A boa performance, no entanto, ainda não foi capaz de zerar as perdas do agregado do ano e a bolsa brasileira tem queda de 11,29% em 2020. Porém, será que o desempenho da B3 está em sintonia com outras bolsas pelo mundo?
Para responder essa pergunta, o E-Investidor realizou um levantamento aferindo o comportamento do Ibovespa (B3), NYSE Composite (Bolsa de Nova Iorque), Nasdaq Composite (Nasdaq), SSE Index (Bolsa de Xangai) e Euro Stoxx 50 (Índice de ações da Zona do Euro). Para esta comparação, foram observados o desempenho dos índices até o seu pior momento na crise e a recuperação de cada um.
Desempenho dos índices
Índice |
Pior momento da crise / Desvalorização até a data |
Valorização até 17/07 |
Variação do ano |
Ibovespa |
23 de março/-45,03% |
61,39% |
-11,29% |
NYSE Composite |
23 de março/-36,91% |
41,17% |
-10,94% |
Euro Stoxx 50 |
18 de março/-36,35% |
41,14% |
-10,16% |
SSE Index |
23 de março/-12,78% |
20,82% |
5,38 |
Nasdaq Composite |
23 de março/-23,54% |
53,22% |
17,16 |
Por que o Ibovespa foi o que mais caiu?
Segundo especialistas consultados pelo E-Investidor, o Ibovespa foi o índice que mais caiu, porque além da pandemia da covid-19, que derrubou os mercado de todo mundo, o País também lidava com outras crises internas.
“Em momento de crise há uma fuga muito grande de capital de países com maiores incertezas”, diz Gustavo Akamine, analista fundamentalista e gestor de recursos da Constância Investimentos.
Assim, Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, comenta que “o Brasil é bom em criar problemas”, o que faz com que muitos investidores estrangeiros saiam do país em busca de mercados mais seguros. “Tudo caiu e está barato e ele sabe que a segurança é maior em outros países”.
Ou seja, além da crise que prejudicou as bolsas de todo mundo, as crises internas do Brasil afastaram ainda mais o investidor estrangeiro da B3, e o Ibovespa caiu mais do que outros índices. “Qualquer probleminha a mais dentro de um contexto de crise mundial vira uma catástrofe”, diz Franchini.
Segundo dados da B3, até a quarta-feira (15), os investidores estrangeiros já haviam retirado R$ 82,254 bilhões do mercado acionário brasileiro. Apesar disso, as perspectivas do País melhoraram e junho foi o primeiro mês do ano em que a bolsa registrou um saldo mensal positivo de investimento estrangeiro.
Por que nossa recuperação foi a maior desde o pior momento da crise?
Segundo os especialistas, a alta de mais 60% do Ibovespa está relacionado a dois motivos centrais: à retomada das bolsas mundiais e à própria queda vertiginosa que a bolsa brasileira teve. “A valorização de quem caiu muito sempre é muito maior que a de quem caiu pouco”, afirma Akamine.
Franchini ressalta que o valor mais alto em relação aos outros índices não é um indicativo que a retomada é melhor no Brasil e que o País voltou a ser muito atrativo, mas sim pelo fato do grande valor da queda. “A recuperação foi boa, mas ainda falta muito”, diz o sócio da Monte Bravo.
Porém, as perspectivas por aqui de fato começam a melhorar, segundo os analistas. A economia brasileira está abrindo gradualmente e a agenda de reformas e privatizações voltaram ao debate público, o que também tem contribuído para a alta.
Saldo do ano ainda é negativo
Apesar do bom momento, a Bolsa ainda não foi capaz de anular as perdas do ano. Mesmo assim, conseguiu igualar as perdas do NYSE Composite e do Euro Stoxx 50. “São índices com empresas globais e refletem mais o momento do mundo”, afirma Akamine, da Constância.
Portanto, apesar de negativo, o Ibovespa agora está em linha com outros índices. A dúvida, no entanto, é saber se a bolsa brasileira vai continuar acompanhando as tendências mundiais e se conseguirá zerar as perdas do ano. “Qualquer novo probleminha aqui pode diferenciar o Brasil negativamente de novo”, diz Franchini.
Por que o SSE Index e o Nasdaq Composite já estão positivos?
Segundo os especialistas, os dois índices se recuperaram antes por dois motivos diferentes. No caso do Nasdaq Composite, que tem a variação mais positiva no ano, a alta foi puxada pelo tipo de empresas que compõem uma das bolsas de Nova Iorque. “Ela concentra muitas empresas de tecnologia e elas mais ganharam do que perderam com a crise”, diz Akamine.
Franchini, comenta que em toda a crise há um setor que se destaca, e nessa foi o de tecnologia. Assim, a alta demanda pelos diferentes serviços que as empresas listadas na Nasdaq oferecem impulsionou os papéis e, consequentemente, valorizou o índice.
Algumas das empresas que fazem parte dela são Apple, Tesla, Amazon, Zoom, Facebook e Microsoft. “O mundo necessitou dos serviços delas na crise”, afirma o sócio da Monte Bravo.
Já em relação ao índice da Bolsa de Xangai, os especialistas destacam que o SSE Índex foi um dos que menos sofreram com a crise. Assim, apesar da crise ter começado na China, o país conseguiu administrar bem a doença, reabrindo a economia antes do resto do mundo.
“Tomaram medidas drásticas para conter a doença e já começaram a mostrar resultados não tão ruins mais cedo”, comenta Akamine.
“A China reverteu a quarentena tão rápido quanto implantou”, concorda Franchini. Neste contexto, ele ressalta que o mercado enxergou na bolsa chinesa um bom local de investimentos. Por isso, o índice caiu menos e já está com o desempenho positivo no ano.
“Com a perspectiva que o país fosse melhorar mais rápido que todo o mundo é natural que sua bolsa estaria entre as mais atraentes e valorizaria”, completa o sócio da Monte Bravo.
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