- O mau desempenho é atrelado à alta das commodities, produção norte-americana impactada pela Covid-19 e a gripe aviária
- Head da XP não indica alocar nesses papéis, visto que o setor no médio e longo prazo segue pressionado pelas questões norte-americanas
- O especialista da Acqua Vero também declara haver um cenário “moderadamente desafiador” para os frigoríficos no Brasil e não recomenda o investimento
As companhias de frigoríficos presentes na carteira do Ibovespa, JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3), BRF (BRFS3) e Minerva (BEEF3), apresentaram uma desvalorização média de 6,65%, em 2023, e uma queda de 3,69%, nos últimos 365 dias. O mau desempenho está atrelado à alta das commodities, à queda na produção norte-americana e à gripe aviária.
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Em relação ao primeiro fator, o milho e a soja são utilizados para alimentar os animais. E como o preço dessas commodities ao longo do último ano chegou a subir 11,7% e 26,82%, respectivamente, por conta da Guerra na Ucrânia, os frigoríficos precisaram desembolsar mais.
Na teleconferência com os investidores sobre o balanço do terceiro trimestre, o diretor Financeiro (CFO) da JBS, Guilherme Cavalcanti, declarou que o aumento no preço dos produtos impactou o capital de giro da companhia. O E-investidor questionou a empresa sobre o valor gasto com o alimento dos animais, mas até a publicação desta matéria não obteve retorno.
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Rafael Passos, sócio da Ajax Asset, diz que o recuo do setor ocorreu porque muitos frigoríficos têm grande parcela do Ebitda atrelado a operações nos Estados Unidos. O indicador é utilizado para avaliar a produção das empresas, informando o lucro da companhia antes dos descontos com impostos, juros, amortização e depreciação.
A National Beef (subsidiária da Marfrig nos EUA), por exemplo, responde por 50% do Ebitda da empresa, enquanto a JBS tem 60% atrelado à região. De acordo com Felippe Serigati, coordenador do mestrado em agronegócios da Fundação Getulio Vargas (FGV), a produção norte-americana foi afetada pela quantidade de casos de Covid-19 no país. “Como a linha de produção contava com muitas pessoas, o local de trabalho se tornou um ambiente propício para a disseminação do vírus”, explica.
Dessa forma, muitas empresas tiveram que ser fechadas e houve um gasto maior para que o ambiente se tornasse propício ao trabalho. Além disso, com muitas pessoas doentes, o custo da mão de obra encareceu. E diferente do clima brasileiro, os EUA contam com inversos congelantes, “o que obriga os frigoríficos a refrigerar os locais para que os alimentos não apodreçam”, diz o professor – o conflito no Leste Europeu deixou a energia mais cara, o que também pesou no balanço das companhias.
No final, ao colocar na ponta do lápis, foi preciso realizar cortes na produção e remanejamentos orçamentários para que os balanços fossem menos prejudicados, afirmam os entrevistados.
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Contudo, as notícias ainda não são boas. O balanço financeiro do frigorífico americano Tyson Foods, divulgado na segunda-feira (6), apontou que a situação dos Estados Unidos segue complicada. A companhia teve um lucro líquido de US$ 316 milhões, queda de 71,8% em relação ao mesmo período de 2022. Os investidores repercutiram os resultados nos papéis dos frigoríficos brasileiros que operam no exterior. JBS, Marfrig e BRF recuaram 2,89%, 6,75% e 7,24%, respectivamente, no dia.
Quanto ao ciclo de aves, Heitor De Nicola, especialista de renda variável e sócio da Acqua Vero, diz que os dados não melhoraram no final de 2022 e os indicadores do início de 2023 sugerem que as margens podem continuar pressionadas, devido à gripe aviária. As companhias que vendem aves são BRF, Marfrig e JBS.
“A doença prejudicou diversos animais, que precisaram ser sacrificados sem comercialização. Dessa forma, as companhias gastaram para armazenar as aves e depois não conseguiram obter retorno financeiro”, diz De Nicola. Os entrevistados pelo E-Investidor afirmam que ainda não há perspectivas para o fim do surto da doença na Europa e nos Estados Unidos.
Veja como foi o desempenho dos frigoríficos brasileiros no último ano:
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É hora de desmontar posição?
No curto prazo, o cenário pode se tornar positivo para as companhias, acredita Leonardo Alencar, head de Agro, Alimentos e Bebidas da XP. A primeira justificativa dele é que o preço do dólar acima dos R$ 5,20 tende a favorecer as companhias exportadoras. “O balanço delas é dolarizado”, afirma.
A segunda está no consumo chinês. Desde o final de 2022, o Partido Comunista da China acabou com as políticas de Covid-zero e abriu a economia. A região asiática é um dos maiores consumidores de carne bovina do mundo e como os Estados Unidos ainda seguem prejudicados, “o Brasil consegue ocupar essa fatia de mercado e se favorecer”, diz o especialista.
O professor da FGV, por sua vez, afirma que as políticas sanitárias adotadas contra a gripe aviária pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) também favorece o mercado frigorífico brasileiro. No final de janeiro, foi lançada a campanha “Influenza aviária? Aqui não!”, em que o governo explica quais são as medidas que devem ser feitas para não haver a transmissão de doença no País. Até o momento, não há nenhum caso no Brasil.
“Como a demanda continuará e não tem quem oferte, já que muitos países foram afetados, o Brasil será beneficiado”, destaca Serigati. “Nossas produções de aves são feitas em granja, então a chance dos animais serem afetados pela gripe é menor.”
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Porém, o head da XP não indica alocação de investimentos nesses papéis, visto que o setor no médio e no longo prazos segue pressionado pelas questões norte-americanas. “O perigo de uma recessão global também obriga os bancos centrais a subirem juros, reduzindo o poder de compra da população, obrigando-os a serem mais seletivos no momento de comprar comida”, explica.
O especialista da Acqua Vero também declara haver um cenário “moderadamente desafiador” para os frigoríficos no Brasil e não recomenda o investimento neste momento. Ele apenas indica a Minerva, se algum acionista ainda quiser aproveitar o setor, já que a companhia possui operações centradas no mercado doméstico. “Ou seja, acaba por mitigar alguns riscos que as multinacionais do setor não conseguem”, afirma De Nicola.
*Com informações do Estadão Conteúdo