Empresas brasileiras estão aproveitando a melhora no mercado de capitais, no Brasil e no exterior, para começar captações que devem chegar a um total de R$ 40 bilhões por meio de ofertas de ações na B3 (B3SA3) e emissões de títulos de dívida no mercado local e externo. A maior parte desses recursos está sendo usada pelas companhias para pagar dívidas, mas empresas como Suzano (SUZB3), CSN (CSNA3), Localiza (RENT3) e Direcional (DIRR3) planejam levantar dinheiro para investimentos e planos de expansão.
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A reabertura da janela no mercado de capitais acelerou uma agenda de operações que era esperada para o segundo semestre. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) resolveu pausar as altas de juros e, no setor financeiro, as quebras de bancos americanos ou europeus, que assustaram investidores, pararam de acontecer.
No mercado doméstico, a surpresa com a mudança de perspectiva da classificação de risco do Brasil pela Standard & Poor’s (S&P), a inflação cedendo, a aprovação do arcabouço fiscal na Câmara e a expectativa de queda dos juros – que fazem as taxas futuras caírem – estão entre os fatores que estimularam a melhora do mercado, que patinou nos primeiros meses de 2023 abalado pelo escândalo da Americanas (AMER3).
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Na próxima semana, devem ser fechadas três ofertas subsequente de ações (também chamadas follow-ons), de Localiza, Vamos (VAMO3) e Direcional. Só a primeira pode captar R$ 4,5 bilhões. Na semana passada, duas ofertas tiveram excesso de demanda, a da CVC (CVCB3) e a da Oncoclínicas (ONCO3). As duas empresas usaram parte dos recursos para pagar dívidas.
Nas debêntures, a Cemig (CMIG4), estatal mineira de energia elétrica, captou R$ 2 bilhões, a Iguá, do setor de saneamento, está captando R$ 3,8 bilhões e a Suzano planeja levantar R$ 1,5 bilhão.
Corte de juros
Felipe Thut, diretor-geral do Bradesco BBI, diz que o total de follow-ons este ano pode superar os R$ 24 bilhões de 2022. “A nuvem de incerteza começou a se dissipar”, disse. Em evento realizado em Londres para investidores internacionais, a mensagem foi a de que estão prontos para voltar a participar das operações em bolsa. “Vemos o mercado considerando o corte de juros muito mais próximo do que dois meses atrás, o que vai trazer os estrangeiros com mais convicção quando houver sinalização”, disse. Segundo ele, a estimativa de 30% deles é de corte do juro em agosto e 40%, em setembro.
O diretor sênior da Fitch Ratings, Mauro Storino, afirma que o curso normal das empresas é estarem sempre captando, para investimento ou rolagem de dívida. No entanto, ele diz que os eventos de Americanas (AMER3) e Light (LIGT3) acabaram represando uma série de operações previstas para acontecer no primeiro semestre. “Não dá para aguardar o ano inteiro e em algum momento as companhias têm de tomar recursos, por mais que ainda o custo de captação esteja mais caro. Por isso vemos empresas voltando a acessar o mercado”, diz.
Storino afirma ainda que o fato de algumas companhias estarem rodando operações no mercado local e externo ao mesmo tempo, como a Cosan (CSAN3) – que emitiu títulos no exterior e vai levantar debêntures no Brasil –, ou no mercado de dívida e ações, como Vamos, reflete estratégias de diversificação de “bolsos” ou de estrutura de capital mais adequada para que a companhia não se alavanque demais em dívida.
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“Vamos é uma empresa de capital intensivo, tem de fazer o financiamento na frente e vai rentabilizar ao longo do tempo”, diz Storino. “Se a companhia imagina ter oportunidade de crescimento, pode pressionar o capital se fizer tudo com dívida.”
Abertura de capital (IPO)
O executivo de um banco estrangeiro que preferiu não se identificar afirma que várias das ofertas de ações refletem rolagens ou pré-pagamento de dívidas tomadas pelas companhias durante a pandemia ou em rolagens posteriores a 2020. “Boa parte das operações estão sendo coordenadas por bancos brasileiros, que concederam crédito para essas empresas e se comprometeram com uma saída via mercado de capitais”, disse. Assim, a empresa capta no mercado e já repassa os recursos para os bancos.
O advogado Daniel Laudisio, sócio da área de Mercado de Capitais do escritório Cescon Barrieu, afirma que as empresas estão correndo para captar no mercado de capitais porque o custo do crédito nos bancos está ainda bem alto e elas precisam de liquidez, seja para pagar dívidas ou para tocar os negócios. Se as ofertas de ações, como as vistas na semana passada continuarem saindo, ele diz que o próximo passado é a volta das aberturas de capital (IPO), paradas há quase dois anos na B3.