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- A reta final para o 2° turno das eleições presidenciais se aproxima, mas ainda com um cenário bastante indefinido
- Pensando em preparar os investidores para todos as conjunturas, Flávio Conde, head de renda variável da Levante Ideias de Investimentos montou três carteiras: uma para a vitória de Lula, outra para a vitória de Bolsonaro e ainda uma terceira “defensiva”
- "Uma continuação do governo Bolsonaro vai atingir positivamente todos os setores da bolsa, menos o educacional, porque ele (Bolsonaro) não dá bola para a parte de educação. Não vai ter Fies, Prouni e as companhias vão ter um volume baixo, como é atualmente", explica o especialista
A reta final para o 2° turno das eleições presidenciais se aproxima, mas ainda com um cenário bastante indefinido. De acordo com a pesquisa divulgada na última quarta-feira (19) pelo Datafolha, os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) estão empatados dentro da margem de erro.
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O petista aparece com 52% dos votos válidos, enquanto o atual presidente tem 48%. Pensando em preparar os investidores para todos as conjunturas, Flávio Conde, analista de ações da Levante Ideias de Investimentos, montou três carteiras: uma para a vitória de Lula, outra para a vitória de Bolsonaro e ainda uma terceira “defensiva”, que deve ir bem independentemente de quem for o próximo líder do executivo.
Os portfólios foram enviados com exclusividade ao E-Investidor. Para escolher os ativos, o especialista levou em conta as conjunturas esperadas para cada possível governo. No caso de uma reeleição de Bolsonaro, as perspectivas de Conde são de uma inflação mais controlada, com taxas de juros menores, dólar mais baixo e menor intervenção na estatal.
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Enquanto sob um terceiro mandato do petista, as expectativas são de uma inflação maior, por maiores gastos do governo, juros mais elevados e dólar mais alto, além de maior intervenção nas estatais. Por isso, na carteira para reeleição de Bolsonaro, a recomendação é de compra para Banco do Brasil, Eletrobras e Petrobras. Já na carteira para reeleição de Lula, o indicado é a venda ou a “aposta contra” as mesmas companhias.
“Uma empresa que se beneficiaria muito, especificamente no caso de o Bolsonaro ser reeleito, é a Petrobras”, afirma Conde. “O atual presidente já falou que quer privatizar a Petrobras, e se ele realmente conseguir durante esses quatro anos, a empresa pode dobrar de preço na Bolsa.”
Empresas que tendem a ter um desempenho diferenciado a depender principalmente do resultado das eleições presidenciais são Sabesp, MRV, Yduqs e Gerdau. No caso da companhia de saneamento, o horizonte estará mais positivo em caso de uma reeleição de Bolsonaro, que trará, segundo Conde, um ambiente mais propício à desestatização.
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Já as outras três empresas seriam impulsionadas com uma volta do governo petista, que deve turbinar programas de habitação, como o Casa Verde Amarela. A MRV é a principal construtora do segmento, enquanto a Gerdau é a principal fornecedora de aços longos para as construtoras brasileiras.
Em um terceiro mandato de Lula, programas educacionais também ganhariam protagonismo, favorecendo as companhias do setor. Em especial, segundo Conde, a Yduqs.
E-Investidor – Como o mercado deve reagir no “dia seguinte” ao 2° turno das eleições?
Flávio Conde – Na minha visão, vai acontecer como no primeiro turno. O mercado vai subir no dia, mas o principal vai ser o ajuste de papéis, porque um candidato favorece mais alguns setores e empresas, enquanto o outro favorece diferentes setores e empresas.
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Para o segundo turno, o cenário está muito dividido. Ninguém consegue ter certeza de que um ou outro vai vencer. O que eu estou percebendo é que as pessoas estão diminuindo o grau de apostas, deixando para posicionar no último dia antes da votação.
As disputas para os governos estaduais estão mais claras. Já existem apostas em alguns papéis, tendo em vista os possíveis eleitos?
Conde – Se você pegar o caso do governo do estado de São Paulo, parece claro que o Tarcísio de Freitas (Republicanos) vai ganhar. Ele já ganhou no primeiro turno por uma distância boa e a chance de ele ganhar no segundo turno é alta. Agora ele conta com o apoio do terceiro colocado, que foi o Rodrigo Garcia (PSDB).
