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- A Petrobras (PETR4) iniciou o ano em meio a uma certa descrença do mercado em relação aos papéis. Os investidores temiam que a estatal fosse vítima de ingerência política no Governo Lula (PT), assim como foi no Governo Dilma (PT)
- Entretanto, contrariando a maioria das previsões, em 2023 a Petrobras atravessa um ótimo momento. As ações PETR4 já acumulam uma valorização de 92% no ano e, na última quarta-feira (19), a empresa atingiu a marca histórica de R$ 525 bilhões em valor de mercado
- De acordo com os analistas consultados pelo E-Investidor, a diluição de grandes dúvidas sobre a companhia, alta do petróleo no mercado internacional e a eficiência operacional da petroleira foram os fatores responsável pelo alcance do patamar recorde de valor de mercado
A Petrobras (PETR4) iniciou o ano em meio a uma certa descrença do mercado em relação aos seus papéis. Com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na última eleição, em outubro de 2022, o sentimento era de que a estatal corria risco de reviver a ingerência política do governo Dilma Rousseff (PT).
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Nos mandatos da petista, a petroleira parou de repassar os aumentos dos preços do petróleo no mercado internacional para os combustíveis no mercado interno, como uma forma de controle da inflação – conduta que resultou em prejuízos bilionários à estatal. Essa memória amarga fez com que os papéis caíssem 8,47% no primeiro pregão após a eleição de Lula. Entre o segundo turno (30 de outubro de 2022) e o final do ano passado, a queda foi de 25%.
Entretanto, contrariando a maioria das expectativas, em 2023 a Petrobras atravessa um ótimo momento. As ações PETR4 já acumulam uma valorização de 92% no ano e, na última quarta-feira (19), a empresa atingiu a marca histórica de R$ 525 bilhões em valor de mercado. Os dados foram levantados por Einar Rivero, consultor financeiro.
Diluição de incertezas, alta do petróleo e eficiência
De acordo com Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, a diluição de algumas dúvidas pesou bastante a favor dos papéis e contribuiu para o recorde de valor de mercado.
No início do ano havia muitas incertezas em relação a qual seria a nova política de preços adotada pela companhia. Em maio, a nova estratégia foi anunciada e a leitura é de que a nova métrica veio melhor do que o esperado. “A companhia não está represando preços (como no governo Dilma). Existe, sim, uma defasagem política, mas não é tão ruim como o mercado pensou que poderia ser”, afirma Arbetman.
Os dividendos, muito criticados por Lula, também não sofreram cortes tão grandes na distribuição quanto o projetado. Antes, a Petrobras distribuía 60% do fluxo de caixa livre, agora passou a distribuir 45%. “Quando a companhia anunciou que estava estudando a troca da política de dividendos, bastante gente, inclusive nós, pensamos que a companhia poderia migrar para algo perto de 25%. Isso não aconteceu, então a queda foi bem mais suave do que poderia ser”, afirma Arbetman.
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Além da diminuição das incertezas, a alta do petróleo no exterior também contribuiu para impulsionar as ações da estatal. De junho deste ano até a última quinta-feira (19), o barril de petróleo Brent subiu 28%, enquanto o WTI, referência para a Petrobras, saltou 30%.
“A alta do preço do barril do petróleo no mercado internacional influencia diretamente as receitas da companhia. Essa alta foi motivada, principalmente, pelos cortes de produção por membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) e, mais recentemente, ao conflito no Oriente Médio”, afirma Lucas Serra, analista da Toro Investimentos.
Vitor Sousa, analista de setor elétrico e saneamento na Genial Investimentos, e Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, ressaltam ainda um bom trabalho feito pela Petrobras, que mostra eficiência nas operações – em especial, a partir de 2016, quando o governo Michel Temer instituiu o Preço de Paridade de Importação (PPI).
“O motivo para valorização recorde diz respeito ao bom trabalho realizado pela empresa desde 2016, com foco em investimentos no segmento de exploração e produção de petróleo, crescimento de produção nos campos do pré-sal, manutenção da paridade de preço em termos razoáveis e, claro, preços do petróleo em patamares muito interessantes”, diz Sousa. “Se você observar as reservas e o potencial de crescimento, é uma das companhias de petróleo mais baratas do mundo”, afirma.
