Estas empresas de menor porte são conhecidas pela baixa liquidez na Bolsa, mas que agora devem ser favorecidas por um fluxo maior de investidores na renda variável e por apresentar forte potencial de valorização.
O E-Investidor conversou com sete casas de análise e corretoras para identificar as small caps que vão se beneficiar com a queda dos juros e podem pagar proventos interessantes em 2024. Três companhias foram as mais recomendadas: Banco ABC (ABCB4), Valid (VLID3) e BR Partners (BRBI11).
Banco ABC (ABCB4)
O Banco ABC foi o mais indicado pelos analistas, reunindo três recomendações. Nigri, da Dica de Hoje Research, explica que o banco empresta dinheiro apenas para empresas. O analista lembra que inicialmente o ABC tinha um foco de atender companhias corporate e high corporate, com faturamento superior a R$ 100 milhões. Contudo, nos últimos anos o banco começou a investir no segmento middle – empresas com faturamento anual entre R$ 30 e R$ 300 milhões. “Isso fez os resultados crescerem e os dividendos aumentaram”, pontua.
Nos últimos trimestres, a alta da inadimplência reduziu o apetite do banco para potencializar o crescimento da carteira de crédito, mas na visão de Nigri, com um custo de captação de recursos menor por conta da queda da taxa básica de juros da economia, o banco deve recuperar o seu apetite de crescimento e alcançar lucros cada vez maiores.
“Acreditamos que o banco terá uma menor provisão para devedores duvidosos em 2024. Desta forma, vai focar novamente em crescer a sua carteira middle, que possui um spread (diferença entre o preço de compra e o preço de venda) mais elevado, assim que o índice de inadimplência começar a cair”, avalia o analista da Dica de Hoje Research.
Ele também aponta que o banco ABC possui uma política de dividendos muito clara, distribuindo proventos geralmente em fevereiro e agosto – os anúncios são feitos na maioria das vezes nos últimos dias úteis de dezembro e junho. “Há mais de uma década funciona dessa forma”, diz. Os dividendos também são crescentes ao longo do tempo. Em junho de 2012, a companhia distribuiu R$ 44,5 milhões em proventos, enquanto em junho de 2023 o montante pago foi de R$ 184,8 milhões.
Nigri projeta que o banco pague dividendos de R$ 1,60 por ação neste ano, equivalente a um dividend yield de 7%. “É um banco que tem conseguido crescer e reportar bons resultados ao longo do tempo. Sempre que teve uma queda no lucro, o ABC conseguiu voltar a ter ganhos melhores e dividendos maiores”, destaca.
Gabriel Costa, analista da Toro Investimentos, destaca o potencial de crescimento da carteira de crédito que o ABC possui. Segundo ele, existem atualmente cerca de 30 mil empresas que integram o segmento middle, enquanto a base de clientes do banco é de apenas 2.521 empresas.
Costa também enxerga nas multinacionais uma oportunidade de crescimento para o ABC – atualmente esse tipo de empresa representa menos de 4% da base de clientes do banco. O analista destaca ainda que o ABC consegue operar com um índice de inadimplência abaixo de seus pares, por conta do foco em pequenas e médias empresas. “O ABC tem menos despesa com PDD (provisões para devedores duvidosos) e uma carteira de crédito de melhor qualidade. No segmento middle, 47% da carteira de crédito possui garantias”, aponta.
Costa espera que as ações ABCB4 entreguem um dividend yield de 6% em 2024. Na Órama, Soares também projeta o mesmo patamar de retorno em dividendos.
Valid (VLID3)
Reis, da Blue3 Research, explica que a Valid trabalha com três segmentos: emissão de documentos no País como a CNH (carteira de motorista), emissão de cartões de débito e crédito no Brasil e na Argentina e fabricação do chip de celular.
Segundo o analista, até 2021 a companhia tinha alguns problemas de margem por conta de uma operação nos Estados Unidos. Mas vendeu essa unidade de negócio e melhorou bastante a estrutura de capital. “Com esse dinheiro extra conseguiram zerar a dívida deles, que é bem menor atualmente do que no passado”, comenta Reis. A alavancagem chega a ser inferior a 1 vez o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda).
Reis destaca que a Valid se transformou em uma empresa que vai pegar todo o lucro dela e distribuir aos acionistas. O analista projeta um dividend yield de 6% para 2024.
Soares destaca que pela sua dominância no mercado, a companhia tem pouca necessidade de investimento, o que abre espaço para devolver muito dinheiro ao acionista. “São negócios muito maduros, pouca necessidade de investimento, lucratividade boa e caixa operacional positivo, somado a oportunidade de devolver dinheiro aos investidores”, avalia. Ele também espera dividendos de 6% neste ano.
BR Partners (BRBI11)
Max Bohm, estrategista de ações da Nomos, explica que o BR Partners é um banco de investimento que gera muito caixa, possui um patrimônio baixo e utiliza os dividendos como principal fonte de remuneração dos seus executivos e funcionários.
Para 2024, o analista espera que a companhia lucre até R$ 170 milhões, dos quais 70% devem ser direcionados para dividendos. “É uma empresa que sempre vai pagar bons dividendos. O dividend yield em 2024 deve ser de 7,5%”, destaca.
Soares destaca que a companhia tem muita oportunidade de crescimento e tem explorado o segmento de Advisory, consultoria estratégica e acompanhamento de grandes fortunas, além de usar mais capital proprietário nas operações. O analista espera um dividend yield de 6,5% neste ano.
Empresas cíclicas
Entre os setores cíclicos que vão se beneficiar com a queda dos juros, os analistas citaram construção civil e varejo. Companhias como Cury (CURY3), Lavvi (LAVV3) e Allied (ALLD3) devem ganhar destaque pela valorização e capacidade de remunerar os acionistas no curto prazo.
Ricardo França, analista da Ágora Investimentos, afirma que a Cury deve se beneficiar com os incentivos do governo para construção de baixa renda, com programas como Minha Casa Minha Vida, Pode Entrar e Casa Paulista.
Segundo ele, a companhia tem caixa líquido sem pressão de custo financeiro e diante de um crédito mais baixo será possível impulsionar projetos e atender mais clientes que antes não tinham acesso ao financiamento por conta do custo. França projeta um dividend yield de 6% para CURY3 neste ano.
- Calor penaliza agro, mas analistas rechaçam venda de ações. Veja o porquê