A busca por redução de perdas ou aumento de ganhos na Bolsa, em 2023, entrou na reta final com o início do quarto trimestre. Além de fatores macroeconômicos externos e internos, como a subida dos juros nos Estados Unidos e as incertezas fiscais no Brasil, a guerra Israel/Hamas também adicionou pitadas imediatas de aversão ao risco nos mercados internacionais, incluindo o brasileiro. Diante desse cenário, ainda dá tempo de obter bons resultados na B3 neste ano? Quais setores têm oportunidades?
Embora as perspectivas tenham piorado para esse período, especialistas ouvidos pelo E-Investidor avaliam que ainda existem boas opções para quem já investe ou vai investir em ações na B3.
O Ibovespa encerrou a semana passada acumulando baixa de 2,93% em outubro, recuando para a faixa dos 113 mil pontos. Leandro Petrokas, diretor de Research e sócio da Quantzed, não tem uma projeção para a pontuação do principal índice da Bolsa brasileira ao final de 2023 devido ao alto nível de incerteza no mercado. A avaliação dele é de que o indicador se consolide entre 100 mil e 120 mil pontos.
“Com a piora do cenário internacional para ativos de risco, com juros em alta nos EUA e na Europa, guerra entre Israel e Hamas, e China desacelerando, estamos com visão entre neutra e levemente pessimista para o quarto trimestre do Ibovespa”, diz Petrokas. “No cenário local, o tom mais duro do Copom (Comitê de Política Monetária) após a última reunião de definição de taxa de juros, somado à piora do cenário fiscal (queda na arrecadação e aumento dos gastos, segundos os últimos dados), corroboram com isso”, acrescenta o sócio da Quantzed.
O colegiado do Banco Central (BC) cortou a Selic em 0,50 ponto porcentual, para 12,75% ao ano, na última reunião do dia 20 de setembro. Até o fim de 2023, o comitê deve se reunir em mais duas ocasiões. Conforme o Boletim Focus da última segunda-feira (16), as expectativas para a taxa básica de juros são de 11,75% ao fim de 2023 e de 9,00% ao fim de 2024.
Quando o foco vira a inflação, o boletim trouxe uma projeção melhor para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2023, que passou de 4,86% para 4,75%, exatamente no teto da meta almejada pelo BC para o ano. Para 2024, a projeção continuou em 3,88%.
Impactos externos
Quando assunto são as intempéries internacionais, outro fator que gera impactos para os investimentos no Brasil é o elevado patamar de juros nos Estados Unidos. No dia 20 de setembro, o banco central norte-americano, o Federal Reserve (Fed), manteve os Fed Funds, como são chamadas as taxas básicas de juros no país, na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano. É o nível mais elevado em 22 anos e existe a indicação de mais uma alta, pelo menos, numa das duas próximas reuniões da instituição neste ano.
“O movimento do Fed fez os juros de longo prazo nos EUA, de 10 anos, subirem bastante, de 3,50% para 4,60%. É muito para o país. E também fez os juros de longo prazo no Brasil aumentarem. Esse impacto grande também aconteceu na Europa e em outros países do mundo, porque quem manda no juros global são os EUA”, analisa Flávio Conde, head de Renda Variável da Levante Ideias de Investimento.
Além disso, o mercado doméstico brasileiro também sofreu reflexos da guerra entre Israel e o grupo armado Hamas, na Faixa de Gaza. Além de impactar a cotação do dólar, moeda forte que é buscada como reserva financeira, o conflito bélico tende a elevar o preço do barril de petróleo devido ao temor de um possível envolvimento, ainda que indireto, de grandes produtores da commodity, como a Arábia Saudita e o Irã.
“Do ponto de vista de bolsa, é bom para (empresas) junior oils, que não têm um cap (teto) para venda de petróleo. Para a Petrobras (PETR3; PETR4), ainda fica meio indefinido porque, quanto mais alto o preço, maior é a pressão política para segurar o preço do derivado lá embaixo”, analisa Phil Soares, chefe de Análise de Ações da Órama.
