- A queda de 5,71% no acumulado de agosto, no entanto, não abala as expectativas do mercado para o ano
- A desvalorização foi causada por um movimento de realização de lucro pelos investidores, mas não deve refletir em um mau desempenho do índice no ano
- Projeções de corretoras variam entre um fechamento de ano de 123 mil a 140 mil pontos
Com 13 dias consecutivos em queda, o Ibovespa cravou a maior sequência de baixas da história na quinta-feira (17). A derrocada de 5,71% no acumulado de agosto, no entanto, não abala as expectativas do mercado para o ano. Ainda ventila no mercado a sensação de que o Ibovespa não atingiu o seu pico em 2023 e deve se valorizar nos próximos meses.
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Para Lucas de Caumont, estrategista de investimentos da Matriz Capital, a sequência de quedas pode ser explicada por uma realização de lucros por parte dos investidores, principalmente estrangeiros, que carregavam posições compradas desde os 100 mil pontos.
“Em algum momento, essa realização haveria de acontecer e o estopim foi o risco de uma recessão global por conta dos desafios da China, que apesar de diversos estímulos econômicos, está com dificuldade em retormar o aquecimento da economia e apresenta uma grande chance de default por parte de grandes construtoras”, diz Caumont.
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Antes, o índice de ações vinha registrando altas expressivas nos últimos meses, que culminaram na maior valorização do ano, de 9%, em junho. “Tivemos uma pernada muito forte e alguns investidores resolveram realizar um pedaço dos ganhos. Achamos natural depois desse tipo de evento haver um retorno parcial”, explica Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama.
A concretização da expectativa de corte na taxa Selic, anunciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na última reunião, também influenciou investidores a realizarem parte de seus lucros — o que não significa que a queda da taxa de juros seja negativa para a bolsa.
A ata da reunião do Copom indica a manutenção no ritmo de cortes para os próximos encontros. “Entendemos que os índices devem voltar a registrar uma performance positiva nos próximos meses, com investidores voltando a adicionar risco aos portfólios dada a perspectiva de novas quedas nos juros”, aponta João Mamede, gestor de Renda Variável na AZ Quest.
Segundo relatório publicado pela Genial Investimentos, “quanto mais rápida for a redução dos juros, maiores serão os efeitos sentidos no mercado”. “Há uma expectativa de que essa ação possa elevar o Ibovespa a patamares ainda mais altos do que os já vistos em 2023”, aponta a corretora. O Ibovespa chegou a bater a marca de 122.560 pontos no dia 26 de julho, valor registrado pela última vez em agosto de 2021.
O relatório da Genial demonstra que houve uma queda média da Selic de 5,25 pontos percentuais e uma valorização média do Ibovespa de 33% nos últimos cinco ciclos de queda de juros observados desde 2005.
A desvalorização do índice de ações no começo de agosto, portanto, não gera grandes preocupações e os próximos meses devem reservar algumas oscilações: “É normal, a Bolsa não sobe sempre, tem períodos de acomodação e Bolsa andando de lado”, diz Leonardo Piovesan, CNPI e analista fundamentalista da Quantzed.
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Analistas consultados pelo E-Investidor projetam que o índice pode terminar o ano em um nível ainda superior ao pico registrado em julho. As expetativas vão de 123 mil a 140 mil pontos, dependendo da casa.
O que pode fazer preço
Os cortes na Selic devem ditar o ritmo da Bolsa e sofrer influência da pauta política. Segundo Piovezan, da Quantzed, a reforma tributária é um dos pontos de atenção do Banco Central. “Se essa reforma travar no Senado, ter que voltar para a Câmara, e não for aprovada neste ano, por exemplo, pode ter um estresse também na curva de juros e nas empresas”, diz. Na avaliação do especialista, uma maior incerteza fiscal poderia afetar o ritmo de queda, levando a um ritmo mais reduzido de cortes.
O comportamento dos juros nos Estados Unidos também podem mexer no Ibovespa. Os olhares estão direcionados aos próximo movimentos do Fed (Federal Reserve, banco central americano), que elevou os juros em 0,25 ponto percentual em sua última reunião. “Ainda existe um risco dos juros subirem mais. Esse efeito também é um fator para o dólar subir aqui e isso acaba estressando os juros no Brasil”, aponta Pioveza.
Por outro lado, uma redução no ritmo de alta dos juros americanos podem beneficiar a bolsa brasileira. “Caso o Fed dê por encerrado o ciclo de alta, suportado pelo arrefecimento da inflação e do mercado de trabalho, os mercados de renda variável podem reagir positivamente”, avalia Mamede, da AZ Quest.
Muitas ações já foram precificadas. As small caps (empresas com menor valor de mercado), porém, são as mais descontadas no momento, após os meses de rali do Ibovespa, e devem apresentar os melhores desempenhos positivos. Essas companhias, no entanto, não possuem grande representatividade no índice.
Os setores que mais devem puxar o desempenho do Ibovespa pelos próximos meses são aqueles mais sensíveis à atividade econômica brasileira: varejo, construção civil, plataformas financeiras, saúde e educação são exemplos citados pelos especialistas.
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