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Como a Casas Bahia (BHIA3) chegou a 8 mil demitidos e prejuízo de R$ 1 bi

No acumulado de 2023, varejista aumentou o prejuízo em 8 vezes em relação ao ano anterior

Como a Casas Bahia (BHIA3) chegou a 8 mil demitidos e prejuízo de R$ 1 bi
(Imagem: Felipe Rau/Estadão)
O que este conteúdo fez por você?
  • Demissões e queima de estoque prejudicaram balanço do Grupo Casas Bahia
  • Endividamento do Grupo Casas Bahia assusta, mas tem solução
  • Analistas do mercado chegam a recomendar venda para as ações do Grupo Casas Bahia

O Grupo Casas Bahia (BHIA3) reportou um prejuízo líquido de R$ 1 bilhão no quarto trimestre de 2023, 513,5% maior do que o prejuízo de R$ 163 milhões do mesmo período de 2022. No acumulado do ano, o prejuízo foi de R$ 2,62 bilhões, um número quase 8 vezes maior (7,67 vezes para ser preciso) que o prejuízo de R$ 342 milhões do acumulado de 2022.

A empresa passa por um plano de reestruturação, anunciado em coletiva com a imprensa em 20 de setembro de 2023. A mudança começou após a varejista registrar quatro prejuízos seguidos em meio à alta dos juros no País em 2021 e 2022, o que piorou o endividamento da companhia.

O grupo, na totalidade, é dono de Casas Bahia, Ponto, Extra.com.br e Bartira. A empresa mudou o nome de Via para Grupo Casas Bahia em setembro de 2023 na tentativa de repaginar a marca e de reduzir alguns custos para conseguir melhorar o seu endividamento.

Na busca de reduzir custos, o Grupo Casas Bahia fechou um total de 55 lojas e 4 centros de distribuição. No acumulado de 2023, a empresa demitiu cerca de 8 mil funcionários diretos e 600 terceirizados, o equivalente a 20% do seu quadro de funcionários. Essa parte da reestruturação, no entanto, causou um custo adicional de R$ 222 milhões no resultado, o que agravou ainda mais a situação da empresa.

Reestruturação da Casas Bahia pesa no balanço

Segundo Lucas lima, analista da VG Research, a reestruturação continua pesando bastante no balanço das Casas Bahia, deixando o resultado geral poluído. “Acreditamos que ainda há uma longa caminhada para que os sinais positivos da reestruturação comecem a aparecer no balanço”, diz o analista.

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Além das demissões, o Grupo Casas Bahia está fazendo uma queima de estoque. No dia do anúncio da reestruturação, o CEO da companhia, Renato Franklin, disse  à imprensa que a queima de estoque poderia gerar até R$ 1 bilhão em caixa para a empresa.

No quarto trimestre, a empresa apresentou uma redução total de R$ 1,2 bilhão em estoques. No entanto, segundo Artur Horta, especialista em investimentos da GTF Capital, a ação levou a uma queda de 12% em seu Volume Bruto de Mercadoria (GMV, na sigla em inglês), que foi de R$ 12,4 bilhões no quarto trimestre de 2022 para R$ 10,9 bilhões no quarto trimestre de 2023.

A margem de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustada do Grupo Casas Bahia, um dos medidores de rentabilidade operacional da empresa, recuou de 7,1% no quarto trimestre de 2022 para 2,2% no quarto trimestre de 2023, um tombo de 4,9 ponto porcentual na comparação anual. “Houve uma piora em basicamente todas as linhas de rentabilidade. Isso mostra que esse processo de reestruturação que o Grupo Casas Bahia vem passando é totalmente doloroso para a empresa”, detalha Horta.

Endividamento da varejista preocupa

Outro ponto levantando pelos analistas é que a empresa mostrou uma piora no endividamento. Segundo Lucas Lima, da VG, esse número vem crescendo ao longo dos últimos. A companhia encerrou o quarto trimestre de 2023 com um caixa líquido ajustado somado com dívidas com fornecedor e saldo de Crédito Direto ao Consumidor (CDCI) em R$ 2,19 bilhões negativos, valor 272,2% acima dos R$ 590 milhões negativos registrados do mesmo período de 2022.

Ou seja, o atual endividamento da empresa, que soma o endividamento bruto com dívidas de fornecedor, convênio mais o saldo CDCI, é equivalente a R$ 5,77 bilhões. O número é superior aos R$ 3,58 bilhões disponíveis no caixa da empresa. Ao subtrair o caixa disponível pela dívida, a companhia fica com R$ 2,19 bilhões negativos.

O Grupo Casas Bahia usa esse número em seu balanço para apresentar a métrica de caixa líquido ajustado sobre Ebitda ajustado. Nesse quesito, o investidor vê com clareza a piora no endividamento, que vai de 0,2 vez negativo no quarto trimestre de 2022 para 1,8 vez negativo em igual intervalo de 2023.

Lima lembra que a varejista está conseguindo fechar acordos com credores para conseguir mais tempo para pagar o que deve. “A administração da empresa também vem conseguindo realizar de forma razoável a negociação de suas dívidas, fazendo com que ganhe um pouco de fôlego no curto prazo para implementar a reestruturação”, explica Lima.

Custo do crédito

A empresa tem cerca de R$ 2,1 bilhão de dívida bancária a vencer ao longo de 2024 com um custo médio de CDI+2,6%. No entanto, a varejista confirmou um prolongamento de 36 meses para as dívidas que venceriam em 2024 e 2025.

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Segundo os especialistas da Genial Investimentos, esse fôlego ganho para pagar as dívidas pode parecer muito positivo, porém, eles lembram que “não existe almoço grátis” e o prolongamento da dívida deve aumentar os custos ao longo de 2024. Ou seja, mesmo com a queda de Selic, a Casas Bahia deve ter um custo de crédito ainda elevado, justamente por prorrogar os seus pagamentos.

“Projetamos um custo de dívida ainda elevado para 2024, em R$ 527 milhões, uma redução de quase 10% em relação ao valor pago em 2023”, salientam Iago Souza, Vinicius Esteves e Nina Mirazon, que assinam o relatório da Genial.

Vale a pena comprar ações das Casas Bahia?

Em meio a todo esse caos vido pela empresa, os analistas são objetivos. Não vale a pena comprar as ações das Casas Bahia agora. Segundo os analistas do BB Investimentos, o melhor é o investidor vender os papéis da empresa. “Em nossa leitura, esse momento mais desafiador reflete um desequilíbrio entre a relação risco-retorno e que, por ora, nos leva a manter a recomendação em venda”, diz Georgia Jorge, que assina o relatório do BB Investimentos.

Já a Genial Investimentos tem recomendação de manter o papel na carteira, ou seja, quem tem a ação deve continuar com ela, mas o investidor que não tem não deve comprá-la. O preço-alvo estipulado para o papel é de R$ 9,50, uma potencial alta de 43,94% na comparação com o fechamento de segunda-feira (25), quando a ação encerrou o pregão cotada a R$ 6,60.