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“Com a volta de Trump, o dólar tende a ganhar força como um ativo de proteção”, diz Arko Advice

Trump toma posse em janeiro com agenda econômica que promete balançar mercados globais, incluindo o Brasil

“Com a volta de Trump, o dólar tende a ganhar força como um ativo de proteção”, diz Arko Advice
Thiago de Aragão, CEO da Arko Advice (Foto: Divulgação/Arko Advice)
O que este conteúdo fez por você?
  • Thiago de Aragão, CEO da consultoria Arko Advice International, diz que o Brasil enfrenta riscos concretos, especialmente de sanções ou isolamento comercial
  • Com as políticas protecionistas de Trump, o dólar tende a ganhar força como um ativo de proteção. Na outra ponta, mercados emergentes devem sofrer mais
  • A nova era Trump na geopolítica global acontece em um momento já turbulento para os mercados de investimentos, no Brasil e no mundo

O mês de janeiro trará um dos principais eventos a ditar o rumo dos mercados globais neste ano e nos próximos. Donald Trump tome posse no dia 20 para seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, após derrotar, em 2024, a democrata Kamala Harris em um das eleições mais polarizadas da história do país. A volta do republicano ao poder já vem influenciando o humor de investidores globais, em meio a euforia e receio pelas propostas feitas ao longo da campanha.

O Trump 2.0 volta à Casa Branca com sua política de “America First”, com propostas para taxar produtos importados, acirrar guerras comerciais com países como a China, Canadá e México, além de reprimir a imigração e deportar imigrantes. Apesar da ideia de “tarifaço” ser discutida inicialmente para produtos chineses, canadenses e mexicanos, o futuro presidente dos EUA já deu indícios de que estenderá a medida a todos os parceiros comerciais em maior ou menor grau. Incluindo ameaças ao BRICS, bloco econômico do qual o Brasil faz parte.

Nos mercados de apostas, como o Kalshi, o País é precificado como quem tem mais chance de receber tarifas de Donald Trump nas primeiras 48h de mandato, à frente nas apostas até mesmo da China. Na avaliação de Thiago de Aragão, CEO da consultoria Arko Advice International, o Brasil enfrenta riscos concretos, especialmente de sanções ou isolamento comercial. “Setores que dependem de exportações, como o agronegócio e mineração, podem ser os mais impactados. Empresas como Vale (VALE3), JBS (JBSS3) e BRF (BRFS3) poderiam sofrer com barreiras tarifárias ou maior concorrência de produtos americanos subsidiados”, diz. “Além disso, a adoção de políticas hostis aos Brics pode dificultar acordos bilaterais e reduzir o fluxo de investimentos externos.”

A nova era Trump na geopolítica global acontece em um momento já turbulento para os mercados de investimentos, no Brasil e no mundo. Por aqui, a deterioração da credibilidade em relação à política fiscal faz investidores cobrarem por maior prêmio de risco pelos ativos brasileiros; um cenário que derrubou a Bolsa, fez a curva de juros abrir e o câmbio disparar na reta final de 2024. Lá fora, a preocupação com o ritmo da economia da China e na Europa também ajuda a agravar o sentimento de aversão a risco pelo mundo.

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Com as políticas protecionistas de Trump, o dólar tende a ganhar força como um ativo de proteção. Na outra ponta, mercados emergentes devem sofrer mais. Em 2024, o fluxo cambial do Brasil foi negativo em US$ 15,918 bilhões, a terceira maior saída líquida anual de dólares do País na série histórica do Banco Central, iniciada em 2008.

Para Aragão, que também é professor de Relações Internacionais da Marymount University e colunista do E-Investidor, lá fora, o sentimento em relação ao Brasil é misto e a volta de Trump adiciona um novo componente de incerteza na avaliação dos fundos de investimento estrangeiros. “Por um lado, o potencial do mercado brasileiro, especialmente em setores como energia renovável e agronegócio, continua atraente. Por outro, há receio em Wall Street quanto ao cenário fiscal e político, além da capacidade do Brasil de se proteger contra choques externos”, diz o CEO da Arko.

Confira os destaques da entrevista:

E-Investidor – Trump volta à presidência dos EUA agora em janeiro. Como o retorno da política “América em Primeiro Lugar” pode influenciar os mercados financeiros globais?

