- Mesmo com perfil mais conservador do Congresso, analistas não veem a possibilidade de que a atual situação de Bolsonaro influencie a votação do novo arcabouço fiscal
A Polícia Federal (PF) investiga uma suposta adulteração nos cartões de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Na manhã dessa quarta-feira (3), a PF fez buscas na casa do ex-chefe do Executivo, que perdeu a reeleição em 2022. Chamada de Venire, a operação também resultou na prisão do tenente coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
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A operação ocorre um dia após o adiamento da votação da PL das Fake News, encampada pela base governista, e menos de um mês depois do envio do novo arcabouço fiscal, proposto pelo governo Federal, ser enviado ao congresso.
Especialistas ouvidos pelo E-Investidor avaliam que o risco de a operação contaminar o mercado não são altas. Mesmo com perfil mais conservador do Congresso, analistas não veem a possibilidade de que a atual situação de Bolsonaro influencie a votação do novo arcabouço fiscal, por exemplo.
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Veja opiniões a seguir.
- Entenda operação que tem Bolsonaro como investigado.
Mário Sérgio Lima, analista sênior de política e macroeconomia da Medley Advisors
Deve dar alguma alguma briga, mas vai depender muito de como o governo vai conseguir se organizar (no Congresso), porque eu acho que a agenda atual depende muito da organização própria do governo, da própria base.
A partir do momento que o governo consegue se organizar e azeitar essa base, é possível passar projetos. Então, as investigações contra o Bolsonaro podem inclusive ter um fator de apoio do governo, por enfraquecer a oposição. Mas aí depende do governo organizado. Até o momento, não temos visto isso.
Gustavo Cruz, Estrategista Chefe da RB Investimentos
Vejo que o mercado não está muito atento a esse ponto especificamente. A questão eleitoral deu uma diminuída agora. O que tem pesado na política aqui no mercado é a demora para se aprovar os projetos do fiscal, a parte tributária nem sequer foi enviada. Isso realmente está na pauta, mas essa investigação não.
Mario Goulart, analista CNPI
A bolsa hoje está caindo 0,15%. É muito pouco. Ela está praticamente estável, depois de um dia paulada que foi ontem. Está caindo pouco. Então eu não vejo um grande impacto de mercado, sinceramente. Acho que o mercado não está nem aí para Bolsonaro. Quem está preocupado com Bolsonaro são os fãs dele.
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed
Sinceramente não acho que faça preço algum. Essa operação tem um viés muito mais ideológico que político. O Congresso não quer saber do Bolsonaro. Zero impacto político e econômico. Muito mais importante do que isso é a questão fiscal.
Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos
Esse cenário pode frustrar a estratégia do ex-presidente de retornar às suas ações políticas no país. Cada vez mais a sua imagem vem se deteriorando diante de todos. Acho que isso abre espaço para um novo nome de direita, como o Tarcísio, atual governador de São Paulo e o Zema, de Minas Gerais.
Me parece que todo esse cenário prejudica a imagem do Jair Bolsonaro para a próxima eleição. A gente não vê aqui nenhum impacto na ala conservadora do congresso e nenhum enfraquecimento da direita.
Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos
Tudo continua igual. Me parece mais uma uma rixa, alguma coisa nesse sentido. Não acho que vá afetar a política que está sendo regida atualmente. Se o Bolsonaro fosse preso, não impactaria em nada, porque não é o governo dele que está regendo o país. Ele perdeu muita influência.
Agora, se fosse o Lula, aí sim, seria um problema. Não estou querendo falar quem é melhor ou pior. É a questão de que, na hora que acontece algo com o Lula, você quebra com o que está definido no País.
A operação Venire
A Polícia Federal cumpriu 16 mandados de busca e apreensão e seis mandados de prisão preventiva, em Brasília e no Rio de Janeiro. Na capital federal, o celular de Bolsonaro foi apreendido durante a busca em sua residência.
Segundo a PF, a operação investiga os crimes de inserção de dados falsos de vacinação contra a covid-19 no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) e na Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) do Ministério da Saúde.
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“As inserções falsas, que ocorreram entre novembro de 2021 e dezembro de 2022, tiveram como consequência a alteração da verdade sobre fato juridicamente relevante, qual seja, a condição de imunizado contra a covid-19 dos beneficiários”, disse a PF em nota.
Na declaração publicada pela imprensa, o órgão aponta que as alterações serviram para que os envolvidos pudessem emitir certificados de vacinação e utilizá-los para burlarem as restrições sanitárias vigentes imposta pelos poderes públicos do Brasil e dos Estados Unidos.
“A apuração indica que o objetivo do grupo seria manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19”, diz o órgão./ COLABORARAM DANIEL ROCHA E JENNE ANDRADE