Investimentos

Deflação e depressão econômica devem levar Selic para abaixo de 2,25%

Em semana de reunião do Copom, veja quais fatores devem influenciar a decisão sobre a taxa de juros

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
  • Economista-chefe da BNP Paribas Asset prevê Selic em 1,5% ao ano
  • Estrategista da Terra Investimentos projeta taxa básica em 2% ao ano
  • Economista-chefe da Messem Investimentos estima taxa Selic em 2,25% ao ano

A confirmação de uma depressão econômica com efeito de queda da inflação pode levar a taxa básica de juros (Selic) para um patamar abaixo de 2,25% ao ano, segundo consenso de mercado publicado pela última pesquisa Focus do Banco Central.

De acordo com especialistas consultados pelo E-Investidor, três fatores de risco contribuem para uma visão mais pessimista sobre a economia brasileira para justificar uma queda mais forte da Selic no segundo semestre: uma segunda onda da pandemia de coronavírus no mundo, depressão econômica global e deflação no Brasil.

Para a economista-chefe da gestora de investimentos do BNP Paribas, Tatiana Pinheiro, a deflação de 0,38% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio confirma que as pessoas estão mais pessimistas com a economia brasileira.

Preencha os campos abaixo para que um especialista da Ágora entre em contato com você e conheça mais de 800 opções de produtos disponíveis.

Ao fornecer meu dados, declaro estar de acordo com a Política de Privacidade do Estadão , com a Política de Privacidade da Ágora e com os Termos de Uso

Obrigado por se cadastrar! Você receberá um contato!

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

“Há um efeito deflacionário da covid-19. Tivemos o auge do distanciamento social em abril, e isso mudou um pouco em maio. Temos uma alguma reabertura agora em junho, mas há sempre o risco de uma segunda onda global do coronavírus”, argumenta ela.

A especialista observa que o IPCA acumulado em 12 meses está em apenas 1,88%. “Isso é muito abaixo do piso inferior da meta de inflação, que é de 2,5% para este ano, uma situação muito propícia para o corte de 0,75 ponto porcentual da Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), como espera o mercado”, diz Tatiana.

Atualmente, a Selic está em 3% ao ano, mas a economista-chefe prevê que a Selic não vai ficar em apenas 2,25% neste ano. “Há uma contração relevante da atividade econômica. Dados de confiança e de índices de incerteza, todos esses indicadores antecedentes mostram uma recessão profunda, o que abre espaço para um outro corte de 0,75 ponto porcentual na reunião de agosto”, prevê Tatiana. Nesse cenário traçado por ela, a taxa Selic fechará 2020 em 1,5% ao ano.

Não há recuperação em V

Em linha semelhante sobre a questão da retração da atividade, Marco Harbich, estrategista da Terra Investimentos, diz que não espera uma recuperação rápida da economia mesmo com os vultosos estímulos monetários e fiscais pelo mundo.

“Não vejo esse crescimento em V que se espera na economia. Recuperação em V nas Bolsas até é possível, pois os mercados antecipam. Mas na economia isso é diferente, porque tem o ciclo”, diz ele. “O que vejo é uma queda muito maior da produção e o aumento do desemprego. E com isso, o consumo cai e a produção cai ainda mais, o que leva a crer que há mais espaço para cortes na Selic”, argumenta.

Na previsão do estrategista da Terra, depois que a Selic atingir os 2,25% (conforme o consenso), haverá ainda um outro corte de 0,25 ponto porcentual para 2% ao ano.

Ele ressalta que no Brasil houve um programa para minimizar os efeitos da crise, mas que os impactos sobre o consumo estão presentes. “Quem foi demitido não está consumindo. Quem teve redução de carga horária e redução de salário está consumindo menos. E tem aquele que não teve redução da renda, mas está inseguro, não sabe do futuro, consome menos, poupa mais”, diz Harbich.

O estrategista diz que a saída da crise passa pela ciência encontrar uma cura ou vacina e a equipe econômica utilizar ferramentas adequadas para conceder crédito barato às empresas. “Tem que injetar dinheiro na economia para salvar milhões de empregos, e fazer com que a liquidez, o crédito chegue na ponta às empresas”, afirma.

Só mais um corte

Para o economista-chefe da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti, a taxa Selic deverá mesmo ficar em 2,25% ao ano, na mediana das expectativas da Pesquisa Focus.  “Muitos analistas estão vendo abaixo de 2%. Entendo que temos um segundo trimestre bastante comprometido, mas ainda fico com os 2,25% ao ano”, diz.

Bertotti afirma que os resultados ruins do segundo trimestre vão se materializar e trazer a realidade para os mercados globais. “Vamos ter um PIB muito ruim, o que permite reduzir os juros em 0,75 ponto porcentual. Mas, na minha visão, a recuperação em V dos Estados Unidos é um risco, e tem sim um clima de euforia com a reabertura econômica, o que é um risco”, conclui.