Com isso o investidor consegue, por exemplo, apostar na Sabesp (SBSP3), porque é praticamente certo que o Tarcísio vai ganhar. Agora, no caso do governo federal, mesmo com o apoio da Simone Tebet ao Lula, não dá para cravar que o Lula vai ser eleito.
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Para 2023, qual será o principal fator preponderante para a Bolsa?
Conde – A inflação é o principal fator determinante da Bolsa até 2023-2024. Se a inflação for para 5%, como o Boletim Focus está projetando, em 2023 não vamos precisar ter um juro de 13,75%.
Com juros mais baixos, poderemos ter condições de a economia crescer 0,5% no segundo semestre do ano que vem ou 2% anualizado.
Com isso, as empresas do setor interno da bolsa devem ser as mais beneficiadas. Estou falando de varejo, como Magalu e Americanas; vestuário, como Lojas Renner, Soma e Arezzo;, construção civil e bancos.
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Para 2023, o setor exportador, dependente de commodities, como petróleo, mineração, siderurgia e papéis de celulose, pode ter um período um pouco mais difícil, porque existe uma chance muito grande de a Europa e os Estados Unidos estarem em recessão. Em recessão, o preço de minério, aço, papel e celulose e petróleo devem cair. As carteiras devem ter uma rotação setorial mais favorável às empresas do mercado interno e aos bancos. E as exportadoras de commodities devem ficar de lado no período.
Mas a definição do próximo presidente não entra nessa conta de nível de juros e inflação? Qual seria o efeito, por exemplo, de um governo Bolsonaro na Bolsa?
Conde – O Bolsonaro, se continuar, vai ser mais do mesmo. Já sabemos qual a agenda do Paulo Guedes. Eles vão lutar para a economia ter um crescimento na faixa de 2% a 3%, com reformas. Podemos esperar um período bom, com inflação mais baixa, juros mais baixos, dólar nessa faixa atual, na casa dos R$ 5,20 ou R$ 5,30. Se o Bolsonaro continuar, o cenário é razoavelmente tranquilo.
Uma empresa que se beneficiaria muito, especificamente no caso de o Bolsonaro ser reeleito, é a Petrobras. O atual presidente já falou que quer privatizar a empresa. Se ele realmente conseguir durante esses quatro anos, ela pode dobrar de preço na Bolsa.
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Uma continuação do governo Bolsonaro vai atingir positivamente todos os setores da bolsa, menos o educacional, porque ele não dá bola para a parte de educação.
E no caso de um governo Lula?
Conde – No caso do governo Lula existe um ponto de interrogação muito grande. No primeiro mandato ele foi completamente liberal. Foi um governo de meta de inflação, de controle fiscal, voltado para como é hoje o governo Bolsonaro. Além disso, tinha o Meirelles no Banco Central e o Antonio Palocci na Fazenda.
A repetição do Lula 1 seria um dos caminhos e o mercado bateria palmas. Contudo, há uma segunda hipótese de termos um governo estilo Lula 2 ou Dilma, com aquilo tudo de nova matriz econômica, aumento de investimento governamental, aumento de déficit e dívida. Nesse cenário, o dólar e a inflação aumentariam e o juro não cairia.
O mais provável, na minha opinião, é que seja uma coisa no meio do caminho, a terceira hipótese. Lula vai ter que olhar um pouco o que o PT quer fazer e olhar um pouco o que os economistas tucanos, liberais, que apoiam ele agora, estão sugerindo.
Como essas análises de conjuntura refletem na montagem das carteiras da Levante para o caso de vitória de Lula ou Bolsonaro?
Conde – Em primeiro lugar, definimos 10 ativos para cada carteira. Depois, eu fui de cara nas três estatais – Banco do Brasil, Eletrobras e Petrobras – porque são ações que todo mundo tem e que todo mundo quer saber o que vai acontecer.
Em resumo, no “cenário Bolsonaro”, você compra ações do Banco do Brasil, Eletrobras e Petrobras. No “cenário Lula”, você vende à vista e fica sem elas na carteira ou aposta na queda, que é uma coisa mais ousada ainda, para investidor arrojado.
Se Lula for eleito, Petrobras será a ação que mais vai sofrer no dia seguinte por conta das ideias de não seguir o preço internacional dos combustíveis e voltar a investir em refinarias, que geraram grandes prejuízos no passado.
Quando falamos da parte de construtoras das carteiras da Levante, no caso de vitória de Lula, a MRV é a mais indicada. Para Bolsonaro, a indicada é a Cyrela. Por que essa diferença?
