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Ação ligada à China lidera Ibovespa, mas varejo pesa mais e derruba a Bolsa em setembro

Bolsa corrige recorde obtido em agosto, com pressão nas decisões de juros e oscilação no preço das commodities

Ação ligada à China lidera Ibovespa, mas varejo pesa mais e derruba a Bolsa em setembro
Ibovespa é o principal índice da Bolsa. (Foto: Adobe Stock)
  • O Ibovespa encerrou esta segunda-feira (30) aos 131.816,44 pontos, com uma desvalorização acumulada de 3,08% em setembro
  • Alta de juros no Brasil e oscilações das commodities no mercado internacional marcaram o mês dos investidores
  • CSN Mineração (CMIN3), Azul (AZUL4), Santos Brasil (STBP3) e outras; veja quais foram as ações que conquistaram altas na Bolsa em setembro

O Ibovespa encerrou esta segunda-feira (30) aos 131.816,44 pontos, com uma desvalorização acumulada de 3,08% em setembro. Pressionado por alguns fatores, o índice de referência da Bolsa brasileira passou por um movimento de correção depois do bom desempenho do mês anterior, quando atingiu recordes históricos de fechamento. Ainda assim, o IBOV fechou o terceiro trimestre de 2024 com uma alta acumulada de 6,38%.

O grande destaque da Bolsa em setembro ficou com as reuniões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos. No último dia 18, o Banco Central brasileiro decidiu retomar o ciclo de aperto monetário, elevando a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual para 10,75% ao ano. O movimento já era amplamente esperado – e defendido – no mercado, como um ajuste necessário frente à piora do cenário de expectativas inflação e risco fiscal.

Lá fora, no mesmo dia, o banco central dos EUA, o Federal Reserve (Fed), iniciou o tão esperado ciclo de cortes de juros na maior economia do mundo, reduzindo a taxa americana em 50 pontos-base, para o intervalo entre 4,75% e 5,0% ao ano. Mas este corte nos EUA não se traduziu em um aumento do fluxo de investidor estrangeiro na B3, como esperavam especialistas. A entrada de capital gringo no País é um dos maiores motores das ações brasileiras e foi, inclusive, um dos principais motivos por trás da alta registrada em agosto.

Neste mês, até a última quinta-feira (26), dado mais recente, houve uma retirada de R$ 903 milhões da Bolsa de Valores. “O gringo está fazendo conta do custo do capital alocado na Bolsa brasileira e se há opções mais atrativas, principalmente quando se olha para um cenário fiscal sem muito alívio na pressão de gastos. A reflexão que o investidor provavelmente fará será de que se vale migrar o capital para a renda fixa ou para oportunidades no exterior, inclusive com pares emergentes”, diz Idean Alves, especialista em mercado de capitais e sócio da Ação Brasil Investimentos.

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Ao longo de setembro, as ações ligadas à commodities também fizeram peso no Ibovespa. A desaceleração da economia na China jogou para baixo o preço do minério de ferro e do petróleo, penalizando papéis que são importantes para a composição do índice de ações da B3.

O minério chegou a ser negociado na casa dos US$ 90 a tonelada, a menor cotação dos últimos dois anos. O barril do tipo Brent do petróleo, por sua vez, caiu cerca de 11% no mês. O cenário mudou nesta última semana, quando a China anunciou um novo pacote de estímulos à economia, incluindo corte na principal taxa de juros do país.

“O setor de commodities, especialmente o de mineração e siderurgia, deve continuar a se beneficiar do aumento da demanda chinesa. Mas como o impacto positivo foi sentido apenas no final do mês, não conseguiu reverter totalmente a queda de setembro”, destaca Anderson Santos, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital.

As ações do Ibovespa que mais subiram em setembro

Os estímulos na China e a consequente alta do minério de ferro fizeram as empresas de mineração e siderurgia saltarem na Bolsa. Na esteira desse movimento, as ações da CSN Mineração (CMIN3) subiram 21,48% no mês, liderando as valorizações do Ibovespa em setembro. “A CSN surfou nas notícias das medidas anunciadas pelo Banco do Povo da China para estimular a economia do país, o que contribuiu para o fluxo positivo da CMIN3, que em 6 meses já tem 36% de alta, após anos de maré baixa”, destaca Idean Alves, da Ação Brasil Investimentos.

O outro destaque de alta em setembro ficaram com as ações da Azul (AZUL4). Já há algum tempo, investidores acompanham a situação financeira da companhia, receosos com boatos que circularam de que a empresa estaria prestes a acionar o Chapter 11, um mecanismo de recuperação judicial nos Estados Unidos.

Agora, os papéis conseguiram se recuperar das perdas recentes apoiados na expectativa do mercado sobre a possibilidade de um acordo com arrendadores de aeronaves. Este é um passo essencial para viabilizar um aumento de capital privado de até US$ 400 milhões até o final de outubro. Somente na semana passada, a AZUL4 subiu 13%, como mostramos aqui.

As ações da Santos Brasil (STBP3) também subiram por fatores micro: o Opportunity vendeu sua fatia na empresa para a CMA CGM, empresa global de transporte e logística. O valor da operação, segundo o fato relevante divulgado pela Santos Brasil, será de cerca de R$ 6,3 bilhões, considerando R$ 15,30 por ação. “Em nossa opinião, à medida que os termos do acordo se tornarem mais claros, vemos uma oportunidade de arbitragem interessante em comparação com o CDI”, destaca Renato Chanes, analista da Ágora Investimentos.

As maiores quedas do Ibovespa no mês

Na ponta negativa do Ibovespa, as ações da Brava (BRAV3), fruto da fusão entre 3R Petroleum e Enauta, lideraram as desvalorizações em seu mês de estreia. O papel caiu 33,14% em setembro, pressionado pela interrupção da exploração em Papa-Terra, em 4 de setembro, quando a a Agência Nacional do Petróleo (ANP) interrompeu a produção para esclarecimentos sobre a manutenção do ativo e número de pessoas a bordo. A normalização da operação está prevista para dezembro.

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“Os investidores esperavam uma retomada mais rápida da operação do Papa-Terra. Por outro lado, agora a empresa emitiu uma expectativa de quando a produção deve ocorrer, o que deve ajudar a ancorar as expectativas daqui em diante”, destaca Chanes, da Ágora.

No Ibovespa em setembro, também caíram as ações do Assaí (ASAI3) e do Magazine Luiza (MGLU3), nomes cíclicos que sofrem maior impacto com o aumento da taxa de juros, que pressiona o resultado financeiro de empresas mais alavancadas. Mas não é só isso que está por trás do desempenho negativo do Assaí.

A companhia divulgou um fato relevante informando que recebeu um “Termo de Arrolamento” emitido pela Receita Federal, uma medida administrativa que fiscalizará R$ 1,3 bilhão em ativos do grupo em relação a passivos tributários do Grupo Pão de Açúcar (GPA).

“É importante ressaltar que essa medida não impacta as finanças ou as operações, e nem mesmo impede o Assaí, por exemplo, de vender ou transferir esses ativos, embora esteja sujeito à exigência de notificar a Receita Federal se o fizer”, explica o analista da Ágora. “Essa manchete levantou algum ruído sobre a tese de ASAI3 e, em última análise, aumentou volatilidade para as ações no curto prazo (que já vinham em queda).”

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