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Mendonça de Barros: ‘Nunca vi uma crise de dimensão global como essa’

Ex-presidente do BNDES lista etapas a serem cumpridas pelo governo

Mendonça de Barros: ‘Nunca vi uma crise de dimensão global como essa’
Segundo Mendonça de Barros, o governo deve se preocupar em resolver um problema de cada vez (Foto: Evelson de Freitas/Estadão)
  • Crise atual é mais complexa do que a de 2008, tanto na origem como em sua evolução, afirma ex-presidente do BNDES
  • Para Mendonça de Barros, governo deve se preocupar em resolver um problema de cada vez
  • Sustentação da economia, volta da circulação e reequilíbrio fiscal: esta deve ser a ordem de prioridades do País no momento, segundo o economista

“A crise atual é muito mais complexa do que a de 2008″. Essa é a opinião do economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES e do Banco Central. Em entrevista exclusiva ao E-Investidor, ele dá a sua visão sobre a pandemia do coronavírus e destaca quatro preocupações sobre os seus efeitos para o País. Atualmente, Barros é presidente do conselho da Foton, importadora responsável pelas vendas da marca chinesa de caminhões no Brasil.

Diferentemente do colapso de 2008, provocado por uma bolha imobiliária que derreteu as bolsas globais, a crise de 2020 não teve origem no mercado financeiro e também não depende dele para contornar a situação. Ela foi gestada por um problema de saúde pública ao redor do mundo que causou sérios danos para a economia real, já que retém milhões de pessoas em casa.

“Por conta do confinamento, as empresas não conseguem manter as atividades de forma normal, os trabalhadores têm suas rendas impactadas e isso pressiona a economia”, afirma. “Eu nunca vi uma crise de dimensão global como essa.”

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Estancar apenas a sangria no sistema financeiro, portanto, não é a chave para resolver todos os efeitos da pandemia.

Um problema de cada vez

Para o ex-presidente do BNDES, a melhor estratégia é resolver um problema por vez: primeiro, o financeiro e a economia. Na sequência, a retomada da circulação das pessoas e, por fim, a recuperação do equilíbrio fiscal.

“Hoje a luta é pela sobrevivência das pessoas e das empresas”, diz. “Não é momento para pensar na dívida interna. Esse problema tem que ser discutido lá na frente.”

Por ora, a primeira etapa parece estar sob controle. Ele defende que o conjunto de medidas de injeção de liquidez e capital realizado pelo Banco Central foi necessário para dar uma estabilidade inicial no mercado.“O que tem de positivo nessa crise é que a lembrança de 2008 ainda é muito presente. As ações do BC foram muito rápidas e abrangentes.”

Em tempo: na crise de 2008, o BC injetou R$ 117 bilhões no sistema financeiro para ajudar na liquidez dos bancos. Desta vez, no entanto, o governo liberou mais de R$ 1,2 trilhão para a economia, o equivalente a 16,7% do PIB nacional.

Esperar os resultados das medidas

A segunda preocupação é aguardar os resultados das medidas já implementadas. O economista acredita que, se a equação para controlar a pandemia for efetiva, o País deve começar a dar sinais de recuperação após 90 dias. “Em um cenário mais otimista, o PIB volta a ser igual era antes da crise no meio do ano que vem .”

Até lá, é necessário colocar renda na sociedade para a economia não quebrar. “O único que pode ajudar a resolver a queda na renda durante esses dois ou três meses é o governo federal”, diz. É esperar para ver.

De volta à normalidade

Outro motivo de alerta destacado por Mendonça de Barros é se a pandemia pode voltar ou não no futuro. Alguns países, como a Alemanha, por exemplo, já preparam uma flexibilização da quarentena. A chanceler Angela Merkel decidiu relaxar algumas restrições, abrindo novamente as escolas a partir do dia 4 de maio e permitindo que lojas de até 800 metros quadrados retomem suas atividades.

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O problema, no entanto, é que ninguém tem certeza se a pandemia pode voltar mesmo depois do pico da doença. “O que nós sabemos hoje é que curva no número de casos diminui com o isolamento, mas ninguém sabe se a doença pode voltar a se espalhar quando as pessoas retornarem às ruas”, afirma.

Desse modo, Barros, que também foi ministro das comunicações durante o governo de Fernando Henrique Cardozo, reforça a necessidade de as discussões serem pautadas em como voltar à normalidade. “Precisamos debater como devemos fazer a liberação das pessoas e de que forma ela será implementada”, diz.

Acerto de contas

O momento pede cautela. Após todas as etapas para sustentar o País durante a crise, haverá a fase de cuidar das contas públicas.

“Chegará o dia de acertar a cobrança da dívida. Nesse momento, todos vão ter que lidar com o problema de como recuperar o equilíbrio fiscal”, diz. “Mas isso só será resolvido quando a economia estiver funcionando normalmente”, lembra o economista.

O caminho ainda é longo, mas o recado está dado: é importante dar um passo de cada vez.

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