O que este conteúdo fez por você?
- Alta dos combustíveis, companhias endividadas e custos dolarizados são os principais fatores para o encarecimento dos bilhetes aéreos
- Os preços elevados das passagens aéreas obrigam os brasileiros a encontrar alternativas para reduzir os custos da viagem
- Os programas de milhas e as ferramentas de monitoramento de passagens se tornaram ainda mais aliados dos consumidores na hora de viajar
Desde a pandemia da covid-19, viajar de avião está mais difícil para os brasileiros devido ao aumento do preço das passagens aéreas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as tarifas subiram 47,24% no acumulado dos últimos 12 meses. Apenas em dezembro, a alta correspondeu a 8,87%. Os custos dolarizados do setor, a alta dos combustíveis e o endividamento das empresas explicam o encarecimento das passagens e exigem ainda mais dos brasileiros estratégias de economias na hora de planejar uma viagem.
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A farmacêutica Gabrielly Lessa, de 28 anos, está numa busca incessante por um bilhete de até R$ 600 com as taxas inclusas para um voo direto de Fortaleza (CE), cidade onde mora, para Recife (PE), na sexta-feira de carnaval. Até o momento, os valores que conseguiu encontrar ficam em torno de R$ 1.200 apenas para um trecho e a tendência é que permaneçam nesse patamar à medida que a data festiva se aproxima.
“A Latam fez uma promoção relâmpago de R$ 180 a ida durante a madrugada. Quando eu ia colocar os dados do meu cartão, o site caiu e não consegui comprar”, diz Lessa. Já na tarifa referente à volta, ela teve mais sorte. Conseguiu comprar por R$ 587. “Vai ser o jeito ir de ônibus que está em torno de R$ 370. A parte ruim é que vou ter que enfrentar 12h de viagem no lugar de 1h, se fosse de avião”, diz a farmacêutica.
A situação de Lessa é vivenciada por outros brasileiros que buscam viajar para destinos locais e internacionais, mas devido ao encarecimento das passagens aéreas decidem recorrer a outros meios de transporte ou adiar a viagem. Tais comportamentos refletem no número de assentos comercializados.
Os custos do setor aéreo
De acordo com os últimos dados disponíveis da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em outubro de 2023, 2,41 milhões de assentos para voos nacionais foram comercializados pelas companhias aéreas. O volume é 28,9% menor em comparação ao mesmo período de 2019.
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Já em relação às tarifas, os brasileiros desembolsaram em média, durante o mesmo período, R$ 741,47 para voos domésticos. O valor é 26,3% maior em comparação ao mesmo período de 2019, quando os gastos ficaram em torno de R$ 587,26 – os preços estão corrigidos pela inflação
Marcus Quintella, diretor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de Transportes aponta a alta dos combustíveis como fator preponderante para as tarifas elevadas. “O custo do combustível no Brasil chega a comprometer de 35% a 40% do custo da passagem aérea. Na Europa, fica uns 25% e nos Estados Unidos em torno de 22% a 23%”, diz Quintella.
Ainda de acordo com a Anac, o preço do querosene de aviação (QAV), combustível utilizado para as aeronaves, ficou em média de R$ 4,44 em outubro do ano passado, 12% menor em relação ao mesmo período de 2022. No entanto, o preço está 92,1% acima do comparado ao de outubro de 2019 (R$ 2,31) – os dados dos preços do combustível são nominais.
A demanda reprimida em virtude dos períodos de isolamento social na pandemia e os problemas na fabricação e na manutenção das aeronaves também impedem o barateamento dos bilhetes. “Há uma elevação do custo de manutenção dos aviões. Não há de forma rápida o suprimento de peças em função da pandemia. Isso encarece o custo do segmento”, cita o economista Ricardo Coimbra. Paralelo a isso, as companhias aéreas ficaram mais endividadas em função dos períodos mais críticos da pandemia que causaram uma queda abrupta da demanda de voos.
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Os efeitos ainda são sentidos pelas companhias, mesmo com uma retomada das viagens. No início desta semana, o mercado repercutiu a notícia, veiculada pelo jornal Folha de S.Paulo, de um possível pedido de recuperação judicial (RJ) da GOL (GOLL4) nos Estados Unidos. Desde então, as ações da companhia seguem com sucessivas quedas e acumulam em janeiro uma desvalorização de 25,64%.
Para Quintella, o caso é um resultado da falta de incentivos fiscais do governo durante a pandemia. “O Brasil não apoiou as companhias aéreas durante a crise sanitária. O governo norte-americano e a Europa deram bastante incentivo. O resultado é que as companhias brasileiras ficaram endividadas”, acrescenta.
Não é só no Brasil
A inflação dos preços das passagens aéreas é um problema sentido em todo o mundo. Segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), o preço das passagens aéreas nos Estados Unidos registrou alta de 57% de 2019 até o primeiro semestre de 2023, quase o dobro da variação registrada no Brasil no mesmo período, de 32%. Os dados citados pela Abear são da ANAC e do Bureau of Transportation Statistics, uma das agências federais de estatística dos EUA.
“A Abear segue em defesa de uma agenda ampla e consistente para enfrentamento dos custos e aumento da competitividade no Brasil e segue em diálogo permanente com o governo federal sobre medidas conjuntas que combatam os entraves ao crescimento do transporte aéreo no País”, diz a associação.
Há formas de economizar?
Apesar do encarecimento, há mecanismos que os consumidores podem utilizar na hora de planejar a sua viagem e economizar na compra das passagens aéreas. O principal, e possivelmente o mais conhecido, é fazer parte de algum programa de fidelidade de cartão de crédito. Isso porque, à medida que você for comprando, os gastos geram pontos que podem ser convertidos em bilhetes aéreos.
Mas Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, empresa de educação financeira, alerta que o consumidor precisa escolher cartões de créditos que paguem mais pontos. Caso contrário, poderá passar anos comprando a crédito para conseguir trocar por uma passagem aérea. “Também precisa ficar de olho nas promoções para comprar milhas mais baratas ou transferir de um programa para o outro e ganhar bônus enormes”, diz Cohen.
O casal Luís Antônio Caetano e Carolina Taketomi utilizou essa estratégia para visitar cerca de 40 países em 10 meses no ano passado. Por meio dos programas de milhas, os dois acumularam juntos mais de 2,4 milhões de pontos. O volume foi o suficientes para a emissão de 65 passagens aéreas, o que representou uma economia real de R$ 40 mil no planejamento da sua viagem. Veja os detalhes desta história.
As ferramentas online de monitoramento de preços, como o Google Flights, também ajudam a encontrar as datas em que os bilhetes aéreos estão mais baratos. Além disso, comprar as passagens com antecedência ajuda os consumidores a encontrar preços mais acessíveis. Segundo um estudo da Onfly, plataforma que oferece gestão de viagens e despesas para empresas, o período ideal para comprar um bilhete aéreo nacional fica em torno de 30 a 40 dias de antecedência da data da viagem. Veja os detalhes nesta reportagem.