O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já acumula alta de 8,35% desde junho de 2020. Portanto, os ativos de renda fixa atrelados à Selic ou CDI (taxa próxima a de juros) continuam perdendo para a inflação do período. Isso não significa, entretanto, que essa classe de ativos não esteja com oportunidades atrativas. Como em toda análise de investimentos, o segredo também é olhar para frente.
“O mais importante quando analisamos investimentos, seja em Bolsa ou renda fixa, é observar a dinâmica dos próximos meses. O mercado hoje tem precificado uma série de altas para as taxas de juros nas próximas reuniões do Copom”, afirma Stefan Castro, gestor de renda fixa da AF Invest. “Se olharmos a curva de juros, a taxa terminal é entre 7% e 8%.”
De acordo com o Boletim Focus, a expectativa é que a Selic esteja ao redor de 7% no final de 2021, enquanto a inflação estacione em 6,79% – o que daria um retorno real (juros menos inflação) praticamente nulo. Já em 2022, os juros devem continuar em 7%, para uma inflação em 3,81%, o que abre para um rendimento real positivo para as aplicações mais conservadoras.
Essa também é a visão de Fábio Fernandes, sócio-fundador da Delta Flow Investimentos. “O elefante entrou na sala e não tem mais como ignorar, a tendência é alta da Selic, que ficou tanto tempo em dois dígitos e depois chegou aos 2%. Acreditamos que para aquele investidor mais conservador, ter uma parcela maior em investimentos atrelados aos juros faz total sentido.”
Pós-fixados e crédito privado em destaque
Entre os títulos públicos, os pós-fixados (Tesouro Selic e Tesouro IPCA+) seguem como a melhor aposta para os próximos meses, seja por conta dos prêmios atrativos ou por serem mais defensivos em um cenário de volatilidade. Com as eleições presidenciais se aproximando, e o mercado ainda alerta para os riscos fiscais, as incertezas devem impactar os títulos pré-fixados, cujas taxas variam conforme as expectativas econômicas.
“Já estamos vivendo ambiente de eleições e isso faz com que os prefixados tenham uma volatilidade maior”, afirma Guarda. “Nesse cenário, o Tesouro Selic e até os títulos privados de boas empresas com uma taxa CDI+, como CDBs, são uma boa opção. Além disso, também indicamos títulos atrelados ao IPCA, como debêntures, CRIs e CRas e Tesouro IPCA.”
Os papéis atrelados ao IPCA pagam a inflação do período mais uma taxa pré-fixada, por isso costumam proteger o patrimônio em tempos de maior incerteza e disparada dos preços. Em 2021, esse foi o título mais demandado pelos investidores no Tesouro Direto. Entretanto, está mais sujeito a oscilações do que um Tesouro Selic, por exemplo.
“O ideal é que o Tesouro IPCA seja carregado até o vencimento, só assim é garantida a remuneração contratada no ato da aplicação”, explica João Beck, economista e sócio da BRA. “Vendendo antes o título antes do vencimento, o investidor se sujeita a surpresas negativas, mas eventualmente positivas também.”
Para Castro, da AF Invest, uma boa maneira de acessar esses investimentos é através de fundos de investimento pós-fixados ligados ao Tesouro ou fundos de crédito privado. Essas aplicações devem ter retornos atrativos e com volatilidade baixa.
“Temos hoje títulos pós-fixados para 2026 pagando o IPCA+4,10%, então falamos de um retorno real acima de 4%, enquanto no mundo temos visto juros abaixo de 1%. Temos um ambiente bem atrativo para renda fixa.”
A Ágora Investimentos recomenda também a diversificação dentro da renda fixa, combinando títulos e prazos de investimentos. Segundo a corretora, investidores conservadores precisam ter 100% dos recursos nesses ativos, enquanto os de perfil de risco moderado, dinâmico e arrojado devem alocar, respectivamente, 52,5%, 26,5% e 17,5% em renda fixa.
“Essa diversificação vai permitir que o investidor dilua o risco de volatilidade dos ativos da carteira, até porque o Banco Central realiza ajustes periódicos nos juros. Então ter um pedaço em renda fixa é muito importante para uma carteira saudável”, afirma Adriano Germenink, especialista de estratégia da Ágora.
Bolsa perderá atratividade?
Apesar de a renda fixa ficar mais atrativa nesse novo ciclo de alta da Selic, os ativos de risco não devem perder tração. Nos últimos 24 anos, o Brasil passou por longos períodos de juros de dois dígitos. Ou seja, mesmo que a taxa suba para 7% até o fim do ano, conforme esperado pelo mercado, ainda assim estaria em um nível bem mais baixo do que a média histórica.
A alta da Selic também pode favorecer os fundos de investimento multimercado, que têm como benchmark o CDI. De acordo com André Kitahara, gestor da estratégia macro na MZK Investimentos, esses produtos tendem a se destacar especialmente em ambiente de incertezas.
“Esses fundos podem ganhar dinheiro com o dólar e a Bolsa caindo ou subindo, por exemplo”, diz Kitahara. “Mesmo neste cenário eles costumam entregar uma rentabilidade acima do CDI. Quanto maior o CDI, maior costuma ser a rentabilidade do cliente.”