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Lula: como o mercado viu a entrevista ao Jornal Nacional

E-Investidor conversou com analistas para entender o impacto das falas do candidato do PT durante a sabatina

Lula: como o mercado viu a entrevista ao Jornal Nacional
Lula em entrevista ao Jornal Nacional. Foto: Globo
  • O ex-presidente Lula foi sabatinado nesta quinta-feira (25) no Jornal Nacional
  • Para analistas, Lula falou muito sobre o passado, mas não explicou seus planos para a economia
  • A candidata Simone Tebet (MDB) encerra o ciclo de entrevistas do Jornal Nacional

Por Jenne Andrade e Renato Vieira O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à Presidência, foi sabatinado nesta quinta-feira (25) no Jornal Nacional. Em entrevista aos jornalistas Willian Bonner e Renata Vasconcellos, ele foi questionado sobre casos de corrupção durante os governos petistas, polarização política e relações com o Congresso. O candidato do PT também não perdeu a oportunidade de criticar o atual presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL).

Lula citou números positivos da economia nacional durante os seus dois mandatos consecutivos (2003 – 2010) e falou em “credibilidade, estabilidade e previsibilidade”. No entanto, para os analistas ouvidos pelo E-Investidor, o ex-presidente falou muito sobre o passado, mas não explicou o que de fato pretende fazer para que a atividade econômica seja impulsionada e como controlará a inflação, caso eleito.

“Lula quer, segundo ele, voltar para melhorar e pacificar o País. Contudo, não explicou como vai desarmar no seu governo, caso eleito, a bomba fiscal que está montada”, afirma Álvaro Bandeira, economista e consultor financeiro.

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Mario Goulart, analista de investimentos, segue a mesma linha de pensamento. “Ele sempre diz que vai repetir o que fez nos dois primeiros mandatos, mas será que as circunstâncias vão permitir?”.

Nesta sexta-feira (26), a candidata Simone Tebet (MDB) encerra o ciclo de sabatinas do Jornal Nacional. Veja também a repercussão com analistas de mercado sobre as entrevistas ao JN dos candidatos Jair Bolsonaro e Ciro Gomes (PDT).

Leia a opinião dos analistas.

Álvaro Bandeira, economista e consultor financeiro

“Ele foi bem, mas falou muito do passado: tem um primeiro mandato que foi bastante positivo, pegou uma economia sem crédito internacional e conseguiu fazer um bom primeiro governo. O segundo governo a gente não pode elogiar.

Sempre que possível ele cutucou Jair Bolsonaro, principalmente no que diz respeito à interferência na Polícia Federal, no orçamento secreto. Também não explicou o roubo na Petrobras, convenientemente. Confundiu agronegócio como gerador de problemas climáticos e chegou a elogiar a atividade do MST (Movimento Sem Terra) sem entrar no mérito de invasão de terras.

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Lula quer, segundo ele, voltar para melhorar e pacificar o País. Contudo, não explicou como vai desarmar no seu governo, caso eleito, a bomba fiscal que está montada. Disse que a polarização é saudável, contornou problemas da militância, mas sem bater de frente com essa militância.

Resumindo: foi muito bem, assim como Bolsonaro, mas nenhum dos dois falou de futuro. Nenhum dos dois disse para que veio para ser presidente do País.

Ficamos ainda na dependência de ouvir Simone Tebet para saber o que acontece. No final, acho que Lula fala para o povão, não convence bem o empresariado e o mercado de capitais.”

De privatização a reformas, o que prometem Bolsonaro e Lula em seus planos de governo. Veja nesta reportagem.

Juan Espinhel, especialista em investimentos da Ivest Consultoria

“Lula começou falando de inflação na meta: isso é positivo para o mercado, porque a inflação é a grande vilã da economia. Mas não deixou claro como pretende fazer isso. De qualquer forma, isso é uma boa sinalização. Um outro ponto que ele citou é o da credibilidade, isso é válido.

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O mais importante foi a questão de ele ter separado os mandatos dele e os mandatos de Dilma Rousseff: ficou claro que o governo dele não seria igual a um governo Dilma. Isso tende a ser positivo para o mercado.

Em relação ao Congresso, ele sinalizou que pretende abrir diálogo com os deputados, criticou o orçamento secreto, mas não elucidou como vai negociar sem abrir a questão do orçamento. Ele mencionou ‘conversando’, mas também não ficou claro como vai fazer essa interlocução. Ficou óbvio que ele pretende recorrer a Geraldo Alckmin, o candidato a vice, bastante citado na entrevista.

