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Analistas comentam a indicação de Joaquim Silva e Luna para o comando da Petrobras

A nomeação ainda precisa ser aprovada pelo conselho administrativo da companhia

Analistas comentam a indicação de Joaquim Silva e Luna para o comando da Petrobras
General Joaquim Silva e Luna e o presidente Jair Bolsonaro (FOTO: Mauro Pimentel/AFP)
  • Na segunda-feira (22), as ações da Petrobras, PETR3 e PETR4, encerraram o dia com queda de 20,48% e 20,71%
  • A estatal chegou a perder R$ 99,6 bilhões em valor de mercado, incluindo a parcela da BR Distribuidora (BRDT3)
  • Para Vladimir Maciel, o ruim não é Joaquim Silva e Luna em si, e sim a ingerência de Bolsonaro, que colocou a pá de cal na gestão econômica de seu governo

Indicado para ser o novo presidente da Petrobras na noite de sexta-feira (19), Joaquim Silva e Luna é um general da reserva, ministro da Defesa durante o governo Michel Temer e que, atualmente, é diretor da Itaipu Binacional.

A troca no comando da estatal aconteceu após o presidente Jair Bolsonaro demitir o CEO Roberto Castello Branco. O líder do executivo reclamou dos preço dos combustíveis praticados pela companhia. A nomeação para o cargo mais alto da Petrobras ainda precisa da aprovação dos membros do conselho da empresa.

Na semana passada, a Petrobras subiu pela terceira vez o valor do combustível para R$ 2,58 por litro. Para efeitos de comparação, a cotação média no início do ano era R$ 2,02. A gasolina também foi reajustada pela quarta vez, para R$ 2,48 por litro.

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Em resposta aos aumentos, Bolsonaro zerou o imposto federal sobre o diesel e o gás de cozinha por dois meses a partir do dia 1º de março. A medida tem sido vista como pano de fundo para tentar travar uma greve dos caminhoneiros no país.

A troca no comando da estatal não foi bem vista pelos especialistas do mercado financeiro. Nesta segunda-feira (22), as ações da Petrobras, PETR3 e PETR4 encerraram o dia com queda de 20,48% e 20,71%, respectivamente. Com isso, a estatal chegou a perder R$ 99,6 bilhões em valor de mercado, incluindo a parcela da BR Distribuidora (BRDT3).

Segundo Vladimir Maciel, coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica, o ruim não é a indicação de Silva e Luna, mas a ingerência de Bolsonaro, que colocou a pá de cal na gestão econômica de seu governo. “Na hora que o presidente faz a mudança, fica claro que o governo vai se afastar da agenda liberal de modernizar o Brasil e vai ser mais do mesmo, igualzinho ao que criticavam de Dilma Rousseff, ou pior”, diz.

O E-Investidor conversou com analistas do mercado financeiro para saber o que eles esperam da gestão de Joaquim Silva e Luna na Petrobras, caso o conselho aprove a nomeação do militar.

Expectativas

A gestão Castello Branco vinha sendo bem elogiada pelo mercado financeiro, justamente porque o executivo vinha fazendo um bom trabalho à frente da companhia com a venda de ativos e os reajustes recorrentes no preço dos combustíveis, sempre seguindo as regras do mercado internacional.

Para Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama, Castello Branco é um dos dos principais executivos brasileiros, respeitado no Brasil e no exterior. “Ele estava conduzindo com excelência o processo de desalavancagem e desinvestimentos da empresa, com o objetivo de restabelecer as finanças da companhia. É uma perda, sem dúvida”, diz.

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Por outro lado, Silva e Luna é um militar de carreira com experiência na gestão pública. Entretanto, sua capacidade fica em xeque tendo em vista a forma com que foi nomeado. O fato é que o novo presidente terá que mostrar ao mercado a que veio, e fica a dúvida se dará continuidade ao trabalho de Castello Branco.

“Silva e Luna é um militar, mas apresenta um perfil conciliador. O que eu acho que ele vai fazer é cumprir as ordens do presidente, como um bom militar, só que de uma forma mais política. De fato vai mudar a política de preços”, diz Maciel.

Um dos problemas da indústria petrolífera no Brasil é o monopólio da distribuição e do refino, que fica sob responsabilidade da Petrobras. Depende-se de uma única empresa que segue regras do mercado internacional, mas na visão de alguns tais normas prejudicam a população. Ao mesmo tempo, há quem perceba que a ingerência política pode ser ruim para a economia nacional, quebrando a confiança dos acionistas e do mercado financeiro.

Outro possível problema, segundo Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, é que Joaquim Silva e Luna não é um executivo do setor de petróleo. “Este segmento tem todas particularidades, tem uma complexidade para exploração, refino e distribuição. E é extremamente competitivo no mercado externo. Com isso, o ideal seria que o presidente da maior empresa petroleira do Brasil conhecesse alguma coisa do setor, o que não é o caso” diz.

Na opinião de Maciel, ou estatiza-se 100%, sem a opinião de acionistas, ou se privatiza a Petrobras completamente. Segundo ele, o meio termo já não funciona mais.

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Segundo Anderson Meneses, CEO da Alkin Research, por mais que Silva e Luna possa ser um bom nome, terá que provar que é tão bom quanto Castello Branco. “Se não, o executivo continuaria à frente da Petrobras por conta do bom trabalho feito por meio da redução das dívidas, obtendo recorde de lucro sob seu comando. A grande dúvida é se o novo mandatário dará continuidade aos trabalhos do executivo, então é difícil ver algo positivo nessa mudança”, conclui.

Em entrevista ao Estadão no sábado (20), Silva e Luna disse que é necessário equilibrar as atenções entre os interesses dos acionistas e investidores da empresa e os da sociedade, que sente os reflexos das medidas da empresa, como por exemplo, os reajustes nos combustíveis e do gás de cozinha.

O mandato de Castello Branco na Petrobras vai até o dia 20 de março.

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