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O fiscal, de novo: semana do Copom começa mal e dólar salta para R$ 5,42

Moeda americana teve alta de 0,72%, refletindo ceticismo de investidores sobre medidas de corte de gastos

O fiscal, de novo: semana do Copom começa mal e dólar salta para R$ 5,42
(Foto: Envato Elements)
  • O dólar encerrou esta segunda-feira (17) com uma valorização de 0,74%, cotado a R$ 5,42
  • Mais uma vez, pesa sobre o câmbio a combinação entre a retomada das apostas em juros mais altos nos Estados Unidos e aversão ao risco no mercado doméstico, que também arrastou o Ibovespa a uma nova mínima
  • ela manhã, a moeda chegou a bater novamente os R$ 5,43, refletindo as mudanças trazidas pelo Boletim Focus

O dólar encerrou esta segunda-feira (17) com uma valorização de 0,74%, cotado a R$ 5,42. Mais uma vez, pesa sobre o câmbio a combinação entre a retomada das apostas em juros mais altos nos Estados Unidos e a aversão ao risco no mercado doméstico, que também arrastou o Ibovespa a uma nova mínima.

Agentes do mercado esperam com ceticismo um anúncio de medidas de redução nas despesas públicas, como prometido pelo governo na última semana. “A insegurança dos investidores, principalmente em relação ao corte de despesas, tem feito com que o dólar esteja bem esticado em sua cotação. Apesar dos discursos de Haddad e Tebet na linha de rever as despesas, o mercado aguarda atitudes mais concretas”, explica Elson Gusmão, diretor de Câmbio da Ourominas.

Pela manhã, a moeda chegou a bater novamente os R$ 5,43, refletindo as mudanças trazidas pelo Boletim Focus. Em meio a um processo de desancoragem das expectativas de inflação, causado pelo impasse na política fiscal, o mercado elevou a projeção de Selic ao final de 2024 para 10,50% ao ano. Na semana passada, a expectativa era de um juros a 10,25% em dezembro; há um mês, de 10,0%.

Isso significa que o ciclo de afrouxamento monetário, em vigor desde agosto de 2023, pode ter chegado ao fim. A expectativa geral é que o Comitê de Política Monetária (Copom) decida pela manutenção da taxa Selic na decisão da quarta-feira (19).

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Para Elson Gumão, da Ourominas, o mercado vai acompanhar de perto, não só o patamar da taxa, mas os votos de cada um dos diretores. Isso porque na última vez que o grupo se reuniu houve um “racha” entre os membros. “Veremos através desta decisão uma amostra de como se comportará o Copom com a saída de Campos Neto da presidência do BC a partir de 2025. Será um BC mais político ou mais técnico?”, questiona.

Lá fora, o índice Empire State de atividade industrial, que mede as condições de manufatura dos estados de Nova York, nos Estados Unidos, veio acima do esperado. Os dados ajudaram a dar certo impulso à moeda frente a dividas internacionais.

O vai e vem da cotação do dólar

A moeda americana já vinha em trajetória de valorização em 2024, com fortalecimento frente ao real em meio à saída de capital estrangeiro do País causada pela perspectiva de juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos. Mas o humor piorou nos últimos dias.

O movimento começou no dia 7, quando o dólar teve um salto de 1,42%, saindo de R$ 5,25 para R$ 5,32 em um único dia. A valorização aconteceu na esteira de novos dados sobre o mercado de trabalho americano. A criação de mais vagas de emprego do que o previsto surpreendeu negativamente os agentes econômicos e indica que a batalha contra a inflação pode não ter chegado ao fim por lá. Isso fez a cotação bater o maior patamar desde janeiro de 2023 – e esta semana não trouxe nenhum alívio.

Depois, no dia 12, a moeda americana chegou a ser negociada a R$ 5,43 durante um discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que destacou que o governo está “colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal”, mas que “não consegue discutir economia sem colocar a questão social na ordem do dia”.

As falas acentuaram o sentimento negativo de investidores em relação ao equilíbrio das contas do Brasil, em um momento em que o governo federal enfrenta dificuldades para aprovar no Congresso medidas que aumentem a arrecadação fiscal e, assim, ajudem a União a entregar a meta de déficit zero prometida para 2025.

Na quinta-feira (13), no entanto, os ânimos se acalmaram depois que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez um discurso em defesa da intensificação na agenda de revisão e corte de gastos, afirmando que as equipes econômicas do governo estão dando bastante força nesta pauta com uma reavaliação “ampla, geral e irrestrita das despesas do País”. Com a reação mais amena do mercado ao cenário fiscal, o dólar conseguiu encerrar a sequência de altas que já durava a quatro pregões, com uma queda de 0,70% a R$ 5,36.

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“O ministro da fazenda Fernando Haddad está perdendo poder dentro do governo e o mercado ficou com medo de que algum político menos comprometido com o fiscal do Brasil pudesse assumir o lugar dele ou ganhar mais voz no governo; isso foi, especialmente, o que mais pesou na quarta-feira. Após a fala de Haddad sobre os avanços na agenda de revisão de gastos, os ativos locais passaram a operar em melhores níveis”, diz Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.

Com isso, a moeda americana encerrou a última semana com uma alta de 1,12%.

O que esperar do câmbio no resto de 2024?

As projeções do mercado para o câmbio ao final de 2024 começaram a ser revisadas. Em janeiro, a expectativa era que o dólar fechasse o ano na casa dos R$ 5, mas a tese tem cada vez menos respaldo no mercado. A última edição do Boletim Focus trouxe uma expectativa de R$ 5,05, mas há quem esteja mais negativo em relação à trajetória da moeda americana. Para Alexandre Viotto, head de banking e câmbio da EQI Investimentos, essa previsão é otimista, e para ele o patamar deve estar acima disso. “Bater R$ 5,50 é muito mais fácil do que voltar para R$ 4,80, e a moeda deve chegar nesse patamar no curto prazo”, diz.

O Itaú BBA, por exemplo, elevou nas últimas semanas a sua projeção para o dólar para R$ 5,15 em dezembro. “A nossa expectativa de um dólar forte para frente somada ao ambiente doméstico desafiador nos fez revisar recentemente [a previsão] para R$ 5,15 por dólar (antes R$ 5,00) em 2024 e R$ 5,25 por dólar (de R$ 5,20) em 2025 e a Selic terminal para 10,25 (de 9,75)”, menciona relatório.

E o banco não foi o único. A valorização obrigou alguns analistas a revisarem as suas projeções do câmbio para o fim de 2024.

Nesta outra reportagem, mostramos o que as corretoras de investimento esperam do futuro do câmbio.
A Ativa Investimentos tinha até abril uma projeção de R$ 5,10 para o dólar em dezembro; agora, a casa vê a moeda americana encerrar o ano a R$ 5,30. O C6 Bank tem a mesma projeção. Algumas ainda não reajustaram as projeções, mas pretendem. A Ágora Investimentos, que tinha como cenário-base um dólar a R$ 5,10 ao final de 2024, já sinalizou que vai revisar o valor.

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Quer saber como a disparada do dólar afeta a sua vida? Veja aqui os impactos do câmbio no dia a dia e no orçamento da casa, além de como ele afeta os investimentos.

*Com informações do Broadcast

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