Mercado

Bancos nacionais deixam topo do ranking de retorno sobre patrimônio

O Santander Brasil perdeu a liderança de 2019 e de 2020 para o banco Capital One Financial Corporation

Bancos nacionais deixam topo do ranking de retorno sobre patrimônio
Apesar da queda de posição, o Santander Brasil continua na lista junto a outros três bancos com operações no Brasil: Itaú Unibanco, Banco do Brasil e Bradesco (Foto: Nilton Fukuda/Estadão)
  • Levantamento feito pela plataforma TC/Economatica que analisou a rentabilidade de 39 bancos de várias nacionalidades com um total de ativos acima de US$ 100 bilhões e que são listados ou que possuem ADRs (American Depositary Receipts, na sigla em inglês) na bolsa de Nova York
  • Nos anos de 2019 e de 2020, o topo desse ranking era ocupado pelo Santander BR (SANB11) que apresentou, respectivamente, retornos de 21% e de 17,9% sobre o patrimônio investido pelos acionistas. Em 2021, o banco ficou em terceiro lugar na lista
  • A perda da liderança também é avaliada pelos analistas como um dos efeitos do processo de descentralização bancária que segue em curso no País

Os bancos brasileiros perderam a liderança no ranking das instituições financeiras com os maiores Retornos sobre o Patrimônio (ROE, sigla em inglês) em 2021, mesmo apresentando aumento percentual no indicador em relação ao ano de 2020.

É o que aponta um levantamento feito pela plataforma TC/Economatica que analisou a rentabilidade de 39 bancos de várias nacionalidades com um total de ativos acima de US$ 100 bilhões e que são listados ou que possuem ADRs (American Depositary Receipts, na sigla em inglês) na bolsa de Nova York.

Nos anos de 2019 e de 2020, o topo desse ranking era ocupado pelo Santander Brasil (SANB11) que apresentou, respectivamente, retornos de 21% e de 17,9% sobre o patrimônio investido pelos acionistas. Em 2021, o banco ficou em terceiro lugar na lista mesmo apresentando uma alta de um ponto percentual no indicador em um ano.

Publicidade

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

Já o título da instituição financeira com o maior ROE do mundo ficou com o banco norte-americano Capital One Financial Corporation, que apresentou uma rentabilidade de 20,4% no ano passado.

Apesar da queda de posição, o Santander continua na lista junto a outros três bancos com operações no Brasil: Itaú Unibanco, Banco do Brasil e Bradesco.

Além disso, a perda de espaço no ranking não significa que essas instituições apresentaram quedas nas suas rentabilidades. Pelo contrário, os quatro maiores bancos com operações no País registraram ganhos percentuais no ROE.

O Itaú Unibanco, que já ocupou o primeiro lugar em 2017, foi o maior destaque entre esse grupo com uma alta de 5,4 pontos percentuais de 2020 a 2021. O problema é que esse aumento não foi o suficiente para garantir a liderança na lista.

Publicidade

Há algumas razões que explicam a perda de liderança das instituições financeiras do País. Um dos pontos citados por Renan Manda, analista-chefe do setor financeiro da XP, está relacionado à pandemia. De acordo com ele, os grandes bancos brasileiros costumam repassar, historicamente, cerca de 40% do seu lucro para o pagamento de dividendos e de Juros sobre Capital Próprio (JCP) para os acionistas.

O problema é que, com a multiplicação de casos de covid-19 e o fechamento de parte das atividades por causa da pandemia, o Conselho Monetário Nacional (CNM) obrigou as instituições financeiras a repassar apenas o percentual mínimo que correspondia a uma média de 25%.

“Muitos dos bancos tiveram aumento no provisionamento (recursos para futuros prejuízos) dos resultados e não puderam distribuir o seu lucro. Você tinha um patrimônio “inchado”. Em 2020, o que eles (os bancos) distribuíram foram abaixo da média”, afirma Manda.

O crescimento da inflação também é outro fator que contribuiu em um curto prazo para a perda de liderança dos bancos brasileiros no ranking. Gustavo Pazos, analista do time de research da Warren, explica que a inflação no acumulado dos últimos 12 meses aumenta a inadimplência entre os correntistas. “As pessoas não vão deixar de comprar uma cesta básica ou abastecer o veículo para pagar uma parcela do financiamento porque essa despesa não é considerada básica”.

Já a alta de juros traz um impacto diferente para a rentabilidade bancária. Segundo Larissa Quaresma, analista da Empiricus, os bancos demoram para repassar as variações da Selic para os seus financiamentos. Isso quer dizer que, quando a taxa básica de juros aumenta, os bancos demoram para reajustar as suas taxas cobradas nos empréstimos. O efeito disso não poderia ser diferente em momentos de sucessivas altas: a corrosão da rentabilidade.

Publicidade

“É um cenário catastrófico para os bancos quando a taxa de juros está muito baixa e começa a subir porque o banco cobra pouco nos empréstimos e o custo de captação também sobe, acompanhando a Selic”, destaca Quaresma.

Descentralização bancária

A perda da liderança também é avaliada pelos analistas como um dos efeitos do processo de descentralização bancária que segue em curso no País. Nos últimos anos, os bancos digitais e fintechs conquistaram uma parcela do mercado que antes era exclusiva para as instituições tradicionais.

“Aumentou a competitividade no mercado que antes os grandes bancos lideravam. As fintechs e os bancos digitais não têm agência física, o que reduz os custos operacionais”, ressalta Guilherme Ishigami, broker da mesa de renda variável da RJ Investimentos. Para ele, esse processo deve ser acelerado com o início do Open Banking, sistema de compartilhamento de dados entre as instituições financeiras em processo de implementação pelo Banco Central desde o ano passado.

Diante desta concorrência, Quaresma afirma que os bancos tradicionais foram obrigados a reduzir o preço das suas tarifas e aumentar o número de serviços gratuitos. “Isso também foi um fator amplificador desta destruição de rentabilidade", acrescenta.

O que é o ROE?

O Retorno sobre Patrimônio (ROE) é um indicador que mostra ao investidor a rentabilidade em cima do patrimônio investido em uma companhia. Segundo Pazos, da Warren, essa métrica é mais importante para quem pretende ter posição no setor bancário.

Isso porque, segundo ele, os investidores costumam olhar para o Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA, sigla em inglês) para ver a geração de caixa das companhias.

No entanto, como os bancos ganham dinheiro com os juros, o EBITDA não é visto como um indicador ideal para o setor bancário por desconsiderá-los. Por isso, o analista da Warren ressalta que o ROE é a principal métrica para analisar a rentabilidade das instituições financeiras.

Publicidade

“O ROE diz para o acionista o retorno sobre o patrimônio que ele investiu na companhia e substitui o EBITDA para os bancos. Os analistas utilizam esse indicador para ver qual banco tem um retorno maior em relação ao patrimônio investido”, explica Pazos.

Informe seu e-mail

Faça com que esse conteúdo ajude mais investidores. Compartilhe com os seus contatos