Companhia frigorífica pretende transferir listagem principal de ações para a NYSE, mantendo somente BDRs na B3. (Foto: Divulgação / JBS)
As ações da JBS(JBSS3) saltaram mais de 13% nesta terça-feira (18), um dia após a companhia divulgar que a BNDESPar, braço de investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), decidiu se abster de votar sobre a proposta de dupla listagem de ações da companhia nos Estados Unidos e no Brasil.
O acordo prevê ainda que o BNDESPar receba R$ 500 milhões caso a listagem da empresa nos EUA aconteça e a valorização da ação não atinja um determinado nível (não revelado pela empresa).
Para os analistas do mercado financeiro, o acordo é positivo, pois aumenta as chances da dupla listagem ser concretizada, visto que o BNDES era o único acionista com poder de vetar a listagem. Desse modo, o investidor pessoa física minoritário deve estar se pergumtando o que pode acontecer com ele nesse processo.
Para entender esse ponto, os analistas do Santander explicam que o investidor deve se lembrar dos planos da empresa. Em 2023, a JBS propôs uma estrutura de ações de classe dupla, com ações Classe A, listadas na NYSE, e tendo 1 voto cada. Já as ações Classe B seriam Brazilian Depositary Receipt (BDRs), títulos emitidos no Brasil que representam uma ação de companhia aberta sediada no exterior) na B3, a Bolsa de Valores brasileira. Essa segunda modalidade teria 10 votos por ação.
Os analistas comentam que, inicialmente, os acionistas controladores da JBS deteriam 45% de suas ações na Classe A e 55% na Classe B, aumentando seu poder de voto de 48% para 85%. “A listagem nos EUA exige a aceitação da estrutura de classe de ações duplas descrita acima, e permitiria que a JBS levantasse capital adicional com diluição mínima da participação dos acionistas controladores. Se os acionistas controladores convertessem todas as suas ações para Classe B, a empresa poderia teoricamente levantar US$ 59 bilhões em novo patrimônio por meio da venda de ações Classe A, o que é 4,6 vezes o valor de mercado atual”, dizem Guilherme Palhares e Laura Hirata, que assinam o relatório do Santander.
Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital, diz que a listagem da JBS deve trazer mais capital para a empresa, justamente devido aos fatores explicados acima. Ele comenta ainda que, com a nova listagem, a empresa deve ter dinheiro para retomar as aquisições sem elevar o endividamento, e isso faz a listagem ser vista como positiva pelo mercado.
A equipe da Genial Investimentos lembra que o investidor pessoa física não deve pagar pelo acordo. Segundo a análise, o valor seria pago integralmente pela J&F Investimentos, empresa controladora da JBS que pertence aos irmãos Batistas. Portanto, não sairia do fluxo de caixa da JBS, para não exercer penalização aos acionistas minoritários, conforme a equipe da Genial.
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Pela tese dos analistas do BTG Pactual, o investidor deve reduzir a ansiedade sobre o processo. Nenhum cronograma foi divulgado para a listagem, pois a aprovação da SEC, o órgão americano equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) brasileira, ainda é necessária. “No entanto, o acordo da J&F com o BNDES sugere uma confiança crescente de que a tão esperada listagem está finalmente se aproximando da linha de chegada. Há a expectativa de que a JBS se liste na NYSE até agosto”, dizem Thiago Duarte, Guilherme Guttilla e Gustavo Fabris, que assinam o relatório do BTG.
Listagem da JBS nos EUA não está 100% garantida
Embora todo o mercado esteja empolgado, a XP Investimentos diz que o ideal é ter cautela. Em relatório, a casa comenta que o anúncio é positivo, pois remove um possível obstáculo para a aprovação da listagem dual da JBS, considerando especialmente a tese de que a governança da BNDESPar poderia restringi-la de manter grandes participações em empresas com sede fora do Brasil.
“Observamos que a duração do acordo parece longa, o que poderia levantar preocupações de que a JBS não está otimista sobre a execução da listagem dual em um futuro próximo. No entanto, como as ações da JBS atualmente não precificam a potencial listagem dual, não esperamos que a especulação sobre um cronograma atrasado seja um catalisador negativo para os papéis da empresa”, dizem Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak, que assinam o relatório da XP.
Em linhas gerais, a listagem da JBSS3 tende a ser positiva para o investidor, visto que ela trará mais dinheiro para a companhia fazer novos investimentos, mas sem causar diluição no acionista minoritário. A ação teria mais liquidez com o mercado americano, ou seja, seria mais fácil para comprar ou vender o papel. A questão é somente o prazo, que ainda é incerto, com alguns analistas precificando que a listagem deve ocorrer rapidamente e outros dizendo que pode demorar mais que o esperado. Por isso, os especialistas recomendam compra para as ações JBS.
O Santander recomenda compra com preço-alvo de R$ 53,00 para o fim de 2025, alta de 61,8% na comparação com o fechamento de segunda-feira (17), quando a ação encerrou o pregão a R$ 32,75. A XP tem recomendação de compra com preço-alvo de R$ 53,40 para o fim de 2025, uma alta de 63,05% na comparação com o fechamento de segunda-feira (17), quando a ação encerrou o pregão a R$ 32,75. O BTG também recomenda compra, mas não revela seu preço-alvo no relatório. Já a Genial tem recomendação de compra para a JBS (JBSS3) com preço-alvo de R$ 42,50, uma alta de 29,77%.