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Por que o mercado de ações dos EUA está no nível mais baixo desde 2020

Wall Street se incomoda com as autoridades do Fed em relação ao controle da alta dos preços

Por que o mercado de ações dos EUA está no nível mais baixo desde 2020
O Federal Reserve prometeu voltar a controlar a inflação. Foto: REUTERS/Andrew Kelly. 18/05/2022
  • As más notícias do mercado também podem afetar as campanhas eleitorais deste ano para o Congresso americano
  • O impacto total das ações do Fed desde março talvez não seja percebido até o final deste ano ou início do próximo
  • “Acredito que provavelmente vai piorar antes de melhorar”, disse Dan Ives, diretor-geral e analista sênior de pesquisa de ações da Wedbush Securities

Os mercados de ações caíram até atingir seus níveis mais baixos desde 2020 na sexta-feira (23), continuando uma baixa iniciada em agosto, enquanto os investidores tentam lidar com as adversidades econômicas nos Estados Unidos e em todo o mundo que parecem apenas piorar.

Os índices de ações estavam prestes a encerrar a semana com perdas, a quinta com quedas nas últimas seis semanas. O Dow Jones Industrial Average (DJIA) caiu aproximadamente 600 pontos, ou 1,8%; no início da tarde de sexta-feira, e caiu para abaixo de sua marca de 30 mil pontos. O S&P 500 despencou quase 2%, assim como o Nasdaq Composite.

O Federal Reserve prometeu voltar a controlar a inflação – mesmo que a desaceleração da economia signifique o aumento do desemprego e alguns sofrimentos para as famílias e as empresas. E embora o aumento das taxas de juros pelo Fed esta semana fosse bastante esperado, os mercados de ações já estão sentindo certo desconforto.

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As más notícias do mercado – e a previsão do Fed de uma economia em forte desaceleração – também podem afetar as campanhas eleitorais deste ano para o Congresso americano, onde os republicanos esperam que os eleitores culpem o presidente Biden e os democratas pela inflação alta.

O impacto total das ações do Fed desde março – elevando a taxa de juros para acima de 3 pontos percentuais, com mais aumentos ainda por vir – talvez não seja percebido até o final deste ano ou início do próximo. Mas os mercados financeiros estão acolhendo a promessa do banco central americano e enviando alertas de volta – deixando claro que não importa quantas vezes as autoridades do Fed digam que farão o possível para reprimir a inflação, a ideia ainda incomoda Wall Street.

“Acredito que provavelmente vai piorar antes de melhorar”, disse Dan Ives, diretor-geral e analista sênior de pesquisa de ações da Wedbush Securities.

Analistas dizem que a queda não é apenas consequência dos aumentos das taxas de juros pelo Fed até agora, mas também tem relação com medidas ainda mais restritivas pela frente, e a probabilidade crescente de que o banco central americano não consiga baixar a inflação sem provocar uma recessão.

“Uma desaceleração sem recessão seria muito difícil, e não sabemos – ninguém sabe – se esse processo levará a uma recessão ou, caso ela aconteça, o quanto ela seria grave”, disse o presidente do Fed, Jerome H. Powell, na quarta-feira, após o anúncio da nova taxa de juros.

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O banco central americano está correndo para esfriar a economia e baixar os preços ao consumidor. As autoridades ainda não viram avanços suficientes de suas ações. Mas o nervosismo do mercado reflete uma economia americana e global já em direção a uma desaceleração.

Os preços do petróleo caíram e atingiram as menores marcas desde janeiro. O S&P do setor de energia também caiu mais de 6%.

As ações de grandes empresas de tecnologia, inclusive as da Apple, Amazon, Microsoft e Meta, caíram na sexta-feira. (O presidente da Amazon, Jeff Bezos, é dono do Washington Post.) O Goldman Sachs reduziu sua previsão de fim de ano do S&P 500, motivado em grande parte pelo aumento das taxas de juros. Por outro lado, os rendimentos dos títulos do Tesouro americano subiram após o anúncio da nova taxa do Fed, e as taxas do Tesouro dos EUA com vencimentos em dois e dez anos atingiram máximas não vistas há mais de uma década.

Os principais índices do mercado caíram bastante em 2022 até agora, embora o longo mercado em alta que durou até recentemente signifique que eles ainda estão mais de 30% maiores nos últimos cinco anos.

O encerramento terrível da semana passada acontece após o Fed elevar a taxa de juros mais uma vez em 0,75 ponto percentual, a terceira mudança com esse valor e o quinto aumento da taxa de juros este ano devido ao combate do Fed à inflação. Até bem pouco tempo, o aumento de quarta-feira teria sido considerado inusitadamente grande. Mas as autoridades do Fed querem empurrar as taxas para além da zona “neutra” de cerca de 2,5 %, onde as taxas nem desaceleram, nem aceleram a economia, e levá-la para um “território restritivo” que enfraquece a demanda dos consumidores.

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A referência para a taxa de juros do Fed agora fica entre 3% e 3,25%, e as autoridades esperam que ela ultrapasse os 4% até o final do ano, bem dentro do que é considerado restritivo.

Essa taxa não controla diretamente as taxas das hipotecas e de outros empréstimos. Mas influencia o quanto os bancos e outras instituições financeiras pagam para solicitar empréstimos, o que ajuda a direcionar valores dessas transações de forma mais ampla.

E, mais importante ainda, as próprias informações do Fed – sejam observações de seus funcionários ou projeções econômicas dos formuladores de políticas – são fundamentais para definir as condições financeiras e fazer com que os mercados comecem a precificar com os aumentos de taxas que ainda estão por vir.

Como já é sabido, a política monetária opera com um atraso e as elevações das taxas de juros do Fed até agora não levaram a uma inflação significativamente mais baixa. Porém, as consequências desses aumentos estão aparecendo na economia de outras maneiras.

“As condições financeiras costumam ser afetadas bem antes de anunciarmos de fato as nossas decisões”, disse Powell nesta semana. “Portanto, as mudanças nas condições financeiras vão começar a afetar a atividade econômica com bastante rapidez, dentro de alguns meses. Mas é provável que leve algum tempo para percebermos todos os efeitos do aumento das taxas de juros nas condições financeiras sobre a inflação.”

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Diane Swonk, economista-chefe da KPMG, disse que os traders também estão tensos sobre o quanto as elevações das taxas de juros pelo Fed vão aumentar conforme outros bancos centrais também intensificam seu combate à inflação.

O Fed estava entre uma lista de bancos centrais globais a aumentar suas taxas esta semana – o Bank of England elevou sua taxa em 0,5 ponto percentual na quinta-feira, por exemplo, e alertou que o Reino Unido talvez já esteja em uma recessão. O medo é que as economias de muitos países não sejam capazes de suportar uma desaceleração extrema. Os aumentos das taxas de juros do Fed também significam endividamento maior para os países pobres.

Os economistas e traders temem que, conforme os formuladores de políticas adotam medidas severas ao mesmo tempo, eles corram o risco de exagerar, não apenas no que diz respeito às suas próprias economias, mas para o mundo.

“Síncrono, mas não sincronizado”, disse Swonk em relação às elevações das taxas de juros consecutivas de vários bancos centrais. “Isso não foi planejado.”

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