O que este conteúdo fez por você?
- Por ordem da Justiça Federal, foi determinado o bloqueio de bens e valores dos ex-diretores da Americanas, ultrapassando R$ 500 milhões
- PF diz que ex-CEO e ex-diretora da empresa estão foragidos
- MPF diz que há evidências que sugerem a ocorrência de crimes como manipulação de mercado
A Polícia Federal (PF) conduziu uma operação contra o ex-CEO da Americanas (AMER3), Miguel Gutierrez, e ex-diretores da varejista. A operação da PF em colaboração com o Ministério Público Federal (MPF) foi batizada de Operação Disclosure. Em nota, a instituição comunicou que cerca de 80 policiais federais cumpriram dois mandados de prisão preventiva, um para Miguel Gutierrez (ex-CEO) e outro para Anna Christina Ramos Saicali (ex-diretora). Ambos continuam foragidos.
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A PF também emitiu outros 15 mandados de busca e apreensão nas residências de ex-diretores. O Ministério Público informou que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) prestou apoio técnico durante a investigação. Por ordem da Justiça Federal, foi determinado o bloqueio de bens e valores dos ex-diretores, ultrapassando R$ 500 milhões.
Em nota enviada ao E-Investidor, a Americanas reiterou sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforçou que foi vítima de uma fraude de resultados pela antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes. “A Americanas acredita na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos”, informou a empresa.
Na visão dos analistas ouvidos pelo E-Investidor, a operação da Polícia Federal tem pouco impacto na companhia. Segundo Artur Horta, especialista em investimentos da GTF Capital, o investidor que tinha o papel antes da descoberta da fraude contábil é o único que pode se beneficiar dessa investigação.
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“Caso seja feita uma investigação que conclua que o investidor minoritário foi lesado e tenha direito a receber uma indenização, quem possuía a ação da companhia antes da descoberta do rombo pode ser dar bem”, afirma Horta. Já no caso do investidor posicionado no curto prazo, o impacto é praticamente zero, visto que a Americanas possui uma nova diretoria com uma governança ajustada.
Na visão de Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos, o mercado está mais preocupado hoje com o processo de recuperação judicial da empresa do que com a investigação da fraude. Isso porque o rombo bilionário descoberto já foi precificado e é algo que já reflete na ação. Ele lembra que os prováveis punidos pela fraude tendem a ser somente os antigos diretores e não a empresa.
“A Americanas colabora com as investigações e diz ter sido vítima de uma fraude de sua antiga diretoria. Acho pouco provável que a investigação respingue sobre a empresa. Até o momento, são os ex-diretores que devem pagar por tudo”, argumenta Luives. Por outro lado, Acilio Marinello, partner da essentia consulting, comenta que tudo é possível e a própria empresa pode ser considerada culpa.
Ele lembra que há muita incerteza em torno do caminho final da investigação, visto que ele está no começo. Sendo assim, o investidor pode até se preocupar com qualquer punição que a empresa deve sofrer. “A companhia se diz vítima, mas nós não sabemos se essa será a conclusão da investigação. Vejo que o cenário é muito incerto. Por isso, o investidor deve ter muito cuidado”, aponta Marinello.
Investidor deve comprar ou vender as ações da Americanas?
Ele diz que, se a companhia for considerada culpada, pode ter de pagar alguma indenização para os investidores, tendendo a pressionar o caixa da Americanas e possivelmente sufocar ou atrasar a trajetória da companhia para sair da recuperação judicial.
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“Essa investigação ainda sem definição final e a já difícil situação da empresa com a recuperação judicial são dois fatores que mostram que o melhor para o investidor é não ter a ação. Ou seja, caso o investidor tenha o papel antes da descoberta da fraude, o melhor é vender os ativos e aceitar o prejuízo”, diz Marinello
Horta, da GTF Capital, aponta que ficar no papel em busca de recuperar o que foi perdido pode ser considerado um erro. Caso a pessoa opte por esse caminho, a perspectiva é de uma forte diluição na participação do acionista. “A redução da participação acionária total deve ocorrer devido aos aportes dos bancos e dos acionistas de referência da empresa. Esse montante aumenta a quantidade de ações da empresa, resultando em uma menor participação acionária do investidor minoritário que já estava lá”, relata.
No fim do ano passado, a Americanas aprovou seu plano de recuperação judicial com um aporte de R$ 12 bilhões de seus acionistas de referência, Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles. Os bancos, que são credores da companhia, devem fazer outro aporte de R$ 12 bilhões de forma mais indireta. Eles reduzem a dívida da empresa nesse valor e recebem o montante como ações da companhia.
Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Santander (SANB11) e BTG Pactual (BPAC11) são os bancos que estão nesse bolo. Na última sexta-feira (21), a empresa aprovou seu aumento de capital, mas ele só deve ser homologado pelo conselho de administração em julho. Ou seja, esses aportes ainda devem acontecer, o que diluirá o acionista minoritário nos próximos meses.
Devido a todos os riscos e problemas apresentados pela Americanas, o consenso é que o investidor não deve entrar no papel. Caroline Sanchez, analista da Levante inside corp, lembra que o investidor tem outras alternativas para alocar recursos no setor de varejo, como o mercado Livre. “O Mercado Livre é uma empresa consolidada, líder do e-commerce na América Latina e, por isso, acreditamos que ela seja a melhor do setor para o investidor comprar agora”, diz Sanchez.
