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- Uma semana após a quarta-feira (2) que marcou o mercado com o primeiro corte de juros no País em três anos, tanto o Ibovespa quanto o câmbio acumulam uma sequência de pregões negativos
- Um dos fatores que pode estar pressionando o mercado brasileiro é o fluxo de capital estrangeiro, que virou para o negativo e já soma R$ 5 bilhões em resgates somente nos 8 primeiros dias de agosto
- Para especialistas, saída dos gringos da B3 reflete piora do sentimento de aversão a risco global
O primeiro corte da taxa de juros brasileira, confirmado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) há uma semana, era muito aguardado pelo mercado financeiro como a grande virada de chave para os ativos de risco no País depois de quase dois anos de aperto monetário. A expectativa era tanta que o Ibovespa engatou uma alta de 25% entre abril e junho, o maior rali desde o fim da pandemia da covid-19.
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O desempenho do índice, no entanto, não vem refletindo essa euforia desde a última quarta-feira (2), dia em que o Banco Central (BC) anunciou o corte de 0,5 ponto porcentual que levou a Selic a 13,25% ao ano. Desde então, foram oito pregões negativos na B3, com o Ibov saindo de 121.248,39 pontos no encerramento da terça-feira (1º), para 118.349,60 pontos uma semana depois (8).
Com o dólar também não foi diferente. A moeda americana, que vinha em uma sequência de desvalorização frente ao real voltou a subir, saindo de R$ 4,73 para R$ 4,89 no mesmo período.
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Como contamos nesta reportagem, especialistas veem espaço para essa tendência de apreciação do dólar à medida em que o Banco Central dê continuidade ao ciclo de cortes nos juros. Isso porque aquele capital internacional que vinha ao Brasil por causa do diferencial de juros do País em relação a outras economias – uma operação chamada de carry trade – pode ser reduzido. Um movimento que realmente aconteceu.
O fluxo de capital estrangeiro na B3 ficou negativo em R$ 1,017 bilhão somente na “quarta-feira do Copom”, mostra um levantamento feito por Einar Rivero, head comercial do Trademap. Um dia depois, os resgates foram de R$ 559 milhões. Ao todo, os resgates somavam R$ 5,026 bilhões até a terça-feira (8), dados mais recentes disponibilizados pela B3.
Um patamar muito acima, por exemplo, do fluxo negativo visto em fevereiro e março deste ano, período em que a incerteza fiscal tomava conta do mercado por aqui. Somados, esses dois meses tiveram um resgate de R$ 2,040 bilhões. O patamar destes 8 primeiros dias de agosto também supera o saldo negativo visto em maio; até então, o pior período de 2023 em relação à entrada de capital estrangeiro.
O levantamento feito pelo TradeMap mostra ainda que a última vez que o fluxo na B3 foi tão negativo foi em maio de 2022, mês em que os gringos retiraram R$ 6,170 bilhões na Bolsa brasileira.
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Aversão ao risco
Para Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos, trata-se de um movimento natural que não deveria assustar investidores, seja no Ibov, no dólar ou no fluxo estrangeiro. O especialista destaca que, ainda que a Selic tenha se reduzido, os juros brasileiro permanecem em patamares muito superiores ao americano, de 5,25% a 5,5% ao ano.
“O carry trade ainda é factível para o Brasil, então não é esse o motivo”, diz Boragini. “É mesmo uma realização de lucro. Aquilo que se ouve muito, sobre subir no boato e cair no fato. Foi isso que aconteceu.”
Apesar do resgate de certa forma expressivo nesse início de agosto coincidir com a data da reunião do Copom, a aposta é que o fluxo de capital estrangeiro tenha reagido, na verdade, a fatores vindos do exterior. Na última semana, uma série de eventos ajudaram a reacender um sentimento de aversão a risco no mercado internacional.
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Os Estados Unidos tiveram seu rating de crédito rebaixado pela agência de classificação de riscos Fitch, de AAA para AA+ (com perspectiva estável). Veja como isso afeta os investimentos. A maior economia do mundo também foi destaque no período ao divulgar os dados de seu mercado de trabalho ainda aquecido, o que reforçou os temores de que a política monetária permaneça dura por lá.
Isso acabou impactando o apetite de investidores estrangeiros por alocações de risco, como os ativos do Brasil, muito mais do que o próprio corte de juros, diz Jennie Li, estrategista de ações da XP. “Realmente estamos vendo um início de mês negativo, tanto no Brasil quanto lá fora. Mas isso é muito mais explicado por uma aversão geral ao risco nos mercados globais do que por uma reação negativa em relação ao corte do Copom, que na verdade foi positivo.”
A entrada de capital estrangeiro na B3 vinha em um ritmo acelerado: em junho e julho foram R$ 13,536 bilhões e R$ 8,865 bilhões em aportes, respectivamente. Com o aumento da aversão a risco no exterior, esse início de agosto pode ficar marcado como uma oportunidade para os gringos tirarem o pé do freio e realizarem os lucros conquistados nesses quatro meses de alta seguida na Bolsa brasileira.
- Leia também: Por que o Fundo Verde está reduzindo a posição em Bolsa brasileira
“O mercado subiu muito forte. O estrangeiro surfou boa parte dessa onda em junho e julho e agora está realizando um pouco dos lucros, colocando um pouco no bolso para esperar uma melhor oportunidade para voltar a comprar”, afirma Ricardo Jorge, sócio da Quantzed.
Perspectiva ainda é positiva
O saldo total de capital estrangeiro na Bolsa brasileira, em 2023, ainda é de R$ 26,901 bilhões. E a perspectiva, para frente, segue positiva.
O BC deixou sinalizado na última semana que deve manter o ritmo de redução da Selic em 0,5 ponto porcentual para as próximas reuniões, o que deve levar os juros brasileiros para 11,75% ao ano ao final de 2023. Para além do efeito positivo esperado no mercado de investimentos, o afrouxamento monetário também deve levar a uma melhora da economia do País.
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Um cenário que, se confirmado, pode manter o apetite dos estrangeiros por Brasil. “São dois lados da moeda”, destaca João Piccioni, analista da Empiricus Research “Obviamente, o carry trade vai se reduzir ao longo do tempo, mas vai ter uma boa dinâmica de investidores direcionando recursos para ações, que será um contrapeso aqui. Até o câmbio deve responder de forma mais positiva no agregado, porque o afrouxamento monetário deve influenciar a melhora da economia brasileira.”