- Quem abrir o site de Relacionamento com Investidores (RI) da Ambipar (AMBP3) verá que três das sete orientações presente na aba de Cobertura de Analistas indicam compra do ativo com preço-alvos entre R$ 21 e R$ 27,50
- Isso significa que o investidor que seguir a recomendação e comprar a AMBP3 na cotação atual de R$ 190 poderá ter um prejuízo de cerca de 85%, caso o papel atinja o preço-alvo
- Alta de mais de 1000% faz analistas colocaram a ação sob análise; recomendações que indicam compra estão desatualizadas
As recomendações de investimento para a ação que mais sobe na Bolsa em 2024 não acompanharam a alta do papel. Ao que tudo indica, a Ambipar (AMBP3) está passando por uma onda de revisões depois de saltar mais de 1.000% em 2024. Esse descasamento entre o novo preço do papel e os preços-alvo estabelecidos pelos bancos levou boa parte dos analistas a suspender a cobertura da companhia.
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As recomendações que ainda restam no site de Relacionamento com Investidores (RI) da companhia ilustram esse “abandono”. Quem entrar na aba cobertura de analistas verá que três das sete orientações presentes indicam compra do ativo com preço-alvos entre R$ 21 e R$ 27,50. Um investidor que seguisse a recomendação de comprar a AMBP3 na cotação atual de R$ 190 poderia ter um prejuízo de cerca de 85%, caso o papel atinja o preço-alvo.
As recomendações de compra que ainda aparecem no site de RI da Ambipar pertencem ao BTG, ao Santander e ao Citi. Os preços-alvos estabelecidos estacionaram em R$ 21, R$ 25,60 e R$ 27,50, respectivamente, mas, procurados, os bancos disseram que não estão mais acompanhando a empresa e que as indicações para AMBP3 não são atuais. O Bank of America, que aparece com recomendação em revisão, também disse que não cobre mais a companhia há tempos.
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Na última semana, Itaú BBA e XP, que também tinham recomendação de compra, colocaram a AMBP3 sob revisão. As casas indicaram em relatórios que, depois de recentes desenvolvimentos operacionais na empresa e o desempenho das ações, a tese de investimentos precisa de mais análise.
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A única casa que mantém uma análise atualizada das ações da Ambipar é a Ágora Investimentos/Bradesco BBI. Na contramão desse movimento recente de suspensão das recomendações para AMBP3, o banco retomou a cobertura da companhia no início de novembro, com recomendação neutra e preço-alvo de R$ 135 ao final de 2025.
Em relatório, a Ágora explica que, depois de baterem R$ 8 em maio deste ano, os papéis dispararam na Bolsa impulsionados por alguns fatores. Um movimento do acionista controlador para aumentar sua participação de 67% para 73% após follow-on (oferta secundária de papéis no mercado), a recompra de 11,7 milhões de ações (7% do total), o acionista Trustee adquirindo 15% do total de ações em agosto e um short squeeze motivado por tudo isso. “Com base em nosso modelo, as ações parecem estar refletindo a implementação bem-sucedida do novo plano de recuperação anunciado em maio, que de fato é transformacional”, diz o documento.
A expectativa é de que essas mudanças operacionais expandam a margem de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (margem Ebitda) da companhia para 33,7% até 2027; um cenário base “conservador”, segundo a Ágora. “Preferimos esperar a materialização desse novo plano e então revisitar a tese de investimento. Por enquanto, o risco/retorno parece equilibrado. AMBP3 é negociada a 13,6x o múltiplo EV/Ebitda (valor da empresa sobre o Ebitda) para 2025, ou 6% de desconto em relação aos pares globais”, destaca a corretora.
Procurada, a Ambipar não comentou sobre as decisões dos bancos de colocar a ação AMBP3 sob revisão, mas disse que mantém o site de RI atualizado.
O que faz ações subirem mais de 1.000% em 2024?