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Thiago de Aragão – O retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos e sua política de “América em Primeiro Lugar” provavelmente trará instabilidade aos mercados financeiros globais. Historicamente, essa abordagem protecionista busca priorizar os interesses econômicos internos, aumentando tarifas, revisando acordos comerciais e reduzindo a dependência de importações estratégicas. Isso pode gerar volatilidade, especialmente em economias dependentes de exportações para os EUA, como China, México e Brasil. Ao mesmo tempo, a busca de Trump por desregulamentação e estímulo à produção doméstica deve beneficiar setores como energia, defesa e tecnologia nos Estados Unidos, influenciando investidores globais a priorizarem ativos americanos. Isso atrairá investimentos de empresas americanas que estavam destinadas ao exterior. Se por um lado beneficiará a indústria americana, abrirá espaço para produtos chineses no mundo e representará uma ótima notícia para a indústria chinesa.

O mercado brasileiro corre algum risco, tendo em vista as ameaças feitas por Trump aos Brics?

O Brasil enfrenta riscos concretos, considerando as ameaças de Trump de enfraquecer os Brics, particularmente por meio de sanções ou isolamento comercial. Setores que dependem de exportações, como o agronegócio e mineração, podem ser os mais impactados. Empresas como Vale, JBSe BRF poderiam sofrer com barreiras tarifárias ou maior concorrência de produtos americanos subsidiados. Além disso, a adoção de políticas hostis aos Brics pode dificultar acordos bilaterais e reduzir o fluxo de investimentos externos. Para o acionista, isso pode significar volatilidade nos papéis dessas empresas e incertezas em relação à rentabilidade de longo prazo.

A vitória de Trump já vem impulsionando alguns ativos de investimento desde 2024, como as criptomoedas. Quais investimentos ganham destaque em 2025 com a volta do republicano ao poder?

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Em 2025, com Trump no poder, investimentos em setores que se alinham à sua agenda devem ganhar destaque. Ações de empresas de energia tradicional, como petróleo e gás, devem se valorizar com possíveis incentivos ao setor. Além disso, ativos de defesa e segurança nacional podem atrair investidores, dado o provável aumento nos gastos militares. Criptomoedas também continuarão em alta, impulsionadas pela narrativa de refúgio contra políticas econômicas imprevisíveis. Commodities agrícolas e metais preciosos, como ouro e prata, são alternativas que podem se beneficiar da instabilidade geopolítica global.

O dólar disparou no Brasil especialmente pelo risco fiscal, mas, globalmente, a moeda americana também se fortaleceu contra outras divisas. Como a conjuntura geopolítica que se desenha para 2025 vai impactar o câmbio?

O fortalecimento do dólar em 2025 reflete tanto a volta de Trump quanto uma conjuntura geopolítica desafiadora. A desaceleração na China e na Europa, aliada à falta de resoluções para conflitos no Oriente Médio, reforça a percepção do dólar como um porto seguro. Para o Brasil, além do impacto fiscal interno, a volatilidade cambial pode ser intensificada pela relação do país com os Brics e o aumento da aversão global a riscos. Isso pode pressionar ainda mais o câmbio e tornar mais cara a captação de recursos externos.

Com medidas protecionistas nos EUA, juros ainda elevados nos Treasuries e Bolsas americanas em alta, existe espaço para mercados emergentes na carteira dos investidores estrangeiros?

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Sim, mas de forma limitada. Com os EUA oferecendo retornos atrativos em títulos e ações, os mercados emergentes podem perder parte de sua atratividade. Contudo, países que conseguirem demonstrar estabilidade fiscal, segurança jurídica e políticas pró-mercado ainda terão espaço nas carteiras globais. No caso do Brasil, setores ligados a commodities, como mineração e agronegócio, podem continuar atraindo interesse, desde que o cenário doméstico não apresente grandes instabilidades.

Como está o sentimento dos fundos que você assessora em relação ao Brasil? Há algum receio em Wall Street sobre investir no País no momento?

O sentimento em relação ao Brasil é misto. Por um lado, o potencial do mercado brasileiro, especialmente em setores como energia renovável e agronegócio, continua atraente. Por outro, há receio em Wall Street quanto ao cenário fiscal e político, além da capacidade do Brasil de se proteger contra choques externos. A postura de Trump em relação aos Brics também adiciona um componente de incerteza, especialmente para fundos mais avessos ao risco. Ainda assim, investidores que buscam retornos elevados podem considerar o Brasil, desde que haja medidas claras para mitigar instabilidades internas.