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- No final, pela nova metodologia, o fluxo estrangeiro no ano foi atualizado para R$ 64,1 bilhões - um corte de R$ 27 bilhões nos números. Os dados de 2021 e 2020 também estão sendo revisados e, provavelmente, ficarão menores
- Contudo, apesar do baque inicial, os especialistas consultados pelo E-Investidor não viram impacto significativo nas expectativas. “Continua sendo um dado extremamente positivo”, afirma Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital
Durante todo o primeiro trimestre, um dos principais assuntos no mercado foi o fluxo estrangeiro recorde para a B3. Até o dia 31 de março, os dados relacionados ao saldo de investimento externo na bolsa apresentavam uma forte alta no ano, de quase R$ 91,1 bilhões.
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Esse volume significava que, entre janeiro e março, os gringos teriam deixado por aqui quase o mesmo montante que deixaram ao longo dos 12 meses de 2021, de R$ 100,5 bilhões, o recorde até então. Muitos analistas e gestores já se preparavam para a ‘festa dos R$ 100 bilhões. Mas em 1 de abril a B3 anunciou que havia um erro nos cálculos.
“As estatísticas divulgadas para os anos de 2020, 2021 e 2022 incluíram operações de empréstimos de ações, que não correspondem a fluxos financeiros de compra e venda de ativos. Na nova metodologia, esses dados foram subtraídos das estatísticas, alterando os valores anteriormente divulgados”, afirma a B3 em comunicado publicado no site.
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No final, pela nova metodologia, o fluxo estrangeiro no ano foi atualizado para R$ 64,1 bilhões – um corte de R$ 27 bilhões nos números. Os dados de 2021 e 2020 também estão sendo revisados e, provavelmente, ficarão menores.
“Para a B3, é importante dar transparência e fazer a correção dos dados sobre o fluxo de investidores estrangeiros na bolsa. Fizemos os ajustes e mudamos a metodologia para garantir que as informações estão precisas”, afirma Tarcísio Morelli, diretor de Inteligência de Mercado da B3.
Antes da notícia, a XP havia elevado o preço-alvo do índice de 123 mil pontos para 130 mil pontos até o fim do ano. No relatório, os analistas Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig ressaltaram que o fluxo externo deveria continuar forte para os próximos meses devido ao crescente otimismo em relação ao mercado brasileiro.
Contudo, apesar do baque inicial, os especialistas consultados pelo E-Investidor não viram impacto significativo nas expectativas. “Continua sendo um dado extremamente positivo”, afirma Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital. “São dados que não estão nos dando perspectiva futura, são dados do passado.”
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Para Thomás Giuberti, economista e sócio da Golden Investimentos, a revisão do cálculo ‘pegou‘mal’ no mercado, mas pode gerar um otimismo adicional. “Péssimo, mas no final das contas mostra que tem muito por vir ainda”, afirma.
No ano, o Ibovespa segue na contramão dos pares e acumula uma alta de 16,70%, enquanto o dólar cede 17,3%, passando de R$ 5,57 para R$ 4,60, menor patamar desde o início de 2020.
Leia na íntegra a opinião dos especialistas:
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital
“A revisão que foi anunciada na última semana não mudou a expectativa do investidor doméstico sobre a evolução da nossa Bolsa. O fluxo saiu de R$ 91 bilhões para a casa dos R$ 64 bilhões no primeiro trimestre, ainda é um resultado extremamente positivo.
Isso significa mais de 60% do que tinha sido em 2021, cujos dados estão sob revisão e pode ser que sejam menores também. Esses dados nos mostram via retrovisor o que aconteceu, não estão mostrando expectativas futuras. Quando temos esse dado consolidado, os efeitos sobre a Bolsa já foram sentidos.
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E os indicadores efetivos de Brasil estão muito positivos. Estamos muito bem posicionados em relação ao mercado internacional para aproveitar os movimentos de demanda global. O Brasil também tem uma das taxas de juros mais atrativas para o investidor estrangeiro e isso faz com que o país se torne uma boa oportunidade para o investidor de modo geral.
Esse dado (de fluxo estrangeiro) não se tornou ruim, apenas menos positivo. Por mais que tenha sido um dado cuja magnitude inicialmente assusta, os fundamentos que o sustentaram se mantém.”
Kaue Franklin, especialista em renda variável do Grupo Aplix
“Antes, a B3 vinha contabilizando no fluxo as operações de empréstimos de ações em tela do mês. Como essas operações não envolvem novos aportes financeiros, não deveriam contar como entrada de investimentos estrangeiros na Bolsa. Esse, na verdade, não foi um erro. Não mudou o ‘passado’, mudou só a metodologia de cálculo, por isso não irá alterar nossas projeções futuras para o Ibovespa.”
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos
“Eu não acredito que mude muito as projeções. O fluxo estrangeiro segue bem forte e interessado no Brasil e em outros mercados emergentes e exportadores. Isso vem sustentando a alta do Ibovespa no começo de ano.
O movimento é o contrário do que observamos nos investidores locais; a Anbima reporta que estão cada vez mais tirando dinheiro de fundos de ações e indo para a renda fixa. É claro que para o resto do ano, a eleição vai ganhar um protagonismo, mas de qualquer forma ainda temos um cenário externo muito favorável, com commodities em tendência de alta.
O mundo ainda está crescendo bastante, ainda com inflação bem alta. A guerra entre Rússia e Ucrânia vai provocar impactos nas safras de agosto em diante, o que vai sustentar as commodities em patamares elevados, mantendo o interesse nos emergentes exportadores como o Brasil.
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Isto é, por mais que as eleições ganhem protagonismo por aqui, o investidor estrangeiro irá olhar para o mercado brasileiro com a visão do ‘copo meio cheio’. Por isso que não entendo que essa alteração no cálculo mude muito, porque o interesse [do investidor estrangeiro] segue muito vivo.”
Thomás Giuberti, economista e sócio da Golden Investimentos
“Pegou muito mal a questão do fluxo. Caiu de forma ‘péssima’, o mercado fica revoltado e isso mostra a fragilidade da B3. Entretanto, mostra também que tem muito por vir ainda, tem muito capital a chegar.
Então, por um lado tem algo positivo, porque antes estávamos pensando em quase R$ 90 bilhões, e ficavam as dúvidas se haveria mais fluxo além disso. E na verdade era um dado menor. Agora, em R$ 60 bilhões, fica a expectativa de que venha muito mais fluxo e impulsione muito mais a Bolsa.”