Até o fim de junho, os papéis da Ambipar acumulavam perdas na Bolsa brasileira. O cenário começou a mudar radicalmente em julho, quando o CEO da empresa, Tércio Borlenghi Junior, anunciou que estava aumentando sua participação acionária na companhia para 73,135% do capital social total e votante, o equivalente a 122.165.450 ações.
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A decisão, segundo ele, teve como objetivo reforçar o seu compromisso no investimento na Ambipar, sem intenções de alterar a estrutura administrativa. Disse ainda que a operação foi apenas uma consolidação do controle da empresa exercido por ele, em um momento em que as condições de mercado lhe pareceram favoráveis.
Mas Borlenghi não foi o único a ampliar sua posição na empresa. Outro player de destaque – a gestora Trustee, supostamente relacionada ao megaempresário Nelson Tanure – também anunciou que estava comprando ações da Ambipar.
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O primeiro comunicado ao mercado foi enviado em 12 de julho, quando fundos da gestora passaram a deter 11.030.300 papéis da empresa, o correspondente a 6,60% do capital social. Depois disso, a Trustee fez mais dois anúncios ao mercado, em 25 de julho e 9 de agosto, alertando sobre novos aumentos de posição.
A gestora chegou a ter 15,03% do capital social da Ambipar, equivalente a 25.117.800 papéis. Em outubro, porém, a Trustee reduziu sua participação acionária na empresa para 11,89% do capital social, que representa um montante de 19.862.870 ações ordinárias.
Conforme mostramos nesta reportagem, o consenso dos analistas é de que as ações da Ambipar subiram devido a um movimento de short squeeze. Ele acontece quando investidores com posições vendidas (short) desfazem suas apostas na queda do papel e recompram a ação para zerar a posição. Isso gera um efeito em cascata: outros players que estão na mesma situação, ao verem os investidores desistirem de suas posições, fazem o mesmo, o que eleva a pressão de compra do ativo e faz seu preço disparar, como o que aconteceu com a Ambipar, que já subiu 1.069,23% em 2024 até o fechamento desta quinta-feira (21).
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No entanto, os analistas Victor Mizusak, do Bradesco BBI, e Ricardo França e Larissa Monte, da Ágora Investimentos, apontam que o preço das ações da Ambipar pode ter um desempenho inferior se os principais acionistas reduzirem suas posições na companhia. “A estrutura altamente concentrada e, consequentemente, o volume médio diário limitado de negociação podem representar um risco para o desempenho do preço dos ativos no caso de esses acionistas começarem a reduzir suas participações na empresa”, afirmam em relatório.
Ambipar tem receita recorde no 3º trimestre
Na parte de fundamentos, a Ambipar reportou lucro líquido de R$ 44,5 milhões no terceiro trimestre de 2024, uma alta de 27,9% em relação ao resultado observado no mesmo período de 2023. Já a receita líquida bateu recorde e alcançou R$ 2,1 bilhões, um crescimento anual de 79,5%. Outro resultado que atingiu uma marca histórica foi o Ebitda, que alcançou R$ 515,3 milhões no período, avanço de 37,0% em relação ao terceiro trimestre de 2023.
Em entrevista ao E-Investidor nesta matéria, João Arruda, CFO (diretor financeiro) da Ambipar, destacou que a receita da empresa veio de forma diversificada no trimestre, o que traz a confiança de que esse resultado vai continuar a ser sustentável nos próximos meses.
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Entre os destaques do balanço, o capex (investimento em bens de capital que uma empresa faz para crescer ou manter suas operações) alcançou o menor patamar em relação à receita já registrado pela companhia. O indicador representou 6,3% da receita líquida no terceiro trimestre deste ano e 9,0% da receita líquida ajustada.
Na opinião de Arruda, se a Ambipar (AMBP3) continuar entregando resultados como o do terceiro trimestre, as ações da empresa têm potencial para manter a tendência de alta. Ele acredita que, quando comparados com os pares globais, os papéis da companhia ainda operam com desconto expressivo, mesmo cotados na casa de R$ 190.