- No dia 2 de janeiro, primeiro pregão de 2023, as ações da Petrobras (PETR4) terminaram a sessão com uma derrocada de 6,45%, aos R$ 22,92
- Por trás da queda, estavam os temores do mercado em relação à eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
- No entanto, nove meses após a posse do presidente Lula, as ações PETR4 acumulam alta de 73%, aos R$ 34,62
No dia 2 de janeiro, primeiro pregão de 2023, as ações da Petrobras (PETR4) terminaram a sessão em baixa de 6,45%, aos R$ 22,92. Por trás da queda, estavam os temores do mercado em relação à eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e os possíveis efeitos nas estatais.
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A principal preocupação dos investidores era de que a empresa fosse usada como instrumento para controle artificial da inflação no País, aos moldes do que ocorreu durante o governo Dilma Rousseff (PT). Na época, a Petrobras parou de repassar a alta dos preços do petróleo no mercado internacional para os combustíveis, no mercado doméstico. Ou seja, a petroleira absorvia os prejuízos, o que resultou em alto endividamento.
Para reestabelecer a empresa, foi implantada no governo Michel Temer (MDB) a política de “Preço de Paridade Internacional” (PPI) – ou seja, a Petrobras passou a definir os preços dos combustíveis vendidos no mercado interno com base nos custos de importação do produto. Entravam na conta fatores como a flutuação do preço de barril de petróleo no exterior e a cotação do dólar. Em resumo, a ideia era de que a petroleira não saísse no prejuízo na venda dos combustíveis.
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O PPI foi bastante criticado por Lula, que antes mesmo da reeleição sugeria a extinção do mecanismo. “Nós não vamos manter o preço da gasolina dolarizado. É importante que o acionista receba seus dividendos quando a Petrobras der lucro, mas eu não posso enriquecer o acionista e empobrecer a dona de casa que vai comprar um quilo de feijão e paga mais caro por causa da gasolina”, disse o presidente, em entrevista à Rede RDR de rádio do Paraná, em fevereiro deste ano.
Também havia críticas do líder do PT em relação à distribuição de dividendos da estatal. “É uma loucura o que nós estamos fazendo de dividendos. Petrobras não é um patrimônio apenas das pessoas que são acionistas”, disse o presidente em entrevista à Rádio BandNews FM, em março deste ano.
No entanto, nove meses após a posse do presidente Lula, as ações PETR4 acumulam alta de 73%, aos R$ 34,62.
Mudanças ‘radicais’ ficaram no discurso
De acordo com Flávio Conde, analista da Levante Ideias de Investimentos, alguns fatores culminaram na alta das ações no ano. O principal deles é de que parte das “ameaças”, como o total abandono ao PPI e um corte profundo nos dividendos, ficaram apenas no discurso.
Em maio, a Petrobras adotou uma nova política de preços. Em comunicado, a estatal esclareceu que a nova precificação levará em consideração os preços praticados por outros fornecedores e o custo marginal da petroleira. Apesar da mudança, os valores não ficaram tão distantes dos valores no PPI. “O governo diz que abandonou o PPI, mas no final só criaram um espaçamento maior entre os reajustes dos preços de combustíveis”, afirma Conde.
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E apesar de o governo também ter mexido na política de distribuição e dividendos, a magnitude foi bem menor do que a prevista pelos investidores.
Até julho deste ano, a Petrobras distribuía 60% do fluxo de caixa livre. Agora, a estatal vai distribuir 45%, patamar considerado ainda atrativo e acima das expectativas do mercado, que esperava um corte para 25%.
“Vale ressaltar que essa regra dos dividendos não foi abandonada porque o governo deve receber em média entre R$ 6 bilhões e 8 bilhões por trimestre com os proventos da Petrobras. Vai ajudar o Executivo a cumprir a meta fiscal”, diz Conde.
Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos, também vê essas surpresas positivas como catalisadores para a alta das ações da Petrobras no ano. “A condução da nova gestão da companhia surpreendeu positivamente o mercado, com anúncios de política de preços e dividendos vindo melhores do que o esperado. É uma empresa que continua com valuation atrativo e estes eventos animaram os investidores”, diz a analista.
Por último, a subida do petróleo no ano também ajudou a impulsionar os papéis. A cotação do barril de Brent subiu mais de 15% no ano, em função da diminuição da oferta feita pela Arábia Saudita e Rússia.
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“A Petrobras segue em tendência de alta, acompanhando também a alta do petróleo. Se a companhia continuar mantendo os reajustes nos preços conforme nova política de preços, essa valorização pode se manter para os próximos meses”, diz Sene.
Cautela predomina, mas visão é positiva
Mesmo com o cenário mais calmo, a cautela em relação aos ativos continua. Segundo dados do Broadcast, as recomendações “neutras” para as ações ainda superam as de compra. Em um universo de recomendações de 10 analistas ao qual o terminal têm acesso, sete estão neutros e apenas três indicam a compra do ativo. O preço-alvo médio é de R$ 35,93, isto é, uma alta de apenas 5% em relação à cotação atual.
Conde reconhece que os papéis da Petrobras podem ter um bom desempenho nos próximos meses, mas segue com indicação neutra para PETR4. A principal motivação para a recomendação não são os resultados, considerados bons pelo especialista, mas o fator político.
“Hoje você não tem outra empresa grande, com liquidez, pagando um retorno em proventos tão alto quanto a Petrobras”, afirma o analista da Levante. “Mas a gente ainda tem receio que em algum momento, se o preço do petróleo disparar para US$ 110, por exemplo, a paridade possa ser abandonada por um tempo e isso cause redução nos resultados.”
Sene, da Nova Futura Investimentos, também não vê a janela atual como uma boa oportunidade de entrada, mesmo que tenha perspectiva positiva para os papéis da estatal. “Eu aguardaria um timing melhor, até porque já tivemos sete semanas consecutivas de alta. Aguardar uma realização para nova entrada seria interessante, assim o investidor entraria com um preço mais atrativo.”
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O BTG Pactual, por sua vez, está na ponta positiva, com recomendação de compra para PETR4. O ativo apareceu na carteira recomendada do banco para setembro. Na justificativa, a instituição afirma que os aumentos dos preços dos combustíveis promovidos pela Petrobras “retirou” uma das últimas razões para manter a cautela em relação à tese de investimento.
“Havíamos subestimado os mecanismos de defesa oferecidos pelo (aprimorado) estatuto da Petrobras, bem como a proteção da lei das empresas estatais”, disse o BTG, no relatório. “Agora acreditamos (e esperamos) que a alocação de capital da Petrobras não possa ser tão facilmente modificada, protegendo os resultados, preservando seu balanço enxuto e melhorando a visibilidade de que os dividendos permanecerão fortes por mais tempo.”
*A reportagem foi atualizada no dia 29 de setembro de 2023 para corrigir o valor das ações. O texto original informava uma alta acumulada de 40% nas ações PETR4, mas o correto é uma valorização de 73% em 2023.
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