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O que deu para descobrir de Jackson Hole? Veja as dicas de analistas

O mercado se assustou com declarações do presidente do Fed sobre política monetária

O que deu para descobrir de Jackson Hole? Veja as dicas de analistas
Jerome Powell, presidente do Fed. Foto: Nate Palmer/The New York Times
  • Especialistas ouvidos pelo E-Investidor afirmam que o Brasil segue na contramão do cenário internacional, com o real em valorização frente ao dólar. Porém, eles recomendam cautela na hora de montar a carteira.
  • O CEO da iHUB Investimentos, Paulo Cunha, afirmou que o Brasil está em uma situação mais favorável em relação a outros países, com a expectativa de queda na taxa de juros, que alcançaram o teto de 13,75%.
  • Na avaliação de Marcelo Cabral, da Stratton Capital, os Estados Unidos, Europa, Japão e a China estão em recessão e, diante de um quadro esperado de desempenho fraco das empresas e de ações caras, ele recomenda evitar o setor de tecnologia e de consumo discricionário e montar carteira defensiva.

Abel Serafim, especial para o E-Investidor – O mercado se frustrou após o anúncio feito pelo presidente do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano), Jerome Powell, de agir a todo custo para controlar a inflação dos Estados Unidos. E a reação veio no mesmo dia do discurso no Simpósio de Jackson Hole: as bolsas norte-americanas fecharam em queda naquela mesma sexta-feira (26) . Além disso, em reação ao temor, o desempenho negativo continuou a se repetir nos primeiros dias desta semana.

Em sua 45º edição, o Simpósio de Jackson Hole ocorreu na cidade homônima, em Wyoming, nos EUA, entre 25 e 27 de agosto. Este ano o evento, que reúne economistas e representantes de diversos países para discutir os rumos da política monetária mundial, voltou a ser realizado de modo presencial. O discurso de Powell era muito aguardado pelo mercado pelo peso norte-americano na economia global.

E no Brasil, como esse cenário sugerido por Powell vai afetar os investimentos?

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Especialistas afirmam que a elevada taxa de juros no Brasil funciona hoje como uma capa de proteção à guinada austera da política monetária dos Estados Unidos e, até o momento, o País se descola do cenário de aperto, com o real se valorizando frente ao dólar. Mas eles não descartam que a moeda brasileira, em algum momento da crise, passe pelo processo inverso: o da desvalorização. Por isso, na decisão de investir, vale recorrer àquele bordão: muita calma nessa hora.

A trajetória de aumento da Selic (taxa básica de juros) pelo Banco Central do Brasil e a diferença do juro brasileiro em comparação a outros países são apontados como fatores para a valorização do real. “A vantagem competitiva do Brasil é que o País fez um aumento de juros antes dos Estados Unidos. O diferencial de juros do Brasil para os Estados Unidos ainda continua bastante elevado”, afirma Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos.

O diferencial de juros impulsiona as empresas a aplicarem o dinheiro que estava no exterior no Brasil pela possibilidade de aumentar os ganhos, acrescenta Costa. De acordo com ele,  o movimento traz rendimentos entre 5 e 6% ao ano com apenas aplicação do dinheiro. “Os juros no Brasil estão mais altos do que os internacionais e as empresas exportadoras estão mais expostas ao dólar. Então, para elas, é bom trazer o dinheiro para cá”, explica.

O gestor de investimentos da Stratton Capital, Marcelo Cabral, classifica o Brasil como uma exceção, com a valorização do real na contramão de uma perspectiva de depreciação das principais moedas do mundo frente ao dólar. No entanto, ele pondera que o aperto monetário internacional “forte e prolongado” é negativo para os investidores, porque indica menor liquidez internacional.

