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“Não vemos oportunidade de entrada no mercado americano”, diz Jennie Li

As negociações para aumentar o teto da dívida avançaram, mas o momento exige cautela para o investidor

“Não vemos oportunidade de entrada no mercado americano”, diz Jennie Li
Jennie Lie é estrategista de ações da XP. (Foto: Renato Preter/XP)

A possibilidade de um calote na dívida dos Estados Unidos assombra os mercados há semanas. No fim de semana, as negociações para aumentar o teto da dívida avançaram e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que o acordo com Kevin McCarthy, representante do Congresso americano, está pronto. A expectativa é que o projeto seja votado nesta quarta-feira (31).

A aceleração das tratativas acontece após a secretária do Tesouro, Janet Yellen, declarar que 5 de junho é a data em que o governo ficaria sem dinheiro para honrar as obrigações financeiras. Para evitar o calote da dívida,  o governo busca elevar o teto. Neste ano, o limite da dívida, de US$ 31 trilhões, foi atingido em 19 de janeiro. Veja mais detalhes no Estadão.

Enquanto um desfecho não é desenhado, a precificação de títulos do Tesouro dos EUA de curto prazo aponta para uma possibilidade razoável de que os juros dos ativos com vencimento em junho não serão pagos. Apreensivos, os analistas e gestores do mercado financeiro têm recuado em ter títulos da dívida do governo.

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Sobre o investimento em ações americanas, “não há um cenário extremamente favorável para Estados Unidos e não vemos a entrada neste mercado como uma grande oportunidade”, diz Jennie Li, estrategista de ações da XP.

Se o governo não pagar as contas, os efeitos podem ser graves e os mercados emergentes podem pagar a conta. Afinal, em uma situação de crise, a aversão ao risco sobe e os investidores tendem a buscar ativos mais seguros, o que não inclui o Brasil, por exemplo. O prognóstico de um calote divide opiniões, mas a recomendação é que as carteiras estejam preparadas para lidar com um novo estresse no mercado.

E-Investidor – Com a especulação de um calote nos Estados Unidos, qual seria o impacto para os mercados globais?

Jennie Li – Com o avanço nas negociações, o cenário de um calote fica cada vez menor. O EUA é um mercado mais defensivo e com alta qualidade de crédito, portanto, um calote teria consequências que poderiam reverberar para o mundo.

Em geral, há dois cenários até um pouco opostos: de um lado, poderíamos ver um aumento de aversão a risco que afetaria ativos do mundo todo, inclusive o Brasil que já é percebido como um mercado de maior risco junto com outros emergentes. Do outro, haveria um fluxo de saída dos EUA, com investidores buscando outros mercados como alternativa Isso poderia trazer um fluxo pro Brasil, como já vem ocorrendo desde o ano passado.

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Mas ainda não chegamos ao desfecho e precisamos aguardar a votação que vai acontecer nos próximos dias. Para o investidor que está preocupado, continua a mesma regra de sempre: diversificar em mercados e ativos diferentes pra não concentrar muito risco.

Se as agências de risco rebaixarem a classificação da dívida dos Estados Unidos, isso pode impactar os títulos do tesouro americano?

Sim. Historicamente, os títulos do tesouro americano pagam taxas baixíssimas em relação ao brasileiro. Por quê? Somos um mercado com mais risco, então o investidor exige mais prêmio. Se houver algum tipo de rebaixamento, podemos ver os investidores exigindo esse maior prêmio dos títulos do governo americano, então as taxas de juros devem subir um pouco em reflexo de um risco maior.

Já observamos que os títulos com vencimento em junho, quando os analistas estimam que vai acabar a hora de dinheiro e pode acontecer o calote, estão sofrendo um pouco mais. Nesse momento, são títulos um pouco mais sensíveis, mas quando consideramos ativos muito mais longos, eles estão bem mais protegidos do que os títulos de curto prazo.

Então o investidor deve ficar longe dos títulos americanos? 

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Eu diria que “cautela” seria a palavra nesse momento. Quando olhamos para ações americanas, o mercado e a economia americana de forma geral, não falamos mais de uma economia a pleno vapor. Ela já está desacelerando e possivelmente vai entrar em uma recessão ainda este ano. Não há um cenário extremamente favorável para Estados Unidos e não vemos a entrada no mercado americano como uma grande oportunidade.

Por que o bitcoin é considerado como oportunidade em um eventual calote?

O Bitcoin e outros criptoativos são vistos como uma moeda alternativa ao dólar e outras moedas tradicionais. Quando temos uma crise nesses sistemas financeiros, que o mercado está um pouco mais acostumado, vemos uma corrida em busca dessas alternativas, que também inclui o ouro, além das criptomoedas.

Faz sentido o investidor aumentar a sua exposição em criptomoedas?

As criptomoedas servem como uma classe de ativos que pode ajudar a diversificar um pouquinho melhor a carteira do investidor brasileiro. Mas ela ainda carrega muitos riscos, porque é um tipo de ativo muito volátil. Vimos altas quedas e fortes altas nos últimos anos, então eu acho que o investidor que for adicionar esses ativos na carteira tem que saber que é importante ter maior tolerância ao risco também.

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Recentemente, o presidente Lula fez uma visita oficial à China. Essa aproximação entre os dois chefes de Estado indica um bom momento para o investidor olhar o mercado chinês mais de perto? 

Eu gosto muito da tese de China e alguns fatores têm contribuído para uma visão mais positiva desde o final do ano passado. Eles finalmente reabriram a economia, depois de sofrer por muito tempo com os lockdowns. Quando olhamos para os dados de inflação, o mundo todo ficou acima da meta, mas a China não. Eles não tiveram essa política fiscal expansionista que o resto do mundo teve durante a pandemia. Ou seja, o governo tem bastante espaço para continuar fazendo estímulos na economia.

O ciclo econômico dos chineses também está em outro momento. Enquanto Estados Unidos, Brasil e até Europa têm desacelerado, a China está subindo e ganhando um pouco mais de força. Em termos de diversificação, é um mercado que faz sentido ter exposição. Por ser um mercado extremamente complexo, a minha sugestão é investir via fundos.

/COLABOROU: VALÉRIA BRETAS