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- Despesas dos países com defesa atingiram um valor de US$ 2,2 trilhões (R$ 10,91 trilhões), um novo recorde
- Rolls-Royce que fabrica turbinas para aviões civis e militares bateu o maior valor de todos os tempos com valorização de 200% em 12 meses
- No Brasil, empresas ligadas ao petróleo, alimentos e minério podem sentir reflexos positivos num cenário geopolítico mais tenso
Guerra na Ucrânia, conflito no Oriente Médio, perspectiva de retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos, persistência de hostilidades do Ocidente com a China. Os países aumentaram os gastos com armamentos em 2023 e, enquanto as tensões aumentam, empresas dos setores de defesa e aeroespacial colhem frutos.
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Algumas delas entregaram retornos acima de 200% nos últimos 12 meses, como foi o caso da Rolls-Royce Holdings PLC. A companhia britânica fabrica turbinas para aviões civis e militares, além de outros sistemas de propulsão utilizados em máquinas de guerra e de vigilância. E ela não está sozinha num mundo que aumentou os gastos em defesa em torno de 9% em 2023, segundo dados divulgados na Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha, no mês passado.
As despesas relacionadas à defesa atingiram US$ 2,2 trilhões (R$ 10,91 trilhões, na conversão atual), um novo recorde, assim como o patamar de “all time high” (maior alta histórica, em tradução livre) da Rolls-Royce na bolsa de Londres, cujo papel também é negociado no mercado de balcão nos Estados Unidos sob a forma de ADRs (recibos que permitem comprar nos EUA ações de empresas não americanas), com o ticker RYCEY.
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Outra britânica, a Melrose Industries (ADR: MLSYY), especializada na produção aeroespacial, deu 100% de retorno aos investidores nos últimos 12 meses e a americana TransDigm (TDG), que tem entre seus clientes empresas de defesa em todo o mundo, rendeu 67% a seus acionistas no período (ver lista abaixo).
As companhias deste setor têm características defensivas – sem trocadilhos – para o investidor, apresentando geração de caixa consistente. Elas firmam contratos de longo prazo com os países interessados em suas tecnologias, envolvendo cronogramas multianuais de entregas e manutenção de equipamentos.
“Essa dinâmica própria exige capital intensivo em pesquisa e desenvolvimento (P&D), dado que seus clientes, os governos, buscam tecnologias que propiciam vantagens geopolíticas”, diz o estrategista global da XP, Paulo Gitz, que montou um ranking com as principais empresas do setor de defesa e aeroespacial a pedido do E-Investidor.
Tendência de alta para gastos militares
A lista inclui ETFs (fundos negociados em bolsa que buscam retorno semelhante a um índice de referência) que investem em companhias do setor de defesa e aeroespacial, a exemplo do ITA, que busca a performance das empresas dos dois setores listadas no índice Dow Jones em Nova York e que gerou retorno de 14% nos últimos 12 meses.
Na avaliação de Gitz, dada a natureza cíclica no setor, ligada ao crescimento das economias dos países, a tendência é de alta para esse tipo de negócio. “Desde 2014 há uma regra da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que instrui seus países-membros a destinar ao menos 2% do Produto Interno Bruto (PIB) para gastos com defesa”, diz o especialista.
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Ele lembra que 2023 foi o primeiro ano que os países europeus, conjuntamente, atingiram essa meta. “Dado o cenário geopolítico instável, imaginamos que esse porcentual se manterá ou mesmo aumentará nos próximos anos.”
No Brasil, uma das operações que se beneficiam deste cenário é a Embraer (EMBR3), que vem recebendo encomendas importantes para o seu cargueiro militar C-390 de países como Portugal, Polônia e Bélgica, membros da Otan que vêm ampliando suas despesas com defesa. A Taurus (TASA4) é outra que tem se beneficiado: recentemente anunciou negociações para criar uma joint venture (cooperação entre empresas que geralmente implica em uma nova organização societária) com a saudita Scopa Military Industries.
O papel das companhias brasileiras no setor
Para o sócio e head de Análise da Levante Investimentos, Enrico Cozzolino, fica melhor examinar os reflexos desta nova conjuntura geopolítica para as companhias brasileiras sob o ponto de vista setorial. Neste caso, ele cita os segmentos de petróleo, alimentos e minério "É o que nós fazemos bem: commodities", diz.
No caso do petróleo, a análise de longo prazo leva em consideração a convergência entre menor oferta de barris pelos países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) junto com o agravamento das tensões militares ao redor do mundo. "Ainda não tivemos uma alta consistente, estamos com mínimas recentes na oferta e a tensão se agravando. Em algum momento o impacto vem", afirma.
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Em relação a alimentos e minério, o analista considera a participação da China, que anunciou no início do mês um aumento de 7,2% no seu orçamento de defesa – para US$ 222 bilhões –, além de sua reestruturação da cadeia de comércio.
O país asiático aumentou suas exportações para Rússia, Índia e até para o Brasil, enquanto fez o movimento contrário com países próximos, como Taiwan, Japão e Coreia do Sul, e até mesmo União Europeia. "Precisamos ver como podemos nos beneficiar de um evento geopolítico que tende a continuar. Vale olhar o que fazemos bem, petróleo, alimentos e minério", comentou.