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O investidor de Eletrobras (ELET3) está blindado de riscos políticos?

As investidas do governo contra Petrobras e Vale trazem dúvidas se Eletrobras será o próximo alvo do Planalto

O investidor de Eletrobras (ELET3) está blindado de riscos políticos?
O processo de privatização da Eletrobras chegou ao fim no dia 13 de junho de 2022. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
O que este conteúdo fez por você?
  • Desde o fim da última semana, as ações da Petrobras derretem com a decisão do governo em não distribuir dividendos extraordinários
  • O mercado também fica atento às tentativas de interferência do governo no processo de sucessão da Vale (VALE3) que ganhou novo capítulo com demissão de conselheiro
  • Os episódios que acontecem concomitantemente trazem dúvidas sobre a capacidade das ações da Eletrobras se blindarem de ruídos políticos após quase dois anos de privatização

As investidas do governo sobre a Petrobras (PETR3/PETR4) e Vale (VALE3) movimentaram os últimos pregões da Bolsa de valores brasileira. Desde o fim da semana passada, os papéis das companhias de maiores pesos do Ibovespa acumulam perdas de até 12% diante dos riscos de ingerência política envolvendo as duas empresas.

O temor veio à tona com a ausência de pagamento de dividendos extraordinários da estatal e com a permanência de Eduardo Bartolomeo no cargo de CEO da Vale até o fim do ano, após pressões políticas.

Os recentes episódios que ocorreram quase concomitantemente trouxeram dúvidas se as ações da Eletrobras (ELET3) estão blindadas. Mesmo privatizada há quase dois anos, o governo federal ainda é responsável por 32,95% das ações da companhia, segundo dados da Economatica. Se levarmos em consideração a posição de 3,68% do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a participação governamental fica próximo aos 40%. No entanto, as regras do novo estatuto da Eletrobras reduziram o poder político da União nas decisões da empresa para 10%.

Caso haja uma intenção de aumentar sua posição na empresa a ponto de resgatar o controle estatal, o governo teria que desembolsar um valor equivalente a R$ 100 bilhões para conseguir ter mais da metade das ações “em mãos”, de acordo com estimativas da Ativa Investimentos. Isso porque o atual estatuto estabelece que qualquer comprador interessado em elevar a sua participação acima de 50% deve pagar um prêmio de 200% sobre a maior cotação do papel nos últimos 504 pregões.

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As dificuldades não blindam por completo as ações da Eletrobras de ruídos políticos. Em fevereiro do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a Advocacia-Geral da União (AGU) iria entrar na Justiça contra as cláusulas do processo de privatização da empresa. A declaração impactou os papéis da companhia na Bolsa. As ações ordinárias e as preferenciais da Eletrobras encerraram o pregão do dia 7 de fevereiro com quedas de e 4,11% e 3,70%, respectivamente.

A insatisfação do presidente da República com a privatização também esteve presente nos seus discursos de campanha durante as eleições presidenciais em 2022. Na época, quando ainda era candidato, Lula ressaltou a necessidade do governo em recuperar o status da companhia como “patrimônio do povo”. Mais de um ano após esses episódios, o medo pode voltar à tona com as recentes investidas do governo contra a Petrobras e Vale.

“O governo tem ainda espaço para retomar a sua influência na Eletrobras (ELET3). A companhia possui um alcance estadual e nacional muito maior do que a Vale”, afirma Flavio Conde, head de renda variável da Levante. A grande dúvida do mercado é entender a capacidade do Executivo em conseguir reverter a situação a seu favor. Por enquanto, essa perspectiva permanece baixa e fora do cenário base dos analistas.

Desde a privatização da companhia, as ações subiram cerca de 9,84%, segundo dados da Elos Ayta Consultoria. Os ganhos deveriam ser ainda maiores se não fossem pelas ameaças da União em reverter o status da empresa. Victor Bueno, sócio e analista de ações da Nord Research, que o início do governo Lula foi responsável pela depreciação de 40% do papel nos três primeiros meses de 2023. “Então, o governo ainda mantém uma certa influência, mas os ruídos não impactam nas operações nem nos resultados da empresa, pelo menos no curto e médio prazo”, afirma Bueno.

Veja a performance das ações da Eletrobras, Petrobras e Vale 

Ações Retorno desde o dia 7 de março Retorno desde a privatização da Eletrobras
Eletrobras (ELET6) 0,95% 9,84%
Eletrobras (ELET3) 1,38% 28,58%
Petrobras (PETR4) -9,43% 97,41%
Petrobras (PETR3) -8,84% 127,78%
Vale (VALE3) -4,45% -11,09%
Fonte: Einar Rivero, CEO da Elos Ayta Consultoria

Qual é a recomendação?

A possibilidade da Eletrobras entrar em cena com tentativas do governo interferir na gestão existe, mas ainda não é o suficiente para retirar a atratividade da Eletrobras. Para Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, as ações seguem com desconto na bolsa de valores diante da capacidade de melhora operacional após a privatização, o que sustenta a recomendação de compra do papel. “A empresa possui uma boa capacidade de pagar dividendos no futuro”, diz.

Conde, da Levane, avalia que a oportunidade vai depender da perspectiva de investimento. Se o foco for em retornos de médio e longo prazo, a companhia se mantém atrativa diante das expectativas de avanço da eficiência da empresa. Já no curto prazo, é preciso ficar atento aos riscos políticos. “Ninguém esperava o presidente Lula tentar colocar Guido Mantega na presidência da Vale ou interferir na distribuição de dividendos da Petrobras”, afirma o head de renda variável. Já a Genial mantém recomendação de compra para Eletrobras e com preço-alvo de R$ 47,50.

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