“A guerra pode terminar daqui a uma semana ou durar meses. Isso não dá para mensurar, mas é um fator de preocupação”, adiciona Conde.
Quando os olhares se voltam para o cenário doméstico, as incertezas que impactam a reta final deste ano se concentram no risco fiscal. A promessa de zerar o déficit em 2024 têm sido questionadas pelo mercado. “Em junho, quando o novo arcabouço fiscal foi aprovado no Congresso, Haddad prometeu zerar o déficit em 2024 e até produzir superávit em 2025 e em 2026. Porém, isso não será por meio de corte de despesa, mas de aumento de receita. Para aumentar receita significa aumentar impostos e isso precisa passar pelo Congresso”, aponta o head de Renda Variável da Levante.
Onde estão as oportunidades?
Apesar de várias incertezas no radar, os especialistas citam alguns setores da bolsa que podem oferecer bons resultados aos investidores. As principais indicações setoriais ficam com commodities (sobretudo petróleo), bancos e energia elétrica.
Petrokas, da Quantzed, afirma que a carteira da casa está extremamente cautelosa com ativos de risco e a carteira fundamentalista, por sua vez, está defensiva, mantendo posições em setores de commodities e de bancos.“Entre esses papéis, os da Prio (PRIO3), antiga PetroRio, e do Bradesco (BBDC4) estão descontados. Já os da Suzano (SUZB3) estão próximos do nosso preço justo, mas é um papel que pode se beneficiar pela alta do dólar”, explica Petrokas.
O setor de bancos, explica o sócio da Quantzed, é mais defensivo porque as empresas costumam entregar bons resultados em praticamente qualquer cenário, sobretudo pela oferta de produtos de que dispõem. No caso de commodities, Petrokas avalia que a Suzano se beneficia com a melhora do setor de papel e celulose e também porque boa parte da receita da companhia está composta em dólar. Com os juros subindo nos Estados Unidos, a moeda ganha mais atratividade.
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“Já o setor de petróleo teve uma alta acompanhando a escalada dos preços da commodity no mercado internacional. O petróleo WTI abriu o mês de julho cotado a US$ 80 por barril e terminou setembro cotado a US$ 87 por barril”, acrescenta Petrokas, que tem preços-alvos de R$ 60 para Prio, R$ 21 para Bradesco e R$ 61 para Suzano.
Conde, da Levante, tem o setor de bancos como o de mais potencial no quarto trimestre. Ele destaca que essas empresas não avançaram em 2023 devido ao aumento da provisão para devedores duvidosos nos primeiro e segundo trimestres do ano e avalia que o risco de inadimplência e não pagamento de pessoas físicas e pequenas e médias empresas será menor na reta final de 2023.
“Essa provisão reduziu o lucro dos bancos, principalmente do Bradesco e do Santander (SANB11), e menos no Itaú (ITUB4) e no Banco do Brasil (BBAS3). Agora, os resultados do terceiro trimestre e, principalmente, do quarto trimestre, devem trazer uma provisão para devedores duvidosos menor e, portanto, o lucro dos bancos deve ser melhor e maior do que foram nos trimestres anteriores”, diz Conde.
O head de Renda Variável da Levante também destaca o setor de petróleo devido ao aumento do preço do barril, com destaque para Prio e 3R Petroleum (RRRP3), que devem continuar aumentando a produção no último trimestre do ano, e para a Petrobras, que deve continuar com uma forte distribuição de dividendos.
“O setor de energia elétrica também tende a performar bem nesse período por conta da redução da taxa de juros de longo prazo no Brasil, que deve voltar a cair por conta dos cortes da Selic, e também pelo calor excessivo nesse período está fazendo com que as pessoas consumam mais energia elétrica”, aposta Conde.