Conde – A MRV é a principal construtora e incorporadora do programa Casa Verde Amarela ou Minha Casa, Minha Vida, que em parte depende do incentivo do governo. Então, a pessoa vai lá comprar um imóvel de R$ 200 mil e o governo subsidia R$ 40 mil.
O Lula pode aumentar esse subsídio e pode baixar a taxa de juros da Caixa, que é o principal operador, além de aumentar o limite máximo de renda das famílias que podem comprar imóveis pelo programa. O ex-presidente já disse que vai turbinar esse programa, que gerou muito emprego (nos antigos governos dele).
O Bolsonaro vai deixar o Casa Verde Amarela como está andando, não vai turbinar nada. E a Cyrela já está muito bem posicionada, é a melhor construtora em termos terrenos, lançamentos e vendas. Ela está pronta para ganhar mais dinheiro, vender mais e lucrar mais, assim que a taxa de juros começar a cair no ano que vem.
Portanto, no cenário em que o Bolsonaro é eleito, a expectativa é que ele consiga baixar os juros mais rápido que o Lula conseguiria, e isso vai ser excelente para a Cyrela, a empresa vai nadar de braçada. Já a MRV pode continuar nessa toada em que está. Ela não vai ter com o Bolsonaro esse impacto positivo de turbinar o Minha Casa, Minha Vida, que teria com o Lula.
A Magazine Luiza está presente nas três carteiras: Vitória de Bolsonaro, Lula e defensiva. A questão do Auxílio Brasil é mais forte para ela do que a influência dos possíveis presidentes?
Conde – Exatamente. A Magazine Luiza é a maior empresa de varejo multicanal e o Auxílio Brasil libera um pouco de renda das pessoas. É preciso considerar também que o efeito do Auxílio Brasil não é apenas das famílias que recebem o Auxílio Brasil.
Elas são as maiores beneficiárias, mas também geram renda no bairro, na cidade e no comércio. Então, é uma multiplicação de renda e essa multiplicação de renda ajuda o Magazine Luiza a vender mais. Nos dois cenários, Lula ou Bolsonaro, teremos Auxílio Brasil.
Na carteira defensiva, eu precisava pegar empresas de setores com histórias que independem do governo ou dependem muito pouco. Por exemplo, o Itaú é um banco que está mais bem posicionado para a melhora da atividade econômica, então para o Itaú, o Bolsonaro vai fazer pouca ou nenhuma diferença.
Seja qual for o presidente, a tendência é que o teto de gastos seja revisto para acomodar o Auxílio Brasil. Esse tema deve trazer volatilidade ou o mercado já se conformou com a chamada ‘bomba fiscal’ para 2023?
Conde – Na verdade, o teto já está morto. Não existe mais teto. O que existe é a regra de correção de despesas, mas o teto já caiu faz tempo, principalmente com a pandemia. O mercado tem uma projeção de 0,5% de déficit fiscal ano que vem, que dá R$ 50 bilhões. Só que os gastos tanto do Lula quanto do Bolsonaro, se cumprirem as promessas de campanha, estão em torno de R$ 150 bilhões.
Os banqueiros, economistas, empresários, que estão tentando influenciar as duas campanhas, estão falando que a sociedade tolera R$ 100 bilhões de déficit fiscal. Esse limite tolerável eu entendo como sendo um limite que até o qual o dólar não vai subir demais, os juros não vão subir, os empresários não irão sair na imprensa reclamando.
A partir desse limite, coloca-se em risco a situação fiscal e de dívida do País, e os investidores estrangeiros vão começar a repensar se vale a pena ou não ter dinheiro aqui. Se o Lula ou o Bolsonaro forem eleitos e quiserem gastar R$ 150 bilhões, R$ 50 bilhões eles vão ter que arrumar alguma receita no lugar.
Os investidores estrangeiros temem uma crise institucional caso Bolsonaro não vença as eleições. Existe essa possibilidade?
Conde – O risco de ter uma ruptura é muito baixo. Se o Bolsonaro perder, ele continuará sendo Bolsonaro: vai sair reclamando, mas vai sair. Não vai querer entregar a faixa, vai falar no jornal que as eleições não foram limpas, mas que ele aceita e etc. Eu costumo falar para os investidores que os governos passam, os governantes também, mas as empresas e a bolsa continuam.