- Depois de cair 12,4%, o principal índice de Tóquio hoje encerrou as negociações com alta de 10,23%
- As Bolsas de Valores de Nova York, e até mesmo a brasileira, operam com ganhos nesta terça-feira
- Na avaliação de especialistas, houve “exagero” na reação do mercado sobre a possível recessão nos EUA e a alta de juros no Japão
Após um dia de caos no mercado financeiro mundial, a sessão desta terça-feira (6) nas Bolsas de Valores tem um cenário completamente diferente. O principal índice de Tóquio, que caiu 12,4% na véspera, hoje encerrou as negociações com alta de 10,23% — maior ganho diário desde 2008. Em Nova York, a situação é parecida, e aqui no Brasil o Ibovespa também opera com alta. O que está acontecendo?
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O caos no mercado financeiro da última segunda-feira teve dois países como pano de fundo: os Estados Unidos, cujos dados econômicos para alguns sinalizaram uma possível recessão americana, e o Japão, onde o Banco Central elevou a taxa de juros. Sob essa perspectiva, o VIX (Volatility Index em inglês, mais conhecido como “índice do medo”) operou em alta e chegou a disparar cerca de 170%, maior avanço desde o anúncio do início da pandemia em março de 2020.
Em meio a essa aversão ao risco que tomou conta dos mercados ao redor do mundo, muitos investidores ainda correram para desmontar suas posições de carry trade — operação que aproveita os juros baixos de um país para pegar empréstimo e aplicar em outros em que os juros estão mais elevados. “Os investidores tomavam dinheiro emprestado no Japão para tirar proveito dessa diferença”, explica Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
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Esse cenário, no entanto, contrasta com o que é visto nas Bolsas de Valores ao redor do mundo nesta terça-feira. Até as 15h53, os principais índices americanos, S&P 500, Dow Jones e Nasdaq, subiam 2,321%, 1,85% e 2,52%, respectivamente. O Ibovespa, por sua vez, apresentava alta de 1,3%, aos 126,9 mil pontos.
O que explica o caos e a recuperação do mercado financeiro?
Para o economista-chefe do UBS, Paul Donovan, não há explicações concretas para o tombo do índice da Bolsa do Japão, nem para a valorização nesta terça. “Os fundamentos econômicos não estão impulsionando os preços das ações — nenhum dado econômico justificou a queda de 12% de ontem, muito menos para a alta de 10% de hoje”, afirma.
Donovan aponta ainda que o pregão desta terça-feira não é marcado por divulgações econômicas — isso sob o ponto de vista internacional, visto que no Brasil a ata do Copom movimentou o Ibovespa. “Mas os mercados parecem ser independentes da economia do mundo real. O Banco Central do Japão (BoJ), o Ministério das Finanças e o regulador financeiro do país estão supostamente se reunindo hoje. É difícil imaginar o que virá disso, mas é muito improvável que o BoJ volte atrás em seu aumento na taxa de juros.”
Pensamento semelhante é compartilhado pelo CEO do Bradesco (BBDC4), Marcelo Noronha. Na coletiva de resultados do banco, ele classificou a reação do mercado asiático a uma provável recessão econômica nos EUA como algo absolutamente ‘exagerada’. “Havia dúvidas [em relação ao] corte de juros nos EUA, porque a atividade estava colossal. A economia americana está bombando. Eu acho a reação de hoje absolutamente extremada”, afirmou.
Na avaliação do economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, também houve um exagero por parte dos investidores no pregão de 5 de agosto. Ele lembra que de sexta-feira (2) para cá três eventos no mercado financeiro alimentaram a cautela ao redor do mundo. “Primeiro foi o derretimento da Treasury de dez anos, cujo rendimento estava em 4,2 e caiu para 3,8, a apreciação brutal do iene (USD/JPY), que era 170 e ficou abaixo de 150, e a queda da bolsa de Tóquio na sexta e na segunda-feira”, diz.
Mesmo assim, Gala afirma que o cenário de cautela deve permanecer pelas próximas sessões. Em sua avaliação, as operações de carry trade devem continuar a ser desmontadas, assim como a perspectiva de desaceleração econômica nos EUA e o início do corte de juros por lá. “Inclusive, esse cenário é bom para o Brasil, principalmente com a correção das Big Techs. Vale lembrar que os as ações de tecnologia tem competido com os ativos emergentes, a correção de ontem foi boa para os ativos brasileiros”, afirma.
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Não por acaso, no fechamento das Bolsas de Valores da segunda-feira (5), em Nova York, o Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq encerraram o dia com quedas de -2,6%, -3% e 3,43%, respectivamente. Por outro lado, comparado com os índices americanos, o Ibovespa teve uma queda mais suave, de -0,46%.
Por que as Bolsas de Valores sobem nesta terça-feira?
Conforme foi apontado pelo economista-chefe do UBS, assim como não há fundamentos sólidos que explicam o caos no mercado financeiro ontem, tampouco há nesta terça-feira. Em relação à véspera, o VIX opera com baixa de 38%, mostrando que o medo dos investidores está menor hoje. Enquanto isso, os índices ao redor do mundo ganham fôlego e recuperam parte das perdas do pregão da segunda-feira.
No Brasil, a ata da última reunião do Banco Central foi divulgada durante a manhã e trouxe mais um ponto para os investidores avaliarem. O texto jogou luz sobre a avaliação do colegiado de que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente, em patamar que consolide o processo de reduzir a inflação. A ata reitera que eventuais ajustes futuros na Selic “serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.
Para o estrategista-chefe da Warren Investimentos, Sérgio Goldenstein, a ata da reunião da semana passada foi mais dura. “Com ênfase para o parágrafo 25, em que o Comitê explicita, de forma unânime, a possibilidade de elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”, afirma.
Mesmo com a maior cautela levantada pela ata, o Ibovespa consegue se manter no campo positivo, em meio a uma menor aversão a risco global no mercado financeiro.