- Junho é o primeiro mês no ano que a bolsa brasileira registra um saldo positivo de investimento estrangeiro no País. Superávit foi de R$ 343,030 milhões
- Segundo especialistas, a movimentação ocorre devido à melhora das perspectivas do País. Saldo deve se manter positivo nos próximos meses
- Investidor local deve olhar de maneira positiva à volta de estrangeiros à bolsa brasileira
Pela primeira vez no ano, a B3 registrou um mês com saldo positivo de investimento estrangeiro. Em junho, o superávit foi de R$ 343,030 milhões. A performance mensal é resultado de compras de R$ 318.668 bilhões e vendas de R$ 318,325 bilhões. No acumulado de 2020, no entanto, a saída de capital gringo já soma R$ 64,355 bi.
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Para o cálculo, foi levado em conta a movimentação mensal de estrangeiros em compras, vendas e IPOs/Follow Ons – no mês de junho nenhuma empresa abriu seu capital ou fez uma oferta subsequente de suas ações. (Confira o ranking no final da reportagem)
Para efeito de comparação, segundo dados da B3, de janeiro a junho de 2019, o saldo de investimento estrangeiro na bolsa brasileira era positivo em R$ 9,690 bi. No acumulado do ano passado, porém, o saldo foi negativo em R$ 4.694 bi.
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O Ibovespa encerrou o mês de junho com alta de 8,76%, aos 95.055,82 pontos. No primeiro semestre do ano, no entanto, a bolsa teve queda de 17,80% até o fechamento do dia 30 de junho.
Neste cenário, o E-Investidor conversou com especialistas para entender o que causou o saldo positivo de investidor estrangeiro pela primeira vez no ano. Essa é uma tendência para os próximos meses? E o que isso significa para o investidor local?
Antes de entender o que inverteu o sinal do saldo, é necessário compreender primeiro o motivo para o acumulado do ano ser tão negativo.
Segundo os especialistas, a grande saída de capital estrangeiro aconteceu em dois momentos por fatores diferentes.
Henrique Esteter, analista da Guide, diz que no final do ano passado e no começo deste ano, pré-crise, a saída da capital ocorreu devido a uma realização de lucro dos investidores. “Tivemos um rali de alta muito forte ano passado e eles realizaram lucro nos primeiros meses do ano”.
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Já no segundo momento, em março com a pandemia começando, a saída de capital ocorreu pela aversão ao risco. José Cataldo, head de research da Ágora Investimentos, explica que o investidor estrangeiro sempre busca investir em países com perspectiva de crescimento maior e poucos riscos. E com a chegada da crise, o Brasil se tornou o oposto disso.
De acordo com o especialista, este movimento ocorreu em todos os países emergentes, mas no Brasil a fuga de capitais foi mais intensa, já que, além da crise sanitária, o País também enfrenta turbulências políticas. “É natural e até esperada a saída do investidor estrangeiro neste cenário”, diz o head de research da Ágora.
O que mudou em junho?
Neste contexto, os especialistas explicam que o saldo foi positivo em junho devido a uma combinação de três fatores: o cenário global de juros muito baixos, a melhora do ambiente interno e a recuperação generalizada de bolsas globais.
Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos, lembra que para combater a crise os bancos centrais de vários países reduziram os juros com o objetivo de estimular a economia. “Isso fez os investidores do mundo inteiro procurarem barganhas nas bolsas para terem melhores retornos”.
Ele ainda ressalta que a crise começou a dar sinais de que iria passar antes do esperado e o temor político que assombrava o País também amenizou. Deste modo, os investidores estrangeiros voltaram a ver na bolsa brasileira uma boa oportunidade de lucro. “Estamos com excelentes empresas muito baratas e um ambiente melhor”, diz Carvalho.
Esteter, da Guide, lembra que no mês de junho, enquanto a B3 ainda apresentava um desconto de mais de 17% em relação ao começo do ano, as principais bolsas do mundo já tinham se recuperado. “O investidor enxergou aqui uma oportunidade do seu dinheiro render mais que em outros lugares”, afirma.
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“Para ter rentabilidade no cenário atual de juros tem que ir para a bolsa. A nossa ainda está muito descontada e o País está mais calmo, o que atraiu de volta o investidor estrangeiro”, diz Cataldo, da Ágora.
Saldo se manterá positivo?
Segundo os especialistas, a resposta é sim. Isso porque a bolsa continua descontada e ao que tudo indica o governo vai retomar sua agenda liberal, o que é visto com bons olhos pelos investidores estrangeiros.
Cataldo afirma que se o cenário continuar tranquilo e os planos de crescimento para o País ficarem mais claros o saldo de investidores estrangeiros deve continuar positivo. “Se tivermos boas notícias a tendência é termos mais meses positivos daqui para frente”, afirma o head de research da Ágora.
Com isso, Esteter, diz que apesar da montante positivo em junho ser pequeno, não deixa de ser um sinal de que a perspectiva do País está melhor. “Isso mostra que a tendência é eles voltarem e o saldo ser positivo daqui para frente”, pontua o analista da Guide.
Além disso, eles comentam que a retomada prevista para o segundo semestre dos IPOs e Follow Ons também deve ajudar a atrair mais investidores estrangeiros. “Tudo se desenha para um cenário mais positivo, que deve impulsionar a bolsa”, diz Esteter.
Contudo, fica um alerta: os ventos podem mudar se os casos de covid-19 voltarem a subir e as tensões políticas retornarem. “Com novas tensões, o investidor estrangeiro fica preocupado e sai de novo”, diz Carvalho, da Toro.
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Segundo dados da B3 até a última atualização, no dia 6 de julho, o saldo de investimento estrangeiro no mês era negativo em R$ 1.270 bi. O resultado é a combinação de R$ 42,245 bi em compras e R$ 43.515 bi em vendas.
O que isso significa para o investidor local?
Para os especialistas, a volta do estrangeiro para a bolsa brasileira é uma notícia muito positiva para o investidor local. Esteter comenta que o investidor estrangeiro é muito conservador e sempre busca correr o menor risco possível.
Então, a partir do momento em que voltam a apostar no Ibovespa, significa que o potencial de valorização é grande. “É um sinal que já temos um cenário com perspectivas melhores”, diz o analista da Guide.
Cataldo, da Ágora, concorda e confirma que o movimento deve fazer a bolsa brasileira se valorizar. “O investidor estrangeiro voltando para a B3 é um sinal positivo para o investidor local, pois mostra que o exterior também está enxergando boas perspectivas aqui”.
Carvalho, da Toro, lembra que o investidor estrangeiro representa mais de 40% das negociações da B3. Então, com o saldo voltando ao campo positivo, ele também acredita que a tendência é a bolsa subir. “Corrobora com a visão de que o mercado vai melhorar.”
Movimentação dos investidores estrangeiros mensal (R$ bilhões)
Mês | Compras | Vendas | IPO / Follow On | Saldo |
Janeiro | R$ 206.654,2 | R$ 225.812,0 | R$ 901,9 | -R$ 18.255,9 |
Fevereiro | R$ 225.559,8 | R$ 246.531,4 | R$ 11.246,8 | -R$ 9.724,8 |
Março | R$ 351.454,6 | R$ 375.662,5 | – | -R$ 24.207,9 |
Abril | R$ 260.506,5 | R$ 265.575,6 | – | -R$ 5.069,1 |
Maio* | R$ 248.298,2 | R$ 255.739,4 | – | -R$ 7.441,2 |
Junho* | R$ 318.668,7 | R$ 318.325,7 | – | R$ 343,0 |
Total | R$ 1.611.142,0 | R$ 1.687.646,6 | R$ 12.148,7 | -R$ 64.355,9 |
Fonte: B3. *Dados de IPO / Follow On ainda não disponibilizados