Cabral acrescenta que a moeda brasileira está ligada ao ciclo das commodities. Em outras palavras,  se o preço das commodities aumenta, o real surfa na onda e se valoriza. “Principalmente até março, nós tivemos um forte ciclo de de subida das commodities e isso valorizou muito o real.” Mas, com o mundo batendo à porta da recessão, o efeito desse crescimento começa a se dissipar, pondera o gestor.

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O CEO da iHUB Investimentos, Paulo Cunha, afirma que o Brasil está em uma situação mais favorável em relação a outros países, com a expectativa de queda na taxa de juros que alcançaram o teto de 13,75%. “Talvez até por isso estejamos vendo muito fluxo externo vindo para o Brasil. O País está num momento interessante, o dólar tem caído, o real tem se valorizado frente a vários pares de moedas emergentes. Isso está indo na contramão do macro”, diz.

Mas tem um ponto a ser observado em meio ao otimismo. Se as taxas de juros nos EUA subirem em um ritmo mais acelerado do que as do Brasil, o dólar se fortalece e o País deixa de ser atrativo para a entrada de novos investimentos. O cenário acrescenta um ponto de dificuldade para o Banco Central. “O Brasil vai ter dificuldade de baixar os juros se a perspectiva dos Estados Unidos é de subir os juros”, avalia Jansen Costa.

De acordo com Cabral, convém aos investidores conter o otimismo. “Tem um ditado antigo que diz ‘não brigue com o Fed’, ou seja, não vá contra o que o Fed está indicando. O Fed estava indicando um aperto monetário e, a partir da metade de junho, o mercado começou a precificar o corte de taxas no início do ano que vem. Essa era uma premissa extremamente otimista, que se provou equivocada”, ilustra.

O estrategista-chefe da Avenue Securities, William Castro Alves, afirma que os ativos de risco são afetados em nível global pela política monetária restritiva anunciada pelo presidente do Fed. “Então, se por um lado, elevou a aversão ao risco e isso é ruim para o Brasil, por outro dá oportunidade para o País se destacar no cenário internacional se crescer (no período)”, acrescenta.

O que fazer?

Para a estrategista de Ações da XP, Jenne Li, o cenário macroeconômico nos Estados Unidos ainda “é bastante complexo” com a inflação acima da meta de 2%. Ela recomenda um posicionamento defensivo quando o assunto são as ações norte-americanas. Segundo a estrategista, é preciso focar no poder de precificação das empresas “que devem navegar melhor o cenário de preços mais altos”,  setores menos vulneráveis ao cenário econômico e, claro, “que pagam bons dividendos”.

Na avaliação de Cabral, da Stratton Capital, Estados Unidos, Europa, Japão e China estão em recessão e, diante de um quadro esperado de desempenho fraco das empresas e de ações caras, ele indica  montar carteira defensiva e evitar o setor de tecnologia e de consumo não essencial (como viagens e eletrodomésticos).

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“Nós vamos entrar num período de mercado de aversão ao risco e as carteiras mais conservadoras deverão ter um desempenho melhor do que carteiras mais agressivas. Não é um momento de ser arrojado, de tomar muito risco”, orienta.

Outra dica consiste em apostar nos títulos prefixados e pós-fixados, mas o investidor precisa avaliar as circunstância para aplicar. Em um período de corte de juros, Costa, da Fatorial Investimentos, indica investir em títulos prefixados que têm rentabilidade futura determinada na hora da compra. No entanto, ele diz que esse investimento se mostra arriscado porque a inflação ou a taxa de juros podem crescer acima da taxa do título prefixado. Por isso, este investimento deve ser realizado no curto prazo – de um ano, sugere.

Já os pós-fixados estão suscetíveis à atualização pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ou a Selic. Em momentos nebulosos, como este,  Jansen recomenda diversificar a carteira entre títulos prefixados e pós-fixados. “Se a gente estivesse em um cenário no qual os Estados Unidos estivessem sem subir juros e a gente (Brasil) começasse a ter sinais de corte de juros, eu recomendaria a compra do prefixado. Mas agora nós não temos essa clareza”, diz.

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