em casa. No entanto, estes anos dolorosos poderão tornar-se mais comuns uma vez que o aumento das preocupações a respeito da mudança climática, de regulamentações mais rigorosas e da ascensão dos automóveis e dos caminhões elétricos obrigam a uma reformulação de um setor que dominou a economia global na maior parte do século passado.

A General Motors aumentou ainda mais o risco para o setor, na semana passada, quando anunciou que pretendia acabar com os motores de combustão interna e vender somente carros elétricos a partir de 2035.

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A indústria petrolífera está experimentando uma lenta transição para um futuro dominado pela energia mais limpa. BP, Royal Dutch Shell, Total e outras companhias europeias estão investindo consideráveis recursos na energia eólica e solar ‘offshore’ reduzindo-os ao mesmo tempo para o petróleo. Mas é improvável que estes investimentos mudem o seu modelo de negócios por muitos anos ainda, quem sabe até dez ou vinte.

As grandes petrolíferas americanas demoraram ainda mais a mudar dos combustíveis fósseis para os limpos, mas elas começam a sentir uma pressão cada vez maior dos investidores para que modifiquem os seus modelos de negócios. A Exxon anunciou esta semana que está investindo US $ 3 bilhões em um novo empreendimento chamado Low Carbon Solutions, que inicialmente se concentrará na captura do carbono e em projetos de sequestro.

Na terça-feira, a Exxon informou a perda de US $ 22,4 bilhões em 2020, em comparação com um lucro de US $ 14,3 bilhões em 2019. Grande parte do prejuízo foi uma decorrência da depreciação de ativos, incluindo operações de gás natural que a companhia adquiriu quando os preços da energia eram muito mais altos.

E a BP informou que no ano passado perdeu US $ 5,7 bilhões – seu primeiro prejuízo em dez anos. Em 2019, a companhia registrou um lucro de US $ 10 bilhões. Agora, ela está cortando pelo menos 10 mil empregos de um total de aproximadamente 70 mil, e vendendo cerca de US $ 25 milhões em empresas das quais decidiu desfazer-se para sempre.

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A Conoco Phillips, a maior produtora americana independente, perdeu US $ 2,7 bilhões para o ano. A Chevron informou na semana passada que perdeu US $ 5,5 bilhões, em comparação a um lucro de US$ 2,9 bilhões em 2019.

Leia também: Coronavírus: As 10 ações mais beneficiadas pela pandemia

Luz no fim do túnel

No entanto, os executivos do setor se mostram otimistas ao falar do futuro, afirmando que o seu negócio se recuperará em 2021, quando a distribuição de vacinas acelerar e a atividade econômica se reerguer das profundezas da crise da pandemia.

“Vemos maiores oportunidades lá adiante”, disse Darren W. Woods, diretor executivo da Exxon, que normalmente não assiste à conferência trimestral da companhia com analistas de Wall Street. “Eu me sinto muito tranquilo na situação em que nos encontramos agora. Considerando o primeiro trimestre, já estamos além do ponto onde pensávamos que poderíamos estar”.

Durante a maior parte do ano passado, os investidores se indispuseram com a Exxon, e em Wall Street havia boatos de que a companhia cortaria os seus dividendos para preservar o dinheiro vivo. O preço da ação despencou cerca de 50% em relação ao início de janeiro do ano passado – caindo para nada menos que US$ 31 em novembro, seu patamar mais baixo em cerca de 20 anos.

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No entanto, o preço da ação da Exxon subiu para cerca de US $ 46, principalmente porque os preços da energia tiveram forte recuperação nas últimas semanas. Os preços do petróleo subiram cerca de 10% este ano, e a nevasca no nordeste dos EUA contribui para aumentar os preços do gás natural, usado para a calefação nas casas e nas empresas. O dividendo da Exxon agora parece seguro. E, à parte as depreciações, nos três últimos meses do ano a Exxon registrou um pequeno lucro.

Leia também: As mudanças que vão sobreviver à pandemia, segundo 14 executivos do mercado financeiro

“O setor foi para o inferno e voltou”, disse Michael C. Lynch, presidente da Strategic Energy and Economy Research“. As empresas sobreviveram em grande parte às piores circunstâncias que já enfrentaram e, com exceção de certas coisas, a partir de agora se recuperarão em termos de preços e demanda”.

A Goldman Sachs prevê que os preços do petróleo poderão subir mais US $ 10 o barril, para nada menos que US $ 65 até julho. Seria uma recuperação considerável em relação aos preços que chegaram a menos da metade na maior parte de 2020, embora permanecessem bem abaixo dos de dez anos atrás, quando o barril de petróleo ultrapassou os US $ 140 e as petrolíferas registravam lucros recorde.

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Mas agora, quando as condições parecem melhorar, as perspectivas do setor continuam incertas. Com a emergência de novas variantes do coronavírus, não se sabe com que rapidez EUA, Europa e outras importantes economias conseguirão controlar o alastrar-se do vírus. E ainda permanecem as grandes questões sobre a mudança climática.

O diretor executivo da BP, Bernard Looney, pressionou sua companhia a investir consideravelmente em áreas como fazendas eólicas em alto mar e produção de hidrogênio a fim de preparar-se para um mundo que usará menos petróleo e gás. Mas, na terça-feira, ele reconheceu que a recompensa por estes investimentos só poderá chegar nos anos 2030, e que por algum tempo, a companhia continuará dependendo do petróleo e do gás para lucrar.

Entretanto, Looney disse em uma entrevista que aplaudiu o compromisso do presidente Joe Biden de combater a mudança climática. O novo presidente assinou decretos orientando o governo a aumentar as normas de economia dos combustíveis e a limitar a nova exploração de petróleo e gás em áreas federais.

“Esta é uma das boas coisas para uma companhia em transição”, disse Looney.

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A Exxon adotou outro caminho. Mas até o seu diretor-executivo pareceu admitir que o setor enfrentará mais turbulências.

“Nós não sabemos aonde os preços irão”, disse Woods aos analistas. “O nosso plano é reconstituir o balanço para que, de agora em diante, possamos estar em condições de absorver todo choque futuro”.

(Tradução de Anna Capovilla)

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