- A discussão de composição ministerial do novo governo e a PEC de Transição tem penalizado o Ibovespa nas últimas semanas
- Perto dos 105 mil pontos, para analistas, a Bolsa brasileira tem chances de terminar 2022 perto ou até abaixo dos 100 mil pontos
- Dois fatores precisam estar no radar: a política em Brasília e o cenário macroeconômico no exterior
A Bolsa de valores brasileira está emendando uma sequência de quedas. Somente nestes primeiros doze dias de dezembro, o Ibovespa acumula uma desvalorização de 6,35% aos 105.343,33 pontos – cada vez mais próximo de uma versão negativa da “festa dos 100 mil pontos”. O grande catalisador das perdas? O noticiário político de Brasília.
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O pregão desta segunda-feira (12) é um exemplo de como a volatilidade política vem atingindo o índice de referência da B3 desde o final de outubro, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito presidente. Com queda de 2,02%, o mercado reagiu negativamente aos boatos de que Aloizio Mercadante, ex-ministro do governo Dilma, estaria cotado para assumir a presidência do BNDES ou da Petrobras. Entenda porque o mercado não gostou da notícia.
“No atual contexto, existe sim a possibilidade do Ibovespa perder os 100 mil pontos. Estamos falando de menos de 10% de queda nesse fim de ano, com diversas variáveis em jogo”, explica Rafael Marques, economista e CEO da Philos Invest.
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O caminhar da discussão política – com a PEC de Transição sinalizando o aumento dos gastos públicos a partir de 2023 com o novo governo – fazem o especialista começar a se questionar de uma máxima que até então pairava no mercado: a Bolsa brasileira está barata. “Isso valia para um cenário de economia crescendo e perspectivas positivas. A partir do momento em que se tem um cenário de recessão global e crise política, a Bolsa já não está tão barata assim”, afirma.
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, concorda: “A incerteza traz a Bolsa pra baixo e Lula entrou de uma forma muito pouco amigável com o mercado. Com certeza, temos a possibilidade de fechar abaixo de 100 mil pontos, dependendo de como isso se encaminhar até o final do ano”.
Até aqui, os fundamentos da Bolsa se mantêm, enquanto as oscilações são reflexo de uma “resposta” de investidores às notícias políticas. Ainda assim, Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos e especialista em renda variável, destaca que o Ibovespa está oscilando perto do patamar de suporte dos 107 mil pontos; que pode ser perdido caso a volatilidade continue.
“Se tiver quedas maiores, o Ibov vai buscar o próximo suporte, que é o de 100 mil pontos. Pode acabar o ano nos 100 mil? Pode. Pode ir abaixo disso? Acho pouco provável”, diz Boragini.
O que pode ajudar (ou piorar)
Segundo os especialistas, dois fatores principais podem atuar como catalisadores de desempenho na Bolsa nessa reta final de 2022. Para cima ou para baixo, a depender do viés das notícias.
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O primeiro deles continua sendo o noticiário político. Uma vez diplomado no TSE, Lula deve divulgar em breve novos nomes de sua composição ministerial; um anúncio que ainda pode fazer preço nas ações de acordo com quem forem os indicados.
Já tendo oficializado que o petista Fernando Haddad ficará no comando da Fazenda, o mercado deve acompanhar de perto principalmente a composição da equipe econômica do ex-prefeito de São Paulo e a indicação para a pasta do Planejamento, além dos indicados ao controle das estatais.
“O mercado se estressou com a ventilação do nome do Aloísio Mercadante e, se ele realmente entrar, não tenho dúvida de que cairia mais. Por outro lado, se não se concretizar, o Ibov pode dar uma respirada”, diz Boragini, da Davos.
Aqui, contamos como o mercado espera a formação de uma equipe mais “técnica” para balancear a indicação de Haddad para o cargo de chefe da Economia do País.
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Outro fator que pode movimentar a Bolsa, dessa vez menos dependente do Brasil, é o cenário macroeconômico no exterior. Na quarta-feira (14), o mercado vai conhecer as decisões de política monetária de três dos bancos centrais mais importantes do mundo: o Federal Reserve (Fed), nos Estados Unidos, o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco da Inglaterra (BOE).
“O cenário internacional também não ajuda”, destaca João Lucas Tonello, analista da Benndorf Research. Mesmo que os ajustes nas taxas de juros dos respectivos países já estejam precificados, a continuidade do aperto monetário nas economias desenvolvidas ainda penaliza os mercados globais de renda variável, que temem uma recessão.
“Desta forma, o mercado está no aguardo e já precificando dados ruins sobre notícias de emprego e a decisão da política monetária dos países supracitados”, diz Tonello. Um cenário de aversão a risco que, no Brasil, se une à volatilidade política para manter a Bolsa pressionada.