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Grandes bancos seguem investidor gringo e tiram Brasil do foco. O que isso indica?

Incerteza fiscal mina otimismo dos bancos com o desempenho do câmbio e queda da Selic no Brasil

Grandes bancos seguem investidor gringo e tiram Brasil do foco. O que isso indica?
Citi desfez posições que apostavam na queda do dólar. (Foto: Adobe Stock)
  • Juros mais altos por mais tempo no exterior, interrupção do ciclo de afrouxamento monetário no Brasil e ceticismo com capacidade do governo federal de alcançar o equilíbrio das contas públicas
  • O pacote de incertezas que está afastando o investidor estrangeiro do mercado brasileiro em 2024 também está pesando na visão dos grandes bancos
  • Citi desfez posições que apostavam em um real mais forte frente ao dólar; Goldman Sachs vê cenário positivo para emergentes a frente, mas deixa o Brasil de fora

Juros mais altos por mais tempo no exterior, interrupção do ciclo de afrouxamento monetário no Brasil e ceticismo com capacidade do governo federal de alcançar o equilíbrio das contas públicas. O pacote de incertezas está afastando os investidores estrangeiros do mercado brasileiro, que, até o dia 19 de julho, já haviam retirado R$ 29,4 bilhões da B3 no acumulado de 2024. Mas os gringos não são os únicos receosos com a perspectiva para o País.

Na última sexta-feira (19), dois grandes bancos de investimento divulgaram relatórios que também indicam maior cautela com o futuro dos investimentos por aqui.

O Citi informou ao mercado que encerrou as posições em opções que apostavam na valorização do real contra o dólar e o euro. No documento, os analistas Ivan Riveros, Juan Andres Paez e Luis Costa explicam que os ativos brasileiros não estão conseguindo descomprimir parte do prêmio de risco que era esperado e muito disso tem a ver com as dúvidas sobre a capacidade do governo de reduzir os gastos públicos e entregar as metas fiscais estabelecidas pelo novo arcabouço no ano passado.

Esse tem sido o principal tema – e incerteza – do mercado doméstico e vem ditando altas e baixas na Bolsa e no câmbio à medida que investidores repercutem os sinais da equipe econômica do governo. No anúncio mais recente, os ministérios da Fazenda e do Planejamento confirmaram a contenção de R$ 15 bilhões em despesas discricionárias no Orçamento de 2024 para cumprir o limite de gastos do novo arcabouço fiscal.

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A medida, no entanto, é vista pelo Citi como insuficiente. “São insuficientes para garantir o cumprimento da meta fiscal este ano. Com a falta de cortes mais concretos nas despesas governamentais que tornariam a noção de meta fiscal mais viável, o ambiente global continua a mostrar termos de troca em BRL mais fracos, que acreditamos que poderiam continuar”, diz o relatório.

A aposta do banco a favor do real era em NDF, um contrato a termo de moedas de um mês, que fixa antecipadamente uma taxa de câmbio para a data futura, no vencimento contratado. Na liquidação da operação, a diferença das taxas de câmbio – a negociada e a à vista – resulta no lucro do investidor. Se a taxa à vista é superior à acordada, o resultado é um prejuízo.

Com a perspectiva de que a incerteza fiscal continuará pensando sobre o câmbio, o banco preferiu assumir um prejuízo de 1,96% na operação do que prolongar a aposta no fortalecimento da moeda brasileira. Os NDFs foram encerrados por volta de 11h45 da sexta-feira, quando o dólar à vista valia R$ 5,54 e o euro, R$ 6,04.

A moeda americana encerrou esta terça-feira (23) a R$ 5,58, enquanto o euro valia R$ 6,06.

Goldman Sachs: por que Brasil está de fora da visão mais positiva do banco para emergentes

O Goldman Sachs também deixou o Brasil das projeções mais otimistas para frente. O banco soltou um relatório extenso, em que explica como os mercados emergentes tendem a se beneficiar do cenário macroeconômico com taxas de juros e inflação mais baixas, e crescimento mais elevado.

O entendimento é que o pior momento da inflação já ficou para trás, especialmente na Ásia e na América Latina, o que permite que, agora, bancos centrais reduzam as taxas de juros elevadas anteriormente. Essa estabilização pode criar um ambiente positivo para estes mercados no momento em que os Estados Unidos entrarem no ciclo de afrouxamento monetário. “O impulso que as economias dos mercados emergentes acumularam em 2023 foi mantido em 2024”, diz o banco.

Mas o Brasil está de fora da visão mais positiva do Goldman para emergentes. Em relatório, o banco destaca que o País foi desafiado pela dinâmica fiscal, pelo aumento das pressões cambiais e pelas expectativas de inflação; o que obrigou o Comitê de Política Monetária (Copom) a interromper as quedas da taxa Selic e estacioná-la em 10,50% ao ano.

“Esperamos que o banco central permaneça inativo por muito tempo, com a janela de oportunidade para retomar o ciclo de flexibilização, possivelmente reabrindo em meados de 2025. As principais questões a observar até ao final de 2024 são a dinâmica orçamental e parafiscal no Brasil”, diz o relatório.

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A preferência dos investidores estrangeiros para as aplicações em ações nesse contexto são China, Coreia do Sul, Índia, Indonésia e África do Sul. O Brasil é apontado como um mercado que exige certa cautela, assim como México, por causa da transição política; Colômbia, com cenário fiscal incerto; e Argentina, devido ao direcionamento político.

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