Mas o mercado não vai derreter nesta sexta-feira. Foi um discurso, de maneira geral, que tentou apaziguar um pouco”.

Gustavo Cruz, estrategista da RB investimentos

“Foi uma participação boa. Muitas pessoas devem ter se esquecido que Lula sempre foi uma pessoa muito articulada e consegue falar muito bem com o povo. Ele conseguiu conversar melhor com o eleitor indeciso.  Tropeçou ao mencionar o agronegócio e defendeu alguns aspectos do governo Dilma. Mas não dá para negar: a crise estourou no governo dela.

Nesta sexta-feira (26), teremos o discurso do Jerome Powell, o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano), algo muito esperado. Se ele mandar uma mensagem mais dura (em relação aos juros nos EUA), o mercado pode ter um dia negativo. O que vai ditar o mercado é o discurso do Powell, não a performance do Lula”.

 Mario Goulart, analista de investimentos e criador do canal do YouTube ‘O Analisto’

“Lula não fez nenhuma declaração bombástica, daquelas que acabam gerando muitas críticas. O problema é que ele não explica o que vai fazer como presidente da República. Ele cita o que fez nos dois mandatos como presidente, mas ele pegou a casa arrumadinha com um cenário externo que lhe foi muito favorável.

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Um dos méritos do primeiro mandato de Lula foi não ter feito nenhuma bobagem que passou a vida inteira prometendo que ia fazer, então as coisas deram certo. Ele conseguiu conquistar a simpatia do mercado, contando com a expansão dos negócios da China.

Ele sempre diz que vai repetir o que fez nos dois primeiros mandatos, mas será que as circunstâncias vão permitir? Ele disse, por exemplo, que Geraldo Alckmin (PSB) foi aceito ‘de corpo e alma’ pelo PT, mas isso não é verdade, o pessoal do PT tem evitado reuniões com membros radicais que não aceitam o Alckmin.

Mas em termos de reação do mercado acho que foi tudo bem, não teve nenhuma reação. Mas fica realmente a questão do que ele pretende fazer em relação à política econômica”.

Fabrizio Gueratto, professor de MBA em Finanças, criador do Canal 1Bilhão e colunista do E-Investidor

“Lula mostra que o discurso de seus comícios é diferente do discurso feito no Jornal Nacional: ele sabe que sem estabilidade econômica não há estabilidade politica. Ao admitir o erro da ex-presidente Dilma Rousseff em relação ao preços dos combustíveis, Lula mostra saber que alguns erros causam um estrago enorme da credibilidade do País”.

Vitor Miziara, sócio da Criteria Investimentos e colunista do E-Investidor

“Foi uma entrevista bem superficial. Na parte econômica, eu gostaria de usar aquela frase ‘rentabilidade passada não garante rentabilidade futura’. Estou citando isso porque todas as vezes em que ele foi questionado para trazer planos econômicos e medidas para, por exemplo, controlar o déficit fiscal, Lula se esquivou. Em vez de trazer alguma medida, usou dados do primeiro governo dele. Quis usar a entrevista como um palanque vendendo resultado passado.

Quando questionado em relação aos governos de Dilma Rousseff, ele disse de forma irônica que era para perguntar para ela. Para os mais pessimistas que esperavam algum indicativo negativo, isso não veio, o que não deve causar nenhum estresse que a gente poderia começar a precificar no mercado.

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Em relação ao agronegócio, que carrega a economia do Brasil nas costas, ele diz que o agro é que não gosta dele por causa do meio ambiente. Misturou dois assuntos para fugir de uma questão em relação a uma política monetária visando o setor. Gostaria de ter escutado algum plano econômico, mas não veio. Só vendeu resultado passado.”

Pedro Paulo Silveira, diretor de gestão de investimentos da Nova Futura Investimentos

“A entrevista de Lula tem repercussão limitada porque o mercado tem a expectativa de reversão rápida das pesquisas e isso não mudou desde ontem. A entrevista recolocou os pontos principais que tornam Lula um candidato mais nocivo ao programa liberal, desejado pelo mercado. Os aspectos econômicos não introduziram novidade, nem clareza do que será um governo Lula.”

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