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- Nos últimos dias, os rumores de uma possível substituição do atual presidente da Petrobras aumentaram a preocupação do mercado com o risco político
- Já na próxima quinta-feira (30), a Petrobras vai realizar uma Assembleia Geral Extraordinária para revisar alguns pontos do Estatuto Social da empresa
O risco de interferência política na governança da Petrobras (PETR3; PETR4) voltou a assombrar o mercado diante do descontentamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o preço dos combustíveis, aumento do valor destinado para investimentos e possíveis mudanças no Estatuto Social da estatal.
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Na quinta-feira (23), a companhia publicou o seu Plano Estratégico de 2024-2028 que incluiu US$ 102 bilhões para investimentos. O aumento de quase 30% no capex (recursos voltados para os investimentos) atendeu aos pedidos do governo para o CEO da estatal, Jean Paul Prates.
A última semana foi marcada por eventos que atraíram mais uma vez a atenção do mercado para a petroleira. Os rumores de uma substituição do presidente da companhia aumentaram e acenderam um alerta entre investidores. Integrantes do governo estariam descontentes com o trabalho do atual presidente da Petrobras e conversando sobre uma possível substituição, conforme apurou o Estadão. Para o Planalto, Prates ainda não deu função pública à Petrobras, como prometeu a campanha de Lula em 2022.
Na última terça-feira (21), o presidente Lula descartou a possibilidade de uma possível substituição durante reunião com membros do governo e com Prates, mas deu o seu recado. Segundo informações do Broadcast, o chefe do Planalto demonstrou desconforto com os preços dos combustíveis e com as discussões do presidente da Petrobras com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, sobre o tema. O assunto, segundo Lula, deveria ser debatido internamente.
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Os preços da gasolina praticados hoje nas refinarias da Petrobras estão 16,3% mais caros em relação ao preço do mercado internacional, segundo cálculos da Genial Investimentos. Já o preço do Diesel segue 7,1% maior do que o valor praticado no exterior. Os motivos para essa diferença refletem a queda pela oitava semana consecutiva do preço internacional da gasolina no Golfo do México e a manutenção do dólar abaixo dos R$ 5.
“É possível que tenhamos em breve um corte nos preços de combustíveis pela Petrobras para alinhar os preços nacionais aos internacionais, aliviando um pouco a pressão interna dos preços no País, havendo espaço hoje de R$ 0,50 por litro na gasolina e R$ 0,28/litro no diesel, segundo nossas estimativas”, informou a corretora em relatório publicado no último dia 20.
Mas a pressão do Poder Executivo não se limitou apenas à precificação dos combustíveis. O governo exigiu que o plano de estratégia da Petrobras incluísse a retomada dos investimentos, considerados importantes pela gestão. Os pedidos foram atendidos. Na noite de quinta-feira (23), a estatal divulgou o seu novo plano e apresentou ao mercado que pretende destinar US$ 102 bilhões para investimentos. O volume, embora 30% superior ao valor do plano anterior, veio dentro das expectativas do mercado, mas trouxe sinais de alerta ao investidor.
“Esse aumento do capex já mostra uma maior influência política nas decisões estratégicas da companhia, mas não diria que o risco político aumentou por causa desse plano”, diz Ruy Hungria, analista de investimento da Empiricus. “Esse é apenas mais um sinal, que se junta a outros, como por exemplo os rumores de troca do CEO e mudanças no estatuto social”, acrescentou o analista.
Na próxima quinta-feira (30), a Petrobras deve realizar uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) para revisar alguns pontos do Estatuto Social da companhia. Entre os itens que devem ser discutidos estão a criação de uma reserva de remuneração do capital e a revisão da política de indicação de membros para o alto escalão de governança da companhia.
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Se os pontos forem aprovados, o alerta para os riscos políticos da estatal ficará mais evidente para os investidores. “Vai trazer dúvidas aos detentores da ação e inclusive pode afastar novos acionistas que pensam duas vezes antes de tomar posição na empresa em função do risco político”, avaliou Anderson Silva, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital.
Prates e os interesses dos acionistas
As cobranças do governo e a desconfiança do mercado de possíveis interferências políticas exigem do atual presidente estratégia para equilibrar “todos os pratos” sem elevar o risco político para as ações da Petrobras. Para alguns analistas, Prates tem conseguido cumprir essa função, mesmo com as recentes mudanças na política de preço dos combustíveis e de dividendos.
“Prates manteve uma política de remuneração aos acionistas com distribuição de 45% do fluxo de caixa livre. O mercado esperava menos do que isso. Houve também a manutenção do parágrafo do estatuto social que protege contra a venda de combustíveis no prejuízo”, diz Mateus Haag, analista da Guide Investimentos.
A postura do CEO da estatal, na avaliação do especialista, foi um dos responsáveis pela valorização das ações em 66,52% (PETR3) e 82,18% (PETR4) no acumulado do ano até o fechamento do pregão de segunda-feira (27). Portanto, a substituição retiraria todos os votos de confiança dos investidores em relação à nova gestão da petroleira, especialmente com a divulgação do novo Plano Estratégico.
Vale o investimento?
O novo Plano Estratégico da companhia estima uma distribuição de dividendos de US$ 40 bilhões a US$ 45 bilhões regulares e de US$ 5 bilhões a US$ 10 bilhões para os proventos extraordinários. “Número interessante, mas não suficiente para que a notícia signifique um gatilho de valor para as ações da empresa”, informou Vitor Souza, analista da Genial Investimento. Por essa razão, a corretora mantém uma recomendação de neutra para o papel, com um preço-alvo de R$ 38.
A Ágora Investimentos, por sua vez, avalia que a companhia permanece atrativa ao investidor diante das expectativas de retornos elevados no curto prazo. “Como o plano de investimento está dividido nos próximos cinco anos e sem um aumento significativo para 2024, entendemos que a Petrobras deve pagar dividendos bem elevados”, afirma Ricardo França, analista da casa. Com essa visão, a corretora mantém recomendação de compra das ações da Petrobras, com um preço-alvo de R$ 38.
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A XP reiterou compra das ações diante da distribuição de dividendos ainda atrativa no curto prazo, mas alertou para a permanência dos principais riscos na tese da Petrobras. “Consideramos o plano como uma mudança ligeiramente negativa em comparação com o plano anterior”, informaram os analistas da XP em relatório. Já a Ativa mantém uma recomendação neutra com um preço-alvo de R$ 36.