O dólar encerrou esta quinta-feira (13) com uma queda de 0,70%, cotado a R$ 5,36. Apesar do alívio, a moeda americana caminha para encerrar a primeira quinzena de junho com uma alta de 2,30% no mês, o que leva a valorização acumulada em 2024 para expressivos 10,6%, segundo o Broadcast.
O câmbio está no centro das discussões de investidores na semana depois de disparar para o maior valor desde janeiro de 2023 em meio a ruídos sobre o futuro da trajetória fiscal do País. Na quarta-feira (12), a moeda americana chegou a ser negociada a R$ 5,43 durante um discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que destacou que o governo está “colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal”, mas que “não consegue discutir economia sem colocar a questão social na ordem do dia”.
As falas acentuaram o sentimento negativo de investidores em relação ao equilíbrio das contas do Brasil, em um momento em que o Governo Federal enfrenta dificuldades para aprovar no Congresso medidas que aumentem a arrecadação fiscal e, assim, ajudem a União a entregar a meta de déficit zero prometida para 2025. Essa incerteza fez o câmbio disparar na quarta-feira, com o entendimento de que o ministro da Fazenda Fernando Haddad estaria perdendo força nos bastidores.
Hoje, no entanto, foi justamente Haddad o responsável por acalmar os ânimos, o que acabou se refletindo em um alívio na cotação do dólar.
Ao lado da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, Haddad fez um discurso em defesa da intensificação na agenda de revisão e corte de gastos, afirmando que as equipes econômicas do governo estão dando bastante força nesta pauta com uma reavaliação “ampla, geral e irrestrita das despesas do País”. Leia mais detalhes nesta reportagem do Estadão.
“O ministro da fazenda Fernando Haddad está perdendo poder dentro do governo e o mercado ficou com medo de que algum político menos comprometido com o fiscal do Brasil poderia assumir o lugar dele ou ganhar mais voz no governo; isso foi, especialmente, o que mais pesou ontem. Após a fala de Haddad sobre os avanços na agenda de revisão de gastos, os ativos locais passaram a operar em melhores níveis”, diz Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.
Com a reação mais amena do mercado ao cenário fiscal, o dólar conseguiu encerrar a sequência de altas que já durava a quatro pregões, desde a última sexta-feira (7). “Mercado aproveitou para realizar um pouco de lucro. O fechamento de exportações de minério de ferro com a recente alta da demanda e do preço pela China tem feito o preço hoje. Mas a nossa política e todos os seus desdobramentos em relação ao fiscal e ao ministro Haddad ainda jogam contra o real e limitam uma queda maior”, diz Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas.
Dados lá foram ajudam
O risco fiscal tomou o protagonismo no mercado financeiro de tal forma que, na quarta-feira, anularam os sinais vindos do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, sobre o futuro da taxa de juros por lá. Nesta quinta-feira, no entanto, o alívio causado pelas falas de Haddad abriu espaço para que investidores voltassem a monitorar o cenário por lá. E houve um sinal positivo.
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O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês), um importante índice de inflação nos EUA, veio abaixo do esperado, levando o mercado a apostar que o Fed possa iniciar o ciclo de afrouxamento monetário em setembro. O monitoramento do CME Group mostra que essa possibilidade subiu de 63,3% para 69,5% logo após a divulgação dos dados de inflação.
“O mercado voltou a aumentar as apostas de um corte a mais pelo FED, ou seja, 50 bps em 2024”, diz Bruno Monsanto, economista da RJ+ Investimentos. “Se a dinâmica global de inflação se mantiver como está, o dólar pode recuar um pouco, mas voltar abaixo dos 5 reais é muito improvável. Por aqui a situação é ainda mais frágil, com a falta de compromisso do nosso governo com o fiscal e a capacidade de governar se deteriorando.”
O que esperar do resto de 2024?
As projeções do mercado para o câmbio ao final de 2024 começaram a ser revisadas. Em janeiro, a expectativa era que o dólar encerrasse o ano na casa dos R$ 5, mas a tese tem cada vez menos respaldo no mercado. A última edição do Boletim Focus trouxe uma expectativa de R$ 5,05, mas há quem esteja mais negativo em relação à trajetória da moeda americana. O Itaú BBA, por exemplo, elevou nas últimas semanas a sua projeção para o dólar para R$ 5,15 em dezembro.
Douglas Ferreira, diretor da mesa de cambio e investidor não residente da Planner Investimentos, explica que o dólar tem sido pressionado por essa combinação de manutenção da taxa de juros nos Estados Unidos por mais tempo, enquanto, internamente, o Brasil passa por um momento turbulento na política. “Tudo isso contribui para a alta do dólar. Permanecendo esse cenário, entende-se que a alta do câmbio deve permanecer ainda por alguns meses”, destaca.
Felipe Corleta, da GTF Capital, também vê uma tendência de cotação elevada para frente. Segundo ele, o dólar pode voltar para o patamar de R$ 5,20 caso o governo consiga conciliar algum corte de gastos. “No entanto, isso precisa ser muito bem definido. Caso nada mude e as questões fiscais não se resolvam, a moeda pode continuar em tendência de alta. Isso, pelo menos, é o que mostra os dados técnicos”, salienta Corleta.