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Por que Tesouro interrompeu operações após decisão sobre Lula?

Na segunda-feira (8), as negociações do Tesouro Direto foram suspensas por volta das 16h

Por que Tesouro interrompeu operações após decisão sobre Lula?
Edifício sede do Banco Central, em Brasília. (Foto: André Dusek/Estadão)
  • As negociações do Tesouro Direto foram interrompidas após o ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, anular as condenações do ex-presidente Lula relacionadas à Lava Jato
  • Em março de 2020, as negociações também foram suspensas por conta da volatilidade
  • Segundo os especialistas, as interrupções são um instrumento do Tesouro Direto para não impactar os investidores

Na segunda-feira (8), por volta das 16h, as negociações do Tesouro Direto foram suspensas durante uma hora, logo após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, anular as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva relacionadas à Lava Jato. Cabe recurso à decisão.

A determinação de Fachin permite, ao menos por enquanto, que Lula seja candidato para o pleito de 2022. A notícia caiu como uma bomba no mercado: o dólar encostou nos R$ 5,80 depois de saltar 2,08% no dia. A bolsa chegou a desvalorizar 3,98% no pregão, encerrando a sessão com 110.611,58 pontos. Com isso, as taxas do Tesouro Direto também foram afetadas e, consequentemente, as negociações de títulos prefixados e atrelados à inflação foram suspensas.

As negociações foram retomadas após uma hora, às 17h15. Os títulos mais impactados pela volatilidade foram os prefixados, em especial o papel com vencimento para 2024, que aumentou de 7,20% para 7,37%. Já o com prazo para 2026 foi de 7,74% para 7,93% e o Tesouro Prefixado com juros semestrais até 2031 subiu de 8,28% para 8,47% ao ano. Vale lembrar que esse último título remunera o investidor a cada seis meses.

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Mesmo com a volatilidade, alguns títulos não podem ter as negociações suspensas. É o caso do Tesouro Selic. Isso porque estes ativos são utilizados como reserva de emergência e devem estar disponíveis a todo momento para o investidor, de acordo com as regras do Tesouro Direto, que foram alteradas em 2020.

Mas, afinal, para que serve esse dispositivo que interrompe as negociações do Tesouro Direto? E quais os impactos para os investidores? O E-Investidor conversou com especialistas para descobrir. Confira.

Circuit Breaker do Tesouro Direto?

Esta não é a primeira vez que algo do tipo acontece. Em março de 2020, no auge da crise provocada pela pandemia da covid-19, o Tesouro Direto também suspendeu as negociações na ocasião.

Segundo Felipe Cunha, Gestor de Recursos da Órama, a interrupção das negociações é, de certa forma, um circuit breaker, mecanismo de segurança da bolsa de valores que interrompe as negociações em momentos de grande estresse no mercado. “Mas é muito mais recorrente do que quando vemos o acontecimento na bolsa. É um mecanismo de negociação normal, no qual o Tesouro suspende as negociações com dois objetivos: proteger suas próprias emissões e proteger também os investidores”, diz.

Essa suspensão acontece justamente para que nenhum investidor, nem o governo na ponta vendedora, muito menos os investidores na parte compradora, comprem ou vendam no pior preço, algo que seria completamente disfuncional em termos de mercado.

“Em meados de 2015, as negociações do Tesouro foram interrompidas cerca 88 vezes por causa dos juros. Então, é uma coisa que acontecia muito mais quando tínhamos o juros mais alto no país. Agora o que observamos foi mais um movimento pontual”, diz Alexandre Marques, gerente de produtos Renda Fixa, da Ágora Investimentos.

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Os especialistas explicam que as interrupções afetam os investidores da seguinte forma: primeiro, as negociações na plataforma do Tesouro Direto ficam suspensas, por isso, durante a interrupção das negociações, não é possível ter liquidez para os títulos. O segundo impacto ocorre porque a paralisação segura um pouco o preço do papel “e aguarda uma estagnada no negócio para não conturbar muito o mercado”.

“Para os clientes que estão entrando no Tesouro naquele momento, quando ele para e volta, acontece a correção da taxa. Percebemos que, quando isso aconteceu, a taxa já veio mais alta, então o cliente que entrou naquele momento conseguiu uma taxa melhor”, conclui Marques.

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