Relembre o caso Americanas
No dia 11 de janeiro de 2023, a Americanas enviou um comunicado ao mercado reportando “inconsistências contábeis” de R$ 43 bilhões nos balanços. Oito dias depois do anúncio do rombo financeiro, em 19 de janeiro de 2023, a Americanas entrou em recuperação judicial.
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Após a divulgação do rombo – que no início era de R$ 20 bilhões –, Sérgio Rial deixou o cargo de presidente da varejista acompanhado do então diretor de Relações com Investidores, André Covre. Os executivos haviam tomado posse há menos de dez dias. Atualmente, Leonardo Coelho é o CEO da empresa.
No dia seguinte à descoberta, Rial declarou em evento do BTG Pactual que o impacto bilionário da companhia estava relacionado ao “risco sacado, que não era lançado como dívida”.
Segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o “risco sacado” consiste em uma modalidade de antecipação de recebíveis. Ou seja, “a companhia vendedora emite uma fatura que contempla o prazo a ser financiado pelo banco, porém não reconhece em sua contabilidade a venda pelo valor presente. E com isso apresenta um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) maior”.
Assim, a empresa compradora consegue distorcer sua real situação financeira. O Ebitda, por sua vez, serve como “um indicador bastante útil para medir o potencial de geração de caixa da empresa”, afirmou a Rico Investimentos, em relatório.
A PwC, empresa que realizava as auditorias da Americanas (AMER3), negou responsabilidade por “inconsistências contábeis” da varejista na ação civil pública proposta pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor e Trabalhador (Abradecont). No processo, a Abradecont pede a responsabilização da auditoria e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por omissão e negligência. Entretanto, no final de junho deste ano, a auditoria foi substituída pela BDO.
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Vale destacar também que a CVM abriu processos administrativos para investigar a Americanas, além de ter recebido uma denúncia contra a companhia. Bancos e corretoras colocaram as ações da varejista sob revisão e as principais agências de classificação de risco – Moody’s, Fitch e S&P Global Ratings – rebaixaram os ratings da companhia após a descoberta do rombo contábil.
Funcionários da Americanas (AMER3) e sindicatos protestaram em frente a uma loja da empresa no Centro do Rio de Janeiro, em fevereiro. O grupo reclamava de demissões e temiam perda de direitos trabalhistas em meio ao turbilhão judicial do caso. Em junho de 2023, a Americanas divulgou a lista de quais seriam os executivos que seriam investigados.
Confira quem são os executivos acusados de fraude pela Americanas
Miguel Gutierrez
Gutierrez tem longa carreira na varejista. O engenheiro entrou na empresa em 1993 e passou por áreas como operações, financeira e logística. Esteve à frente do cargo de CEO das Americanas desde 2001 até dezembro de 2022, quando deu lugar ao executivo Sérgio Rial, que revelou o rombo da empresa em janeiro de 2023.
Miguel Gutierrez tinha um perfil discreto, ausente de redes sociais. O ex-CEO raramente concedia entrevistas. Ele era o principal homem de confiança de Beto Sicupira, um dos três principais acionistas da empresa, no negócio.
Anna Saicali
A ex-diretora da varejista está na empresa desde 1997 e foi CEO da AME Digital, carteira digital da Americanas. Formada em artes plásticas e em finanças corporativas, passou pelas áreas de recursos humanos e tecnologia.
Saicali foi diretora presidente da B2W de 2004 a 2018, depois assumiu a presidência do conselho administrativo da companhia até o ano de 2021. A ex-diretora está afastada de suas funções executivas desde desde 3 de fevereiro de 2023. Na época, a Americanas disse que seu desligamento da empresa já foi determinado pela administração.
José Timótheo de Barros
José Timotheo Barros foi vice-presidente de lojas físicas, logística e tecnologia da empresa. Com carreira na companhia desde 1996, onde começou como trainee, tinha atribuições relacionadas com relação com fornecedores, lojistas terceirizados, entregadores e gestão de estoque.
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Barros foi afastado de suas funções executivas 3 de fevereiro de 2023 e comunicou sua renúncia em 1 de maio do mesmo ano.
Márcio Cruz Meirelles
O executivo foi presidente da B2W entre 2018 e 2021, quando ocorreu a fusão com a Americanas. A partir de 2021, assumiu o cargo de CEO de digital da empresa. Cruz também foi afastado em 3 de fevereiro e já teve o seu desligamento determinado pela administração da Americanas.
Fábio da Silva Abrate
O executivo está na empresa desde 2003 e já passou pelo posto de diretor financeiro e esteve à frente da contabilidade da empresa pelos últimos anos. Abrate é mais um dos afastados em 3 de fevereiro de 2023 e com desligamento determinado agora.
Flavia Carneiro
Também vinda da fusão com a B2W, Carneiro atuava como superintendente de controladoria da companhia. Foi afastada das funções em fevereiro e está desligada da empresa.
Marcelo da Silva Nunes
Outro executivo fruto da fusão com a B2W em 2021, Nunes era diretor financeiro da Americanas. O executivo está afastado das funções desde fevereiro e agora foi desligado da empresa.
Vale lembrar que o processo está em investigação, e todos da listas são considerados pela lei inocentes até que se prove o contrário.
* Colaboraram: Iuri Gonçalves, Luiza Lanza e Artur Nicoceli. Com informações do Broadcast