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Ações de Casas Bahia (ex-Via) desabam na Bolsa. Oportunidade ou cilada?

Grupo busca reestruturação e quer voltar às origens.

Ações de Casas Bahia (ex-Via) desabam na Bolsa. Oportunidade ou cilada?
(Foto: Márcio Fernandes/ Estadão)
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  • Companhia está enxugando o quadro de funcionários.
  • Também pretende fechar até 100 lojas ainda em 2023.
  • S&P rebaixou a nota de crédito da empresa, esta semana.

A Via Varejo (VIIA3), dona da Casas Bahia e do Ponto, tem visto suas ações derreterem na Bolsa de Valores. O ativo, que agora será reconhecido sob novo código na B3, reporta queda de 61,32% no período de seis meses e recuo de 73,63% nos últimos doze meses.

Para se ter ideia, por volta das 15h10 desta sexta-feira (15) o papel recuava 15,56%, cotado a R$ 0,76, pressionado por conta da crise no varejo tradicional e da concorrência chinesa que chega ao Brasil.

Marketplaces como Shein AliExpress, Shopee e outros mais têm a vantagem de operar sem o custo de uma loja física. As varejistas chinesas operam sem os encargos de boa parte das empresas brasileiras, e isso tem sido motivo de conflito, com as entidades de classe pressionando o governo para, no mínimo, equiparar.

Do lado do varejo tradicional, o ponto de inflexão está na fuga de clientes que, por conta dos juros altos, diminuíram o consumo.

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A Selic, que é a taxa básica de juros da economia, está, atualmente, em 13,25% ao ano, conforme determinação do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC).

Entretanto, poucos semanas atrás ela estava ainda mais alta, em 13,75%, ao ano e muitos empresários varejistas foram a público pedir à autoridade monetária que reduzisse os juros.

Casas Bahia em processo de reestruturação

Deixando os problemas macro à parte, a Casas Bahia enfrenta outro agravante: uma reestruturação interna seguida de divergências entre a cúpula e alguma dificuldade em reencontrar o caminho do lucro.

No segundo trimestre de 2023 a companhia reportou prejuízo líquido de R$ 492 milhões e, assim, acabou revertendo o lucro líquido de R$ 6 milhões do segundo trimestre de 2022.

Somente em ajustes não recorrentes relacionados à atualização dos processos trabalhistas, a empresa desembolsou R$ 226 milhões, refletindo em um prejuízo operacional de R$ 266 milhões.

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O resultado veio pior do que o esperado, sendo que o consenso do mercado aguardava perdas de R$ 260 milhões para o período, segundo a Bloomberg.

Pandemia e digitalização foram pedra no sapato

Como a maioria das empresas no Brasil e no mundo, a Via, que a partir do pregão do próximo dia 20 passa a se chamar Grupo Casas Bahia (BHIA3), foi grandemente afetada pela pandemia de Covid-19 que, por conta dos lockdowns implementados pelo governo, se viu obrigada a fechar lojas e pontos comerciais ou operar aquém da capacidade.

O Coronavírus chegou ao Brasil depois do carnaval de 2020 e, em um primeiro momento, acertou em cheio o varejo tradicional. Passados alguns meses, o público começou a migrar para o varejo online e a Casas Bahia e o Ponto aceleraram sua estratégia de atendimento, implementando recursos como aplicativos e redes sociais. Com isso, as vendas voltaram a acontecer.

Ainda assim, toda essa situação mostrou que a digitalização veio para ficar e nem todas as empresas estavam prontas para fazer frente às companhias que já haviam nascido digitais. As organizações tradicionais estão até hoje desenvolvendo e atualizando seus recursos online mas, enquanto isso, o brasileiro descobriu novas empresas, produtos e serviços.

Follow-on

A Via promoveu ontem uma oferta primária de ações (follow-on) precificada a R$ 0,80 por ação, implicando desconto de 27,9% em relação ao preço de fechamento da quarta-feira (13). A companhia tinha por objetivo levantar R$ 1 bilhão para se capitalizar, mas obteve apenas R$ 622,9 milhões, o que significa dizer que os investidores “pisaram no freio” em relação à varejista.

Para o Citi, um dos principais bancos de investimentos do mundo, o referido valor levantado ajuda a aliviar o impacto de alavancagem e despesas financeiras, mas não resolve o problema de sua estrutura de capital. Em relatório encaminhado ao mercado, a instituição financeira elencou que a alavancagem da varejista cai de 1,86 vez na relação dívida líquida/Ebitda para 1,34 vez quando inseridos os recursos do aumento e o bônus de subscrição.

No entanto, o banco destaca que as despesas financeiras da empresa ainda devem chegar a R$ 3 bilhões, contra um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado de R$ 2,2 bilhões, mostrando a necessidade de avançar no processo de reestruturação.

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O Citi tem recomendação neutra para Grupo Casas Bahia, com preço-alvo em R$ 2,30.

Ponto de entrada, ou não?

O economista André Sandri lembra que a companhia promoveu, recentemente, a troca de executivos, mas diz que a varejista vem tendo problemas operacionais desde 2014. Para ele, o plano de reestruturação é bom e oportuno, mas será difícil executar justamente pela diferença de arrecadação no follow-on.

“Eu recomendo ficar de fora desse papel, esperar e analisar como os gestores pretendem implementar o plano de reestruturação nesse novo contexto, de menos dinheiro em caixa para executar a medida. Também por conta do momento econômico do País, cuja taxa de juros está em patamares elevados, bem como devido a uma inflação teoricamente controlada, mas, ainda assim, considerada forte”, pontuou.

Sandri é idealizador do Educa$, uma plataforma de educação financeira com base no Sul do Brasil. Ele também é gestor de um Family Office e atua, ainda, como Financial Service Advisor. O economista falou com exclusividade para o E-Investidor.

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