Bom, mas ainda não o suficiente
Apesar dos avanços e resultados recordes apresentados pela Petrobras, os analistas consultados pelo E-Investidor ainda não recomendam a compra dos papéis. Arbetman, da Ativa, ressalta que ainda há uma grande dúvida no radar em relação ao qual serão os novos investimentos feitos pela estatal.
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“A Petrobras parou os desinvestimentos e está modelando o seu plano de investimento, que vai ser divulgado no final do ano”, diz Arbetman. “Então, ainda restam dúvidas e isso também mostra o porquê de nós seguirmos neutros no papel.”
No setor de petróleo, Arbetman tem preferência pelas ações da PRIO (PRIO3), uma “junior oil”, como são conhecidas as companhias mais jovens do setor, que vem chamando a atenção por aliar crescimento a custos baixos. “É um player mais neutro pra surfar a alta do petróleo. Quando eu falo ‘neutro’, quero dizer que não tem as interferências políticas que a Petrobras apresenta”, diz.
Soares, da Órama, também afirma que “por ora”, prefere permanecer neutro em PETR4. “Vemos ainda muita incerteza no que diz respeito à ingerência do governo”, ressalta. Para ele, PRIO e Enauta (ENAT3) são opções melhores pelo potencial de crescimento relevante e por serem empresas privadas.
“A PRIO já é uma companhia bastante grande, com mais de 100 mil barris de petróleo por dia, por isso tem um potencial de crescimento menor que Enauta. Mas é muito bem gerida e vem reduzindo seu custo de extração”, afirma Soares. “Já Enauta tem um potencial de valorização maior, com mais incerteza, já que o nível de extração está muito abaixo do que deveria.”
Entretanto, o especialista da Órama vê que a Enauta pode ter muito a ganhar com a troca de equipamentos obsoletos. “Acreditamos que o campo de Atlanta da Enauta pode chegar até acima dos 50 mil barris de petróleo por dia, mas necessita do novo equipamento que foi adquirido e deve entrar em operação no primeiro trimestre do ano que vem”, afirma Soares. O equipamento é o FPSO – as unidades de produção, armazenagem e transferência de petróleo.
Preferências
Sousa, analista de setor elétrico e saneamento na Genial Investimentos, também tem preferência pela PRIO e se mantém neutro em Petrobras. “A PRIO tem alcançado recordes de produção e tem perspectivas interessantes de crescimento tendo em vista aquisições recentes”, afirma. O preço alvo para PRIO3 é de R$ 60, potencial de alta de 20% em relação ao fechamento da última quinta-feira (19), de R$ 50,03.
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Por ultimo, Serra, da Toro Investimentos, vê a 3R Petroleum (RRRP3), também uma junior oil, como mais atrativa. Atualmente, o custo de extração da 3R é alto, de US$ 23,5 por barril. Entretanto, segundo o especialista, esse custo pode ser explicada pela entrada de novos ativos no portfólio, como Papa Terra e Potiguar.
“Quando novos ativos são incorporados, a empresa precisa realizar investimentos elevados e o crescimento da produção só é observado algum tempo depois”, afirma Serra. “À medida que a produção aumenta e a empresa consegue compreender melhor o funcionamento e a operacionalização dos ativos, a tendência é de que venhamos a observar uma redução expressiva no custo de extração. Isso pode trazer aumento de margens e destravar valor para a companhia.”
A não recomendação para Petrobras ocorre também no sentido de potencial de crescimento limitado. “Por mais que a estatal tenha reportado recordes mensais e trimestrais na produção de óleo e gás, o que levou as ações para as máximas históricas, não vemos um upside favorável que justifique a compra”, afirma Serra.
As ações PETR4 terminaram a última quinta-feira (19) em queda de 0,55%, aos R$ 38,31. Os papeis PETR3, por sua vez, desvalorizaram 0,67%, para R$ 41,28.
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