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Brasil sai da Super-Quarta com risco de perder investidores; entenda

Distância entre juros do País e dos EUA chegou ao menor nível desde a pandemia e deve continuar diminuindo

Brasil sai da Super-Quarta com risco de perder investidores; entenda
Para analistas, enquanto diferencial de juros entre Brasil e EUA continuar caindo, faltarão compradores para destravar uma alta na Bolsa. (Imagem: Minerva Studio em Adobe Stock)
  • A diferença entre os juros nos EUA e no Brasil está no menor patamar desde 2020, ano que deu início à pandemia de Covid-19
  • De acordo com levantamento feito pela Economatica, a distância entre a taxa Selic e a taxa dos Fed Funds americanos está em 5.9 pontos percentuais - e a tendência é de que essa distância continue diminuindo
  • Um “spread” menor entre o juro brasileiro e o juro americano significa uma diminuição da atratividade do mercado doméstico aos olhos do investidor estrangeiro

A diferença entre os juros nos EUA e no Brasil está no menor patamar desde 2020, ano que deu início à pandemia de Covid-19. De acordo com levantamento feito pela Economatica, a distância entre a taxa Selic e a taxa dos fundos federais americanos está em 5,9 pontos percentuais — e a tendência é de que esse espaço continue diminuindo, pelo menos neste primeiro semestre do ano.

Isto porque o Banco Central cortou a Selic em 0,5 ponto porcentual na reunião realizada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira (20) e deve promover novos cortes nos encontros subsequentes – confira o impacto nos investimentos. Segundo as estimativas expressas no último Boletim Focus, até dezembro a taxa de juro brasileira deve estar próxima a 9% ao ano.

O Federal Reserve (Fed, o banco central americano), por outro lado, manteve a taxa dos Fed Funds entre 5,25% e 5,50% ao ano na reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), que também ocorreu na última quarta. A decisão foi unânime. Com isso, a taxa de juros permanece no mesmo patamar desde julho de 2023.

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Quebra de expectativa no mercado

O grande ponto de dúvida fica sobre quando ocorrerá início do ciclo de cortes de juros nos EUA. Em coletiva, Jerome Powell, presidente do Fed, sinalizou que ainda vê incertezas no caminho da política monetária e que as decisões de juros serão ponderadas reunião a reunião. Para ele, apesar da desaceleração nos últimos meses, a inflação no país continua muito elevada. "O caminho a seguir é incerto", disse Powell – confira aqui a repercussão dos recados do Fed.

Essa visão mais cautelosa do Fed gerou uma quebra de expectativas no mercado brasileiro. “Antes, a visão era de que o Fed faria seis reduções durante o ano de 2024. Hoje, já está se falando em três, então já diminuiu em pelo menos 50% a estimativa de redução dos juros dos EUA”, afirma Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital.

Um “spread” menor entre o juro brasileiro e o juro americano significa uma diminuição da atratividade do mercado doméstico aos olhos do investidor estrangeiro. Os títulos públicos dos EUA são considerados os mais seguros do mundo, por exemplo, e com esses ativos com rendimentos cada vez mais próximos aos títulos do Brasil, a tendência é de que o estrangeiro faça uma migração de capital. Ou seja, retire dólares da B3 e do Tesouro Nacional e redirecione esses valores para a economia americana.

A diminuição do diferencial de juros é um dos motivos por trás do fraco fluxo de investimento estrangeiro na Bolsa brasileira em 2024. Até 15 de março, dado mais recente, essa movimentação estava negativa em R$ 20,2 bilhões. “Mesmo que o Brasil, perto dos seus pares, como Turquia, México e África, seja um país mais propício para receber capital, essa queda de juros faz com que os grandes investidores prefiram manter os recursos nos Estados Unidos”, afirma Richetti.

Faltam compradores na Bolsa

Gabriel Meira, especialista da Valor Investimentos, vê a Bolsa brasileira bastante descontada. Além disso, a medida que o BC promova novos cortes na Selic, a tendência é de que a renda variável ganhe ainda mais atratividade.

Entretanto, enquanto o diferencial de juros entre Brasil e EUA continuar diminuindo, faltarão compradores para destravar uma alta no mercado acionário. Por consequência, o Ibov deve seguir lateralizado – até o fechamento da última quarta-feira (20), o principal índice de ações da B3 acumulava uma desvalorização de 3,77% em 2024, aos 129,1 mil pontos.

“O mercado já fala que a Bolsa está barata, mas falta fluxo”, afirma Meira. “A partir do momento que esses fluxos começaram a voltar para a Bolsa, teremos alguns setores beneficiados. Principalmente setores que têm um custo de capital mais elevado, como construção civil.”

Essa também é a visão de Richetti, da GT Capital. Ele reforça que, quando no ano passado o mercado apontava uma valorização forte do Ibovespa com a queda da Selic, a redução do juro americano pelo Fed também estava nas contas. Contudo, diferentemente do que era previsto anteriormente, o banco central dos EUA ainda não iniciou o aperto monetário.

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“Só o mercado interno brasileiro não tem uma força tão relevante para fazer uma movimentação grande (de recuperação)”, afirma Richetti. Hoje, os investidores estrangeiros representam 55,2% do total do volume financeiro transacionado na B3.

Alívio para as contas das empresas

Apesar de faltar fluxo para sustentar uma alta do Ibovespa, a redução da Selic certamente proverá um alívio para as empresas na questão de custos com pagamentos de juros de dívidas e obtenção de crédito. “Devemos ver os setores mais dependentes de crédito, empresas alavancadas e segmentos cíclicos no geral se beneficiando”, diz João Vitor Freitas, analista da Toro Investimentos.

No mercado, o consenso é de que os cortes de juros nos EUA comecem a ocorrer a partir de junho. Leia mais sobre as perspectivas para as taxas norte-americanas nesta reportagem.

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