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- Na manhã desta quarta-feira (10), não só as taxas dos títulos abriram em queda, mas o dólar também cedeu perante o real
- Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, explica que o mercado já digeriu todo o estresse da flexibilização do teto de gastos, o que criou as perspectivas de juros futuros batendo os dois dígitos
- "Sergio Moro, apesar de não ser reconhecido no meio político como um grande orador, fez um discurso alinhado ao mercado", diz analista
As taxas dos títulos públicos abriram em queda nesta quarta-feira (10). O Tesouro Prefixado 2024 está pagando 11,84% ao ano. Na terça-feira (9), data da votação e aprovação em segundo turno da PEC dos precatórios na Câmara, esse papel estava com retorno de 12,01%.
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O mesmo acontece com os prefixados para 2026 e os prefixados para 2031 com juros semestrais, que estão com rentabilidade de 11,53% e 11,26%. Na terça, ofereciam 11,78% e 11,52% de retorno.
Os títulos atrelados à inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), conhecidos como IPCA+, também abriram em baixa. O Tesouro IPCA+ 2026, 2035, 2045 e o IPCA+ 2030 com juros semestrais, estão oferecendo retornos prefixados de 5,16%, ante às rentabilidades na casa dos 5,20% observados no dia anterior.
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A opção entre esses pós-fixados que está com o retorno mais alto é o IPCA+ com juros semestrais 2040, que tem também o prazo mais longo, com taxa prefixada de 5,19%.
É importante ressaltar que a suavização das taxas dos títulos acontece mesmo com a divulgação, feita nesta manhã, de uma inflação mais alta que o esperado para outubro. “O mercado deve azedar por conta de uma notícia ruim que foi o IPCA que saiu e veio acima do consenso. Isso deve pensar no aumento de juros futuros DI. O consenso do mercado era por volta de 1%, e veio 1,25% de alta”, explica João Beck, economista e sócio da BRA.
Solução ‘menos pior’ e discurso de Sergio Moro
Na manhã desta quarta-feira (10), não só as taxas dos títulos abriram em queda, mas o dólar também cedeu perante o real. Até 13h17, a moeda estrangeira estava em baixa de 0,18% e o Ibovespa subia 1,31%, aos 106.896,41 pontos.
Para Leandro Vasconcellos, head da mesa de alocação da BRA, o mercado viu a aprovação da PEC dos precatórios como positiva, isto é, uma solução ‘menos pior’ dentre aquelas levantadas pelo governo.
Furar o teto de gastos deliberadamente, por exemplo, traria consequências bem mais negativas. A manutenção da regra de ouro e a suspensão pelo STF das ‘emendas do relator’ (que fazem parte do chamado ‘orçamento secreto’, cujas finalidades não são discriminadas) também foram surpresas positivas.
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“Um dos fatores que mais gera volatilidade no mercado é a incerteza”, afirma Vasconcellos. “Com a matéria aprovada sem grandes alterações na Câmara e o STF pacificando as possíveis tensões políticas que seriam originadas pelo uso indiscriminado das emendas de relator, as incertezas diminuíram e o mercado passou a sentir mais confortável em precificar os ativos, o que acabou estabilizando os juros futuros”.
Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, explica que o mercado já digeriu todo o estresse da flexibilização do teto de gastos, o que criou as perspectivas de juros futuros batendo os dois dígitos. “Pior que está não fica, aquela velha máxima do Brasil”, afirma o especialista. “Como o estresse máximo foi jogado lá para cima, a tendência agora é aliviar gradualmente o prêmio de risco. Mas é um alívio pontual, que não vai ser mantido até voltarmos à taxa de um dígito em prazo médio.”
Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, afirma que não é possível atribuir o ‘bom humor’ do mercado apenas à aprovação da PEC. Nesta quarta também houve, por exemplo, o discurso do ex-ministro da justiça e ex-juiz do Sergio Moro no ato de filiação ao Podemos. Ele surge como uma terceira via para as eleições presidenciais de 2022.
“O que está acontecendo é que a curva vem caindo pelos vértices de 2025 até 2033. Isso é positivo para a bolsa. Por isso, a Bolsa sobe no momento. O mercado entende que o pico do problema será 2022 e 2023, em que a preocupação será segurar a inflação e posteriormente a inflação deve convergir para o centro da meta”, explica Costa.
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Essa também é a visão de Vasconcellos. “Sergio Moro, apesar de não ser reconhecido no meio político como um grande orador, fez um discurso alinhado ao mercado, defendendo o controle dos gastos públicos o combate a corrupção e se vendendo como uma alternativa capaz de pacificar o país, reduzindo assim as incertezas e consequentemente a volatilidade.”