- A Cedro Cachoeira foi uma das empresas mais importantes no desenvolvimento da indústria têxtil do Brasil no século XIX e XX
- Após 151 anos da sua fundação, a fabricante de tecidos esbanja a maior valorização da Bolsa brasileira com uma alta de 560%
- Os múltiplos da empresa sinalizam também uma melhora operacional e financeira da companhia. Confira!
A guinada do Ibovespa nesta reta final de 2023 não chega aos pés da alta expressiva da ação de uma empresa centenária e quase desconhecida pelo mercado financeiro. Enquanto o principal índice da B3 esbanja uma valorização de 19,21% no acumulado do ano, as ações preferenciais (PN) da Cedro Cachoeira (CEDO4) avançaram 561% durante o mesmo período. É a maior alta da bolsa brasileira em 2023, até o momento, de acordo com os dados da Economatica.
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O desempenho do papel surpreende e desperta a curiosidade dos investidores sobre as razões que levaram a companhia a ter esses ganhos. Ao analisar o “case de sucesso”, os analistas de mercado são categóricos ao citar uma justificativa para a alta das ações: a baixa liquidez. Segundo dados da Economatica, a companhia do setor têxtil, localizada em Minas Gerais, possui um valor de mercado de R$ 252,1 milhões, patamar considerado baixo para os padrões da Bolsa.
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“O papel opera muito pouco, algo em média de R$ 50 mil por dia. O Ibovespa, por exemplo, chega a R$ 30 bilhões por dia”, diz Vitor Miziara, sócio da Criteria Investimentos e colunista do E-Investidor. Com esse baixo volume de negociação, qualquer movimentação de compra ou venda do papel ou evento no setor da indústria têxtil reflete no desempenho das ações. Foi o que aconteceu ao longo de 2023. A companhia informou ao mercado a compra relevante de ações feita por três investidores pessoa física.
A primeira movimentação aconteceu em abril quando o investidor, identificado como Aroldo Teodoro Campos, comprou mais de 1,15 milhão de ações ordinárias e 1,46 milhão de ações preferenciais da companhia. Com essa decisão de investimento, a posição do acionista passou a representar 26,13% do capital total da companhia.
Já nos meses de julho e dezembro, José Claudio Pagano comprou mais de 670 mil ações PN e 201 mil ações ordinárias. Com a compra, o investidor ficou responsável com 6,46% do capital total da companhia. Vale lembrar que Pagano também já teve uma posição relevante na Livraria Saraiva que faliu em outubro de deste ano.
Em julho, outro investidor também fez uma compra relevante das ações da Cedro. Segundo a companhia, Fabiano Soares Nogueira adquiriu 856,1 mil ações ordinárias e 144,9 mil ações preferenciais. A posição representa 10% de todos os papéis emitidos pela empresa.
“Quando os investidores têm algum nível de conhecimento mais aprofundado do setor, conseguem se antecipar a movimentos que outros não conseguem”, diz Felipe Paletta, sócio e analista da Monett. No entanto, as decisões de investimento não foram os únicos fatores que conseguiram impactar a performance dos papéis.
Em abril deste ano, a Cedro foi questionada pela B3 sobre a volatilidade atípica das ações da companhia. Em comunicado, a empresa informou que não havia “atos ou fatos relevantes de seu conhecimento que possam justificar as oscilações com os valores mobiliários de emissão desta empresa.”
No entanto, a companhia acrescentou que o acordo firmado pelas empresas Cia Tecidos Norte de Minas Coteminas, Springs Global Participações S.A. e Cia Tecidos Santanense, todas do setor têxtil, com a Shein poderia ter causado uma oscilação positiva nas ações durante os pregões do dia 10 a 24 de abril deste ano. “Esse movimento pode ter trazido um fluxo de positivo para todo o setor na Bolsa de valores”, acrescenta Paletta.
Conheça a Cedro Cachoeira
Com 151 anos de história, a Companhia de Fiação e Tecidos Cedro Cachoeira, mais conhecida como Cedro Cachoeira, teve um papel relevante no processo de industrialização do Brasil no século XIX. A empresa atua na fabricação e comercialização de tecidos, como jeans, e uniformes profissionais. Listada na bolsa de valores, desde 1981, possui um valor de mercado de R$ 252,1 milhões, graças à valorização superior a 560%.
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As peculiaridades da empresa não se resumem apenas a essas informações. Segundo Fábio Sobreira, analista CNPI-P da Harami Research, o preço sobre lucro (P/L) da empresa segue a 3,81x, o que indica, na avaliação dele, um pagamento de dividendos próximo a 26%. “O lucro por ação da empresa atingiu 6,40% no ano, aproximando-se de sua máxima histórica, após enfrentar prejuízos em 3 dos últimos 4 anos”, afirma Sobreira. “A receita da Cedro tem crescido mais de 14% ao ano”, afirma Sobreira.
A receita da Cedro também cresceu mais de 14% ao ano e o ROE (Retorno sobre Patrimônio) da empresa também chama atenção: está próximo dos 35%. Segundo Sobreira, o valor é considerado excelente para o setor e acima da máxima histórica da companhia. “A Cedro está em uma trajetória de crescimento e recuperação financeira, o que tem chamado a atenção dos investidores e contribuído para o aumento significativo no valor de suas ações”, avalia o analista da Harami.
O processo de reestruturação de capital da empresa, identificada pelos analistas nos últimos anos, ganhou força com a emissão de CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários) no primeiro trimestre deste ano. Com a operação, a Cedro conseguiu levantar mais de R$ 100 milhões. “Passou a operar no positivo e começou a gerar mais resultado”, diz Paletta.
Apesar dos múltiplos atrativos, a companhia oferece riscos elevados para os investidores. Fabrício Gonçalvez, CEO da Box asset management, cita a baixa liquidez como um dos principais motivos para não estar posicionado no papel. “É um ativo o qual facilmente é manipulável por grandes players. Não vejo uma oportunidade de investimento no patamar que se encontra”, afirma Gonçalvez.
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Ou seja, quando os investidores com posições relevantes realizarem o lucro das ações, a movimentação poderá colocar em risco todo o dinheiro aplicado pelos investidores que enxergaram na Cedro uma oportunidade de investimento.
