O Ibovespa passa por um começo de 2024 muito turbulento. O indicador foi dos 134.185 pontos para 127.635,65 pontos entre o fechamento do último pregão de 2023 e a última sexta-feira (19), uma queda de 4,88% em menos de um mês. Olhando para esse fato, o investidor pode pensar que as projeções otimistas para o Ibovespa acabaram, mas não foi isso que aconteceu.
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Segundo Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, a queda dos últimos dias aconteceu após o mercado entender que o corte de juros feito pelo banco central americano, o Federal Reserve (FED), já começaria na reunião de março. “O mercado teve uma ansiedade muito grande por trabalhar com corte de juros nos EUA em março, enquanto eu esperava um corte em maio ou junho”, diz.
Os juros básicos dos EUA estavam entre o intervalo de 5,25% e 5,5% ao ano. A taxa estava entre 0% e 0,25% em 2020 e subiu para esse patamar entre 2022 e 2023 por causa da disparada da inflação americana que chegou a 6,5% em 2022. “Nessas últimas semanas, vimos autoridades do Fed com um discurso conservador, o que deixou claro para o mercado que o corte de juros nos EUA deve ser no final do segundo trimestre”, explica Spiess.
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Já Luís Moran, head da EQI Research, comenta que além do choque com o início do corte de juros mais tardio, o mercado acionário brasileiro também passou por uma correção natural, a qual ainda não dá para saber quando vai acabar. “É importante sempre lembrar que a correção pode durar mais algum tempo e ninguém consegue prever exatamente o fundo”, alerta Moran.
Segundo Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa Investimentos, o melhor para o investidor nesse caso é esperar sinais de que a tensão ficou para trás. “O melhor para o investidor é esperar novos dados econômicos para confirmar se haverá novas correções, eu esperaria um tempo, pois no curto prazo, dentro de um mês, há uma forte pressão sobre a Bolsa. Então, o melhor é aguardar para comprar mais barato”, orienta Serra.
Projeções mudaram para o Ibovespa em 2024?
Mesmo sem saber quando as correções devem acabar, os analistas ainda continuam otimistas para 2024 e projetam o Ibovespa entre 138 mil pontos e 170 mil pontos. Para Fernando Siqueira, head de research da Guide Investimentos, a previsão de alta da Bolsa está principalmente atrelada a queda da taxa de juros.
“Historicamente, períodos de quedas de juros foram positivos para os investimentos, incluindo ações (e também renda fixa pré-fixada, fundos imobiliários, fundos de infraestrutura). Acreditamos que em 2024 não será diferente”, explica Siqueira.
A taxa básica de juros da economia, a Selic, encerrou 2023 em 11,75% após começar o ano em 13,75%. Segundo o mais recente boletim Focus, o ciclo de corte de juros deve continuar e taxa deve encerrar o ano em 9%. Alguns analistas são um pouco menos otimistas do que a média, como é o caso de Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset.
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“Para 2024, esperamos que Selic alcance 9,25%, e para 2025 projetamos 8,5%. Todos os cortes em 2024 seriam no ritmo de 50pbs por reunião, esse seria um corte mais responsável para se evitar qualquer risco de pico inflacionário”, explica Kautz.
Além do corte de juros, as questões políticas também podem influenciar. Na visão de Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, caso o governo não consiga cumprir as questões fiscais, o índice pode sofrer e não atingir o patamar estipulado por ele.
“Acho que isso é pouco provável. O governo não prioriza a questão orçamentária, mas leva essa questão em consideração. Mesmo que esse empenho seja na parte de tentar aumentar a arrecadação, o mercado continua vendo isso como algo positivo. A nossa estimativa é que o governo Lula continue sendo razoavelmente amigável com o mercado”, comenta Soares.
Um último ponto que deve ajudar é o mercado internacional. Segundo Alexandre Mathias, estrategista chefe da Monte Bravo, a queda dos juros nos EUA será um fator importante para o bom desempenho da Bolsa brasileira.
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“Os juros no mercado americano tendem a fechar 2024 entre 4,25% e 4,5%, o que faz com os investidores globais tomem mais riscos, puxando eles para países como o Brasil. O corte de juros pelo Fed deve começar em junho, o que será muito positivo para o Ibovespa”, afirma Mathias.
Na visão do analista da Mirae Asset, Pedro Galdi, esse corte de juros deve ser puxado pela desaceleração da economia americana e europeia. “Não irá ocorrer recessão nos EUA e Europa, apenas desaquecimento. Quando isso acontecer, a expectativa de corte de juros deve se confirmar”, ressalta Galdi.
Todos os especialistas acreditam que vale a pena estar comprado em Bolsa e recomendam o investidor que não souber montar um carteira a comprar o Exchange Traded Fund (ETF) que replica o Ibovespa, o mais famoso é o BOVA11.
A única discordância é a estimativa de projeção para o índice, principalmente da Ativa Investimentos, que vê o indicador em 138 mil pontos no final de 2024, uma pequena alta de 8,4%, muito menor que o salto de 33,5% da projeção máxima de 170 mil pontos.
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“Estamos menos otimistas por causa das ações da Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4), que são papéis de peso relevante na carteira do Ibovespa e que já atingiram o pico do valor justo. Ou seja, como esses ativos não devem subir até o fim do ano, o Ibovespa não deve ter tanto impulso em 2024″, conclui Pedro Serra, da Ativa.