“É um cargo essencial e totalmente ligado à área fiscal”, explica Danilo Luna, consultor da Ivest. “Uma má gestão refletiria nas empresas brasileiras, já que nossa trajetória fiscal seria pior e as condições econômicas do País também ficariam piores. Poderia influenciar, inclusive, na própria trajetória dos juros brasileiros.”
Formado em economia pela Universidade Federal Fluminense e doutor pela Fundação Getúlio Vargas, Funchal já foi secretário da Fazenda do Espírito Santo entre 2017 e 2018 – quando o estado foi o único a receber nota máxima em relação à capacidade de pagamento de dívidas. O economista também atuou por mais de 10 anos como professor na FUCAPE Business School e, desde janeiro de 2019, trabalhava como diretor de programas no Ministério da Economia.
A indicação de Bruno Funchal foi feita pelo próprio antecessor, Mansueto Almeida, em conjunto com Paulo Guedes. Para os especialistas consultados pelo E-Investidor, o novo nome indica uma continuidade nos trabalhos de controle fiscal que já vinham sendo executados no Tesouro Nacional e que eram bem vistos pelo mercado financeiro.
- Danilo Luna, consultor da Ivest
“Eu vejo como um bom nome, já que o próprio Mansueto, que é uma das pessoas que mais entende de contas públicas no Brasil, endossou o nome dele. Realmente uma indicação técnica. Além disso, Funchal sempre foi um acadêmico na sua trajetória profissional e isso faz com que ele tenha um perfil comunicador que pode agregar muito para o diálogo com os estados. O desafio agora é grande, já que temos um déficit público enorme e o novo secretário vai ter que trabalhar bastante nos bastidores para fazer articulações, cumprir o teto de gastos, que é uma das coisas críticas do atual Governo, e ajudar na elaboração de políticas públicas.
O investidor estrangeiro e local olham muito para a situação fiscal do País para entender se é confiável e tem uma trajetória fiscal saudável. Quando você tem um País com um histórico fiscal turbulento, isso afasta os investidores, já que eles buscam o máximo de previsibilidade nas aplicações. Ou seja, se o nome não agrada o mercado, isso acabaria gerando desconfiança no investidor estrangeiro e, consequentemente, desestimularia a colocação de recursos no País.
É um cargo sensível, que dá sinalização para o mercado. Uma má gestão refletiria nas empresas brasileiras, já que nossa trajetória fiscal seria pior e as condições econômicas do País também ficariam piores. Poderia influenciar, inclusive, na trajetória dos juros brasileiros. O investidor pessoa física sentiria esse impacto indiretamente, mesmo que não soubesse avaliar.”
- João Beck, especialista em investimentos e sócio da BRA
“Foi uma boa escolha. O Funchal tem título, conhecimento teórico e um bom histórico. A atuação dele à frente da Secretaria da Fazenda do Espírito Santo foi exemplar. Manteve o Espírito Santo como o único estado avaliado com nota A no Tesouro Nacional com relação a capacidade de pagamento de dívidas.
Por ser um profissional técnico com passagem em órgão público, sem envolvimento em cargo político, é algo positivo aos olhos do mercado. É importante que ele seja uma pessoa alheia à política e que tenha um alinhamento com o ministro Guedes.
Um profissional técnico à frente dos gastos públicos, ainda mais nesse momento de pandemia, é acreditar que uma racionalidade maior deve ser tomada nas decisões. Acredito que isso traga sim um contexto favorável dentro de mercado que já tem instabilidade política.
Em relação aos investimentos, o fato de ser uma pessoa que transmite pragmatismo, faz com que o mercado confie na boa gestão do orçamento público. Com isso, diversas variáveis podem se manter comportadas, como câmbio, inflação e taxas de juros. E mais: com bom ambiente econômico podemos atrair investimentos internos e externos para o setor produtivo no Brasil.”
- Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset
“Não tenho absolutamente nenhuma preocupação com a indicação do Bruno Funchal. O novo secretário é do grupamento da Fazenda, tem um conhecimento técnico enorme apesar da juventude, além de ser da linha fiscalista, do próprio Mansueto.
O que Mansueta tinha, que o Bruno ainda não tem, é essa comunicação com o mercado bem desenhada, mas isso é questão de tempo. O Funchal também é conhecido e as pessoas sabem da linha que ele segue. Então o novo nome não é ‘ponto de virada’, ele dá continuidade, o que é positivo.
O cenário é desafiador e vai ser uma escola monstruosa para ele. O fato de ser uma pessoa que se comunica bem, também pode ser uma vantagem com o Congresso.”
- Pedro Paulo Silveira, economista-chefe de Nova Futura Investimentos
“O Mansueto teve uma experiência muito positiva no Tesouro Nacional com o mercado financeiro. Como existia uma visão positiva da sociedade e dos investidores, fazer uma troca não é agradável. Mas o próprio Bruno Funchal já teve uma aprovação quando exerceu o cargo como secretário de estado do Espírito Santo. Então o mercado já o conhece e isso mitiga os potenciais problemas que poderiam ocorrer no caso dessa troca.
Ele vai assumir e não deve enfrentar uma situação traumática, porque é um nome técnico. Se não fosse, levaria à desconfiança do mercado.”
- Étore Sanchez, economista-chefe de Ativa Investimentos
“Uma indicação ruim poderia afetar a gestão da dívida que já existe. Se uma empresa está rodando bem e você coloca uma pessoa incompetente ali, fica mais difícil a gestão e a perspectiva de que a instituição continuará funcionando. Mas não é esse o caso.
Funchal é um profissional gabaritado e que já teve experiências de sucesso em gestão de governo. A minha expectativa é boa, dado esse histórico dele, e a indicação de que ele deve manter o trabalho do Mansueto em relação aos aspectos fiscais. Outra coisa positiva é que ele já trabalhava no ministério da economia, portanto, o cargo não vai gerar um choque de relacionamento com a equipe. Foi realmente uma escolha muito boa.”