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Quem vai ganhar mais se a Selic chegar a 12%? O Santander tem a resposta

Se a Selic realmente subir para 12%, o impacto sobre os diferentes setores e empresas será um ponto chave para investidores e analistas

Quem vai ganhar mais se a Selic chegar a 12%? O Santander tem a resposta
Foto: Adobe Stock

O mercado não descarta a possibilidade de que na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em setembro, haja alta na taxa básica de juros, a Selic. Atualmente, o indicador é de 10,50%. Se subir, pode chegar a 12%.

O estado de alerta não é por acaso: o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o BC está comprometido a fazer o que for necessário para alcançar a meta de inflação, independentemente de quem estará na presidência daqui a quatro meses, quando o mandato dele chegar ao fim.

Além disso, Campos Neto afirmou que a instituição continuará tomando decisões técnicas, com base em dados e indicadores econômicos. A declaração foi feita durante sua participação no evento Macro Day, na terça-feira (20).

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Dois dias depois, durante um evento na Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo, o possível sucessor de Roberto Campos Neto, Gabriel Galípolo, comentou que a principal dificuldade enfrentada pelo Copom não é a necessidade de aumentar os juros, mas, sim, lidar com a inflação acima da meta e as expectativas de inflação se desancorando.

Galípolo também enfatizou que a autonomia do Banco Central (BC) não significa agir de forma arbitrária. “A autonomia do BC não significa ignorar a sociedade ou o governo democraticamente eleito. Pelo contrário: a autonomia visa reforçar esses princípios. A independência do BC existe para que ele cumpra a meta estabelecida por um governo escolhido democraticamente”, afirmou.

Diante dessa expectativa de alta dos juros, o Santander publicou um relatório que analisa o impacto de um possível aumento da Selic, para 12% ao ano em 2025, sobre os resultados das empresas listadas no Ibovespa. A pesquisa indica que, apesar das expectativas iniciais, a alta da Selic não deve ter um efeito negativo tão grande nos lucros das companhias quanto em períodos anteriores devido à redução do endividamento das companhias após a pandemia.

Segundo o relatório, se a Selic se manter em 12% ao longo de 2025, o índice Ibovespa pode registrar uma queda de cerca de 3% nas estimativas de lucros para o ano. Esse impacto, que os analistas Aline Cardoso, Guilherme Motta e Luane Fontes classificam como relativamente pequeno, é atribuído às medidas de desalavancagem financeira tomadas por muitas empresas nos últimos anos, o que reduziu a sensibilidade dos lucros a variações na taxa de juros.

Setores como o de varejo e consumo interno, que dependem diretamente do poder de compra da população, podem sofrer mais com o aumento dos juros, que reduz a capacidade de consumo das famílias e eleva os custos de financiamento. Empresas altamente alavancadas ou com grande parte de sua dívida atrelada à Selic também podem enfrentar maiores desafios, segundo os estrategistas.

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Por outro lado, o banco deixa claro que o aumento da taxa de juros pode beneficiar empresas do setor financeiro, como bancos e seguradoras, que tendem a ter melhores resultados em cenários de juros mais altos devido ao aumento nas margens de lucro com operações de crédito e investimentos em títulos públicos.

Aumento dos juros pode fortalecer credibilidade do BC

O relatório do Santander também observa que, apesar da possibilidade de alta da Selic, o mercado não tem reagido negativamente. Pelo contrário, há uma percepção de que um aumento dos juros pode fortalecer a credibilidade do Banco Central do Brasil (BCB), o que poderia trazer um alívio nas extremidades mais longas da curva de juros.

Os analistas refletem que a recente temporada de resultados do segundo trimestre deste ano também mostrou que muitas empresas continuam otimistas com o restante do ano, o que pode estar contribuindo para um sentimento de confiança no mercado.

Eles lembram que, na semana de 19 a 23 de agosto, o Ibovespa e o índice de Small Caps ficaram relativamente estáveis, mas o período foi marcado por volatilidade dentro dos setores, impulsionada por mudanças abruptas na curva de juros e nas flutuações do real. Segundo o relatório, essa volatilidade foi provocada principalmente pelas declarações oscilantes dos membros do BCB sobre a possibilidade de alta da Selic ainda este ano.

O Santander conclui que a perspectiva internacional deve continuar a desempenhar um papel importante na performance do mercado de ações, especialmente se não houver disrupções na situação fiscal do Brasil. Nos últimos tempos, houve um aumento significativo dos fluxos de investimentos estrangeiros, impulsionando a recente alta do Ibovespa. Por outro lado, investidores locais mantêm uma postura cautelosa, reduzindo suas alocações em ações devido ao receio de que o índice possa ter subido rapidamente demais.

Selic a 12% é uma análise pessimista

O economista-chefe da Nippur Finance, Cristian Pelizza, não nega que o mercado financeiro tem ajustado suas expectativas em relação à Selic para o final do ano, com as projeções de juros refletidas nas curvas do DI Futuro, que representam a percepção do mercado sobre a trajetória das taxas de juros ao longo do tempo.

Nas últimas semanas, segundo ele, observou-se uma precificação que indica uma alta entre 1% e 1,25% na Selic até o final de 2024, o que colocaria a taxa básica de juros entre 11,5% e 11,75%. “Algumas visões, até um pouco mais pessimistas, digamos assim, colocam que a gente pode chegar, sim, a 12% na Selic até o começo do ano que vem. E a expectativa realmente nos direciona para esse lado por uma série de fatores, e acho que principalmente podemos citar um pouco do desajuste fiscal, que piorou a percepção de risco para o Brasil, e empurrou o câmbio para um patamar um pouquinho mais elevado”, diz.

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Além disso, Pelizza lembra que a inflação acelerou recentemente, aproximando-se do topo da meta do Banco Central, e as expectativas inflacionárias para 2025 e 2026 têm se mostrado desancoradas, conforme o Boletim Focus.

Outro ponto de preocupação, conforme ele, é o mercado de trabalho, que continua apertado, indicando uma atividade econômica ainda potente no Brasil, mesmo após dois anos de juros altos.

Por outro lado, diz ele, há elementos que indicam uma possível acomodação das taxas de juros. A expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos é cada vez mais forte, e alguns analistas acreditam que o Brasil já opera com taxas reais de juros elevadas. Considerando a inflação acumulada nos últimos 12 meses, em torno de 4,5%, e a taxa Selic ainda acima de 11% no mesmo período, a política monetária já está em um terreno restritivo.