Na contramão: fazer um IPO na crise pode ser uma boa ideia?

No início do ano, o cenário projetado pelo mercado financeiro para 2020 era bem diferente da realidade que o País enfrenta hoje. Com as taxas de juros caindo e a bolsa de valores batendo recordes, muitos especialistas consideravam que este seria o ano dos IPOs (Ofertas Públicas Iniciais), quando uma empresa lança ações pela primeira vez.

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De fato. Até o início de março, 18 empresas protocolaram pedidos de abertura de capital junto à Comissão de Valores Imobiliários (CVM) – se as ofertas fossem efetuadas, seria o maior número de aberturas de capital desde 2007.  Mas o aquecimento no mercado de capitais brasileiro foi derrubado pela pandemia de coronavírus, que impactou toda a conjuntura econômica, pressionou os preços das ações para baixo e levou à bolsa de valores ao colapso.

O resultado foi o adiamento de 16 das ofertas públicas iniciais – dessas, 13 ficaram para 2021 e três para o final deste ano. As únicas exceções foram a Estapar Estacionamentos (registrada como Allpark), que decidiu desafiar o mercado e fazer seu IPO nesta sexta-feira (15), e a Riva Empreendimentos Imobiliários, que está em fase inicial do processo e não sinalizou interrupção.

O valor total da oferta pública inicial da Estapar será de R$ 336 milhões e o preço estimado por ação deve ficar entre R$10 e R$13, sob o código ALPK3. O dinheiro captado será usado para financiar parte dos investimentos na concessão de 15 anos da Zona Azul, cartão de estacionamento rotativo da cidade de São Paulo.

Façam suas apostas

O consenso do mercado financeiro é que fazer um IPO no meio de uma crise sem previsão de fim é uma aposta arriscada. De acordo com Henrique Castro, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a alta volatilidade do mercado pode prejudicar a oferta. “A companhia que fizer IPO corre um risco grande de ter seus papéis precificados abaixo do esperado”, explicou.

Contudo, a queda brusca na taxa de juros no Brasil – que afetou a rentabilidade de alguns produtos de renda fixa – pode ter aberto uma oportunidade para IPOs, mesmo no ambiente de crise. “O País experimenta um sentimento misto. Ao mesmo tempo em que o mercado está volátil, muitos investidores têm procurado a renda variável para potencializar os ganhos”, disse. “Pode ser que dê certo.”

Essa também é a opinião do economista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus. “O mais prudente é adiar, como as outras 16 companhias fizeram”, disse. “Por outro lado, a Estapar e a Riva podem tirar vantagem dessa ‘falta de concorrentes’ nos IPOs.”

Para o investidor, é um bom negócio?

A terça-feira (12) cravou o último dia para o investidor pessoa física reservar ações da Estapar. Para Laatus, a companhia de estacionamentos é uma empresa forte, mas a conjuntura econômica que está se desenhando com a crise não favorece a compra.

“Estamos em uma mudança de cenário no qual o trabalho remoto veio para ficar. Isso impacta diretamente o mercado de estacionamentos”, afirma. “Não é aconselhável, no momento, atuar em uma empresa que sofre diretamente com a pandemia.”

Veja a lista completa das empresas que interromperam o processo de IPO:

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