- O consenso entre os analistas é de que 2024 seja um ano “mais positivo” para o varejo, uma vez que a expectativa é de que o BC continue a diminuir a Selic
- Entretanto, o tamanho dessa recuperação ainda é incerto. Isto porque a Selic deve cair, mas continuar em um patamar elevado. Da mesma forma, o endividamento das famílias segue próximo às máximas históricas
- Varejo ligado a bens duráveis deve continuar sofrendo, enquanto varejo alimentar e alimentar seguem entre os destaques positivos
Os cortes previstos nos juros em 2024 ainda não vão ser a “luz no fim do túnel” para algumas varejistas da Bolsa. Empresas ligadas a bens duráveis – principalmente eletrodomésticos e eletrônicos – devem continuar enfrentando dificuldades ao longo do ano. É o caso de nomes como Magazine Luiza (MGLU3) e Casas Bahia (BHIA3).
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“Essas companhias, provavelmente, ainda vão sofrer até o segundo semestre de 2024”, afirma Flávia Meireles, analista da Ágora Investimentos. A explicação para essa conjuntura mais difícil para o varejo de bens duráveis decorre do nível de endividamento das famílias brasileiras.
De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), 68,7% das famílias brasileiras estão endividadas, um dos maiores porcentuais da história. Isto significa que o consumo de itens não essenciais, de preços mais altos, como eletroeletrônicos, e que demandam maior acesso ao crédito, continuará a ser adiado.
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Na outra ponta, varejistas de produtos cujos tíquetes médios são menores, como as de vestuário, de produtos essenciais – varejo alimentar – e as relacionadas à alta renda, devem se destacar positivamente. “Essas, sim, devem se recuperar mais rápido num contexto de menor sensibilidade às taxas de juros”, diz a analista da Ágora Investimentos.
Leonardo Piovesan, CNPI e analista fundamentalista da Quantzed, tem uma visão parecida. “Dá para esperar um ano melhor para o varejo do que foi 2023, mas ainda não vejo um cenário muito animador. Os juros ainda estão relativamente elevados, o que restringe o consumo. Até estamos passando por um ciclo de melhora do endividamento das famílias, mas o nível desse endividamento segue alto”, afirma. “O varejo de vestuário pode se recuperar mais rápido, mas o varejo de eletrônicos deve demorar mais para evoluir positivamente”, diz.
Vale lembrar que, nos últimos anos, o varejo foi “amassado” pelos efeitos da subida de juros no país. Entre janeiro de 2021 e setembro de 2022, a taxa básica de juros saiu de 2% para 13,75% ao ano. Paralelamente, o Índice de Consumo (ICON), formado por varejistas, caiu 44%. Já o endividamento das famílias saltou de 58,7% para 77%, o maior patamar registrado pela série histórica da PEIC.
- Veja também: A Casas Bahia sairá da crise em 2024?
A leve recuperação do índice veio somente no ano passado, com os primeiros cortes promovidos pelo BC na Selic. A taxa saiu de 13,75% ao ano, em agosto, para os atuais 11,75 ao ano, e o ICON subiu 7%. Agora, o consenso apontado pelo Boletim Focus é de uma Selic de 9% até o final de dezembro.
Principais recomendações
Os analistas consultados pelo E-Investidor elencaram suas principais recomendações no varejo para 2024. Em comum, as varejistas de vestuário, de alimentos e as menos correlacionadas aos juros. Veja a seguir as “top picks” do setor:
Vivara (VIVA3)
A empresa brasileira de fabricação de joias está entre as principais recomendações da Ágora Investimentos e da Toro Investimentos. Principalmente pela capacidade de fidelizar clientes às duas principais marcas, Vivara e Life, pela expansão de lojas e pela expectativa de aumento das receitas.
“A marca Vivara é a mais tradicional, focada em clientes com mais de 30 anos que procuram produtos de qualidade, de luxo e sofisticados, embora ainda com preços acessíveis. A marca Life foi lançada em 2011 e atende um público mais jovem e casual e funciona como uma porta de entrada para o consumo de joias, tendo em vista os preços mais baixos”, afirma Meireles, da Ágora.
“A empresa segue desempenhando com maestria seu plano de expansão de lojas e penetração da marca Life. Além disso, se mostra resiliente caso o ambiente de aversão ao risco volte a predominar sobre o mercado”, diz Gabriel Costa, analista da Toro Investimentos.
Assaí (ASAI3) e Carrefour (CRFB3)
O varejo de alimentos também aparece nas principais recomendações, com a expectativa de diminuição da inflação alimentar em 2024. Os papéis do Assaí e do Carrefour estão entre as indicações da Ágora Investimentos. Já para a Toro, a recomendação de compra se concentra nos papéis do Assaí.
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“Gostamos também da tese de Assaí, que deve se beneficiar em 2024 pela recomposição da inflação do canal alimentar, como já observamos no grupo de alimentos e bebidas nos últimos dois meses, Ademais, a empresa possui boas perspectivas de desalavancagem e o ciclo de cortes na Selic pode beneficiar os resultados líquidos”, afirma Costa, da Toro.
“O Carrefour é o maior grupo de varejo alimentar do País, atua em diversos formatos para atender a diferentes segmentos. Tem o atacadão, o San’s Club, que é o clube de compras, e tem as operações de e-commerce, hipermercado, supermercado, e também aquelas lojas menores, do Carrefour Express. Continuamos vendo o Carrefour na liderança do setor de varejo de alimentos”, ressalta Meireles, da Ágora.
Guararapes (GUAR3), Lojas Renner (LREN3) e C&A (CEAB3)
Hulisses Dias, analista CNPI e mestre em finanças, recomenda players de varejo de vestuário para 2024. Nesse subsetor, os papéis do Grupo Guararapes (GUAR3), dono da Riachuelo, da Lojas Renner (LREN3) e da C&A (CEAB3) estão no centro das recomendações para surfar a queda da Selic e na melhora do consumo. “Estão baratas relativamente ao preço”, diz o especialista.
Já Piovesan, da Quantzed, concentra a recomendação dentro do varejo de vestuário na Guararapes. “A empresa foi muito afetada pela alta de juros, mas têm conseguido melhorar o operacional e gerar bastante caixa”, destaca. “A companhia ainda tem uma dívida elevada. Durante o ano, deve se desalavancar e reduzir o risco.”
Multilaser (MLAS3)
A Multilaser (MLAS3), líder em acessórios de informática, também está entre as principais recomendações de compra de Piovesan, da Quantzed. A companhia precisou reduzir o tamanho da operação, já que o varejo, como um todo, viu o mercado diminuir. Contudo, está conseguindo gerar caixa.
“Não tem risco de quebrar. É uma empresa que tinha bastante estoque dentro de casa e está vendendo esse estoque com margens ruins, mas está gerando bastante caixa e se desalavancando”, explica Piovesan.
Além disso, a possível taxação de importações abaixo de US$ 50 pode ter efeito positivo sobre a Multilaser, dado que os produtos vendidos pela companhia competem com os importados de regiões como a China. “Uma taxação desses produtos iria ajudar bastante a Multilaser e é algo que o governo está discutindo para implementar”, afirma o analista da